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14/03/20

11 A ARTE GÓTICA - Arquitetura


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A ARTE GÓTICA
Arquitetura

 Em grande medida, a arquitetura gótica vai continuar os aperfeiçoamentos havidos com a arquitetura românica, já que as plantas, as fachadas e as estruturas são basicamente as mesmas ou muito parecidas.
Muitos são os edifícios que, por terem sido construídos no período de transição ou por não apresentarem diferenças significativas, são designados por romano-góticos.
Contudo, à medida que os edifícios reduzem as áreas de parede e aumentam as de janela, ou se dá uma predominância de linhas verticais em relação às horizontais, ou os espaços ganham altura e se enchem de luz e de cor (através dos vitrais), estamos perante algo extremamente inovador e surpreendente.
Além disso, a evolução da arquitetura gótica vai revelar uma curiosa particularidade: afasta-se notoriamente das influências greco-romanas e bizantinas, presentes no românico e antes dele.
No entanto, antes dessa evolução, a arquitetura gótica havia surgido com uma inovação técnica que passou a constituir um dos seus principais distintivos: o arco em ogiva (também designado por ogival, quebrado ou apontado).
Tal arco foi utilizado pontualmente a partir de 1100, no contexto do românico cisterciense da Borgonha, em França. Surgiu da necessidade de elevar os quatro arcos dum tramo retangular à mesma altura
Mais tarde, quando generalizada a sua aplicação, o arco em ogiva permite dinâmicas espaciais e estéticas nunca antes vistas, dada a diversidade formal que surge nas novas aberturas e abóbadas.
Antes, do cruzamento de dois tramos circulares surgia a abóbada de arestas, com quatro panos que pouco destaque tinham num teto.
Agora, do cruzamento de tramos ogivais surge a abóbada de cruzaria (ou cruzata de ogivas), cujos oito panos, muitas vezes rematados por nervuras, marcam uma forte presença.
Com o passar do tempo, as tetos enchem-se de nervuras, com uma função simultaneamente estrutural e decorativa.
São as abóbadas de terceletes, com as variantes reticulada, estrelada, em leque ou com pingentes, consoante as formas que as nervuras apresentam.
Os novos arcos e abóbadas dirigem a pressão de forma mais eficaz para as pilastras e os contrafortes.
 Este aspeto vai permitir que se construam espaços mais amplos e, sobretudo, mais altos.
No entanto, com abóbadas construídas em níveis mais altos e com menos volume de parede, para sustentar a pressão exercida para o exterior, surge um novo contraforte, formado por botaréus e arcobotantes.
Botaréus são contrafortes destacados das paredes, mas a estas adossados parcialmente.
 Arcobotantes são como que meios-arcos que transferem a pressão das abóbadas para os botaréus.
Existem botaréus sem arcobotantes, mas outros há com um ou dois níveis de arcobotantes.
Contudo, em enormes catedrais, chega a haver uma segunda fila de botaréus e arcobotantes que reforça a primeira, num elaborado conjunto de muletas de apoio.
Construir um esqueleto tão complexo só foi possível com técnicas que envolviam sofisticados sistemas de guindastes e roldanas.
Isso, juntamente com dinheiro, rigorosas logísticas e planificações, foram a chave do sucesso destas construções.

Arquitetura religiosa
Entre os edifícios da arquitetura religiosa gótica destacam-se as catedrais, igrejas da sede de uma diocese.
Estas ostentam orgulho, pela capacidade que as suas formas e dimensões têm de se afirmar e surpreender.
O orgulho era de todos: dos mais pobres, por nelas trabalharem; dos mais ricos, porque para elas contribuíam com donativos; dos religiosos, por verem as casas de Deus plenas de espiritualidade; do rei, por ver o seu reino engrandecido com estes edifícios.
As catedrais eram erguidas nos centros urbanos, sendo que as suas dimensões se sobrepunham às das restantes construções.
Em torno desse centro religioso posicionavam-se os edifícios de cariz político e económico que, no seu conjunto, eram responsáveis pela dinâmica social da cidade.
A ideia inicial, ou projeto genérico, partia do bispo ou do rei, que logo se fazia rodear de experientes mestres-pedreiros, que eram simultaneamente arquitetos e engenheiros da obra.
De tal modo esses mestres-pedreiros foram relevantes, que os nomes de muitos deles ficaram para a história.
Esse aspeto mostra o reconhecimento do mérito que, gradualmente, se começa a dar a indivíduos exteriores ao clero e à nobreza.
A construção de uma catedral gótica obedecia a rigorosos cálculos matemáticos e geométricos, passados de forma exemplar para a pedra, sendo que tal trabalho só era possível por indivíduos cultos e muito bem preparados.
Tal como sucede com as grandes igrejas românicas, as catedrais góticas apresentam uma planta basilical em cruz latina, com a entrada virada para poente e a cabeceira para nascente.
Formada por três ou cinco naves, apresenta um transepto normalmente pouco extenso.
Por norma, a abside é longa, dando continuidade às naves, podendo apresentar duplo deambulatório.
As pilastras tornaram-se mais finas e mais altas, dando a ideia de continuidade entre as naves.
A proporção entre a largura e a altura destas foi-se acentuando em favor da altura, o que acentuou a verticalidade dos espaços.
Também a altura da nave central se tornou bem maior do que a das laterais, de modo a permitir a abertura de janelas mais altas. Os interiores ganharam espaço e luz, mas também cor, através dos vitrais.
No exterior, é evidente a presença das muitas e grandes janelas e enormes rosáceas, na fachada principal e nos topos do transepto.
Mais evidente é a presença de torres sineiras pontiagudas, assim como dos botaréus e arcobotantes.
Entre as muitas linhas verticais e as formas ascendentes, outras particularidades se encontram, como os remates com pináculos, sobre os contrafortes ou nos cantos das torres sineiras, e as gárgulas esculpidas com animais fantásticos.
As caraterísticas atrás descritas são mais notórias em França, onde o gótico nasceu, sendo estas as que mais influenciaram a Península Ibérica.
Contudo, algumas curiosas caraterísticas surgem noutras paragens.
Em Inglaterra (onde o gótico se prolonga até ao séc. XIX) surge no séc. XIV o chamado estilo perpendicular, dado o equilíbrio entre linhas verticais e horizontais.
As catedrais têm plantas mais alongadas, cabeceiras quadradas, por vezes um duplo transepto.
Esse é o formato da cruz de Lorena.
Na Alemanha o estilo gótico impôs-se tardiamente mas apresenta algumas novidades.
Uma delas, surgida também no séc. XIV, consiste nas hallenkierchen, ou igrejas-salão, que possuem naves da mesma altura e colunas esguias em vez de pilastras; outra novidade é a fachada de torre única
Em Itália o gótico também chegou tarde, e em geral também não apresentando tendência para a verticalidade nem espaços muito iluminados.
O estilo não se prolongou por muito tempo já que o Renascimento, surgido no princípio do séc. XIV, se impõe. Outras construções, como igrejas de menores dimensões ou abadias conventuais, também não apresentam uma acentuada verticalidade.
Mais sóbrias, não mostram diferenças tão significativas em relação às suas congéneres românicas.
Tendo novamente a França como referência, a evolução da arquitetura gótica deu-se de forma progressiva ao longo da sua duração de três séculos.
No início mal se diferenciando da românica, depois ganhando notórias caraterísticas próprias.
O gótico primitivo era despido de decoração, expressando-se apenas pelos seus arcos e abóbadas ogivais.
Numa segunda fase, designada por gótico lanceolado, surgem aberturas tri, tetra e polilobadas como decoração em janelas e rosáceas.
Um período intermédio chama-se gótico radiante, pelas formas que lembram raios de roda, presentes em rosáceas e janelas.
O último período designa-se por gótico flamejante, por apresentar elementos decorativos com formas semelhantes a chamas.
Arquitetura civil e militar No séc. XIII, nobres e aristocratas habitam em castelos senhoriais em espaços rurais.
São fortalezas de planta irregular que se adaptam aos desníveis do terreno e possuem torres redondas, rematadas por telhados cónicos.
Têm amplas salas abobadadas, onde se comia e convivia, assim como aposentos recatados para se dormir.
Tinham também dependências próprias para o castelão e sua família, assim como para a criadagem.
Por fora, as aberturas são poucas e pequenas.
A maior parte das aberturas, assim como balcões, dão para um pátio interior.
Neste conjunto existe uma área destinada a jardim, pomar e horta, o que aligeira o ar algo austero da construção.
Devido ao crescimento e prosperidade das cidades, a partir do séc. XIV os nobres vão preferir habitar nelas, onde se instalara já a bem sucedida burguesia mercantil em palácios urbanos.
Tais palácios, de dois ou três pisos, são como casas-fortes, mas menos austeros do que as fortalezas de meio rural.
E à medida que se instala uma sociedade mais cortês e pacífica, ganham requinte, elegância e conforto.
De planta retangular, estes palácios contornam um pátio interior semelhante aos claustros duma catedral ou abadia, o que constituiu um espaço de lazer e convívio, agradável em qualquer altura do ano.
Outras construções apalaçadas, e por norma de maiores dimensões, são dignas de referência, como as casas comunais e as casas das corporações ou ofícios.
Nas primeiras, com altas torres de vigia, funcionam as administrações das cidades; as segundas (raras na atualidade) são sedes de gestão e espaços de negócios.
Os maiores palácios, e também mais requintados e elegantes deste período, situamse nas cidades flamengas e italianas que mais prosperaram com o comércio, como Bruges, Ypres, Veneza e Florença.
Das construções militares destaca-se o castelo-fortaleza, que devido à sua função de defesa, poucas diferenças tem dos românicos, além dos arcos ogivais e respetivas abóbadas, e da presença de ameias e merlões.

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