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15/10/18

HISTÓRIA DE ROMA: AS RELIGIÕES NO IMPÉRIO - O CRISTIANISMO



HISTÓRIA DE ROMA: O CRISTIANISMO

«Eles devem o seu nome a um certo Cristo que foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, no reinado de Tibério.» já nesta primeira referência ao cristianismo, devido a Tácito, se percebe a razão por que a doutrina cristã era mais forte do que os sistemas religiosos concorrentes.
Havia outras religiões com a sua origem num acontecimento de origem divina ocorrido na noite dos tempos. Mas Cristo era «o Filho do Homem»; o milagre da sua ressurreição deu-se durante o reinado de Tibério, no proconsulado de Pôncio Pilatos. A grande promessa de uma beatitude eterna para aqueles que seguissem Cristo causou nos espíritos muma impressão irresistível. Além disso, havia outra coisa que deve ter exercido uma influência muito mais profunda do que hoje podemos imaginar: Jesus podia regressar à Terra a todo o momento «para nela julgar os vivos e os mortos». A força visionária do Apocalipse de S. João e a inabalável convicção dos evangelistas elevaram a fé dos primeiros cristãos a um ponto tal que lhes permitia ultrapassar todos os perigos terrestres. O Mestre estava sempre perto do crente, e não só no exercício do culto, como no seio da comunidade. O cristianismo oferecia o «poder do Espírito Santo» e a proximidade de Deus; as outras religiões de mistério apenas facultavam uma experiência religiosa efémera, só possível, de tempos a tempos, por intermédio de «operações sacramentais».
Santo Agostinho chamou a atenção para o facto de a religião cristã nunca ter deixado de existir desde a origem do género humano.
Cristo proclamara por várias vezes a sua fidelidade à lei dos Hebreus. O primeiro mandamento de Jesus é também o de Israel: «Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder». É o maior e o primeiro mandamento. A lei do amor ao próximo fora formulada no tempo de Moisés; Cristo deu-lhe simplesmente um aspecto mais positivo: «Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós próprios… O meu mandamento é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei a vós.»
O que Jesus censurara aos fariseus e provocara o ódio destes era o seu excessivo apego à letra da lei e a sua falta de profundidade espiritual. Deus de quem tinham feito uma entidade longínqua e vingadora, foi apresentado por Jesus como o Pai infinitamente bom e preocupado com o mais ínfimo de todos os seus.
Os apóstolos escolhidos por Cristo tinham começado imediatamente as suas pregações.
O sinédrio judaico, que pretendera e conseguira que Jesus Cristo fosse condenado, tentou opor-se à difusão da sua religião e organizou perseguições. O diácono Estêvão foi selvaticamente lapidado pelos Judeus poucos meses após o Cálvário. Foi o primeiro mártir.
Entre os perseguidores dos primeiros cristãos distinguia-se um judeu chamado Saul pelos seus irmãos de raça e Paulo pelos greco-romanos. Um dia quando se dirigia a Damasco converteu-se milagrosamente e desde essa altura tornou-se um dos mais ardentes propagandistas da fé cristã. Fundou em Corinto uma comunidade que depressa haveria de ter em Roma uma comunidade-filha. Quando veio a Roma, veio como prisioneiro, enviado pelas autoridades romanas em Jerusalém, a fim de ser julgado pelo imperador, após nosw judeus ortodoxos terem ameaçado lapidá-lo por haver introduzido pagãos no templo.  Segundo a tradição Paulo morreu mártir, tendo sido decapitado. S. João, o autor do quarto Evangelho, do Apocalipse e de três epístolas, evangelizou sobretudo na Ásia Menor. Foi preso e supliciado no reinado de Domiciano, mas morreu de morte natural em Éfeso, já de avançada idade. Além de se referirem aos apóstolos, os escritos do Novo Testamento mencionam o nome de dezenas de eclesiásticos e de laicos que, sob a direcção de bispos instalados nas grandes cidades, difundiram a doutrina de Cristo.
O Império Romano oferecia um terreno quase preparado para a expansão do cristianismo. A pax romana permitia a livre circulação por todos os lugares e por toda a parte os homens esperavam da religião alguma coisa mais que as cerimónias de um culto oficial em que nem mesmo acreditavam aqueles por quem era celebrado. As religiões orientais, centradas no Além, tinham conhecido uma grande voga em Roma e no império.
O cristianismo correspondia às aspirações da alma humana, à sua inquietude perante a morte, ao seu desgosto em face das torpezas morais do paganismo. Como proclamava a igualdade dos homens perante Deus, encontrou os seus primeiros adeptos entre aqueles a quem a sociedade humilhava – os pobres - e aqueles a quem ela considerava como animais – os escravos. Estes últimos tomaram, acaso pela primeira vez, no exercício do culto e na vida comunitária, consciência da sua dignidade humana. A base da doutrina é a mensagem de Cristo dirigida a todos os homens, ricos ou pobres, escravos ou livres. A salvação é oferecida a todos.
Foi por isto que os primeiros cristãos recusaram com uma firmeza quase sobre-humana, trair o seu Senhor, e Salvador. Os oprimidos impressionaram-se. O martírio era o seu triunfo, a alegria de poderem sofrer com e por Cristo e a perspectiva de uma beatitude eterna tornaram-nos insensíveis a todas as dores.
Assim a nova religião operou maravilhas. E o facto causou nos pagãos uma impressão indelével. Segundo a expressão de Tertuliano “o sangue dos mártires foi a semente da Igreja”. Uma força interior habitava estes mártires: a que é dada pela Fé e pelo amor ao próximo. A religião cristã dava esperança e consolação a todos aqueles que se dobravam sob o peso das dificuldades da sua existência e das suas faltas. Quando se sabe quanto os oprimidos tinham de sofrer nesse tempo, compreende-se o atractivo de uma religião que permitia a estes infelizes elevarem-se a uma nova visão do mundo e lhes dava uma razão de viver e de morrer.
Em contrapartida, durante muito tempo, os ricos e os poderosos permaneceram cépticos relativamente ao cristianismo. O preceito «ama o próximo como a ti mesmo» não os atraía.