Há 14 mil milhões de anos, foram criados o tempo e o espaço, por um evento único, designado Big Bang.
É difícil conceber um estado em que não existe tempo nem espaço, mas, tanto quanto sabemos, essa era a situação antes do Big Bang.
Durante milhares de milhões de anos após o Big Bang, formaram-se corpos celestes por acção da gravidade, que levou a matéria a condensar-se na forma de planetas, estrelas, galáxias e enxames de galáxias.
Há cerca de 4600 milhões de anos formou-se o nosso Sol e, comparativamente pouco tempo depois, a terra que habitamos.
Acredita-se que a vida na Terra nasceu pouco tempo depois, talvez há mais de 4300 milhões de anos. Ao princípio e durante mais de 3000 milhões de anos a vida na Terra era muito simples. Células isoladas ou os seus precursores inventaram a tecnologia necessária para se reproduzir. Não se conhecem os primeiros mecanismos que foram usados pelos mais primitivos seres vivos para se reproduzirem, mas sabe-se que esses mecanismos, fossem quais fossem, permitiam duas funções fundamentais: reprodução e evolução.
Há cerca de 1500 milhões de anos formaram-se células mais complexas que têm um núcleo onde se encontra alojado o ADN. Neste período, é muito provável que diversas vezes agrupamentos de células se tenham formado, criando organismos multicelulares.
Provavelmente, mais de uma vez, grupos de células do mesmo organismo, com ADN igual ou muito semelhante, descobriram que podiam especializar-se.
A selecção natural escolhe impiedosamente os mais aptos e deixa os outros morrer sem descendentes. Dessa forma os organismos tornam-se mais complexos.
Há cerca de 540 milhões de anos, ocorreu um fenómeno único na história da vida na Terra: a explosão do Câmbrico. Uma explosão de diversidade das formas de vida existentes, que perdurou cerca de 20 milhões de anos.
Nesse curto período apareceram os antecessores de todos os tipos de animais vertebrados hoje existentes.
Tanto os artrópodes como os antepassados dos vertebrados desenvolveram sistemas nervosos que se tornaram rapidamente mais sofisticados. Agregados de neurónios formaram-se e foram os precursores de cérebros.
A explosão do câmbrico criou rapidamente um ambiente cada vez mais hostil nos mares de então. A rápida evolução das espécies gerou algo como uma corrida ao armamento, desenvolvendo-se sensores e actuadores cada vez mais sofisticados. Apareceram nos organismos olhos, garras, couraças e antenas, numa luta pela sobrevivência, até aí nunca vista.
Cérebros cada vez mais complexos tornaram-se uma importante arma na guerra pela sobrevivência. Quanto mais inteligentes os animais, maior era a sua capacidade para emboscar a presa e para evitar ser comidos, para identificar perigos e oportunidades.
A corrida pelo desenvolvimento de cérebros maiores e mais complexos, veio a ser finalmente dominada pelos vertebrados.
Passaram-se centenas de milhões de anos até que aparecessem os cérebros mais complexos e evoluídos de todos os animais, os dos mamíferos.
A superior inteligência dos mamíferos poderá ter contribuído para que tenham sobrevivido ao evento catastrófico que determinou a extinção dos dinossauros, há 66 milhões de anos.
Porém, espécies que estão muito afastadas de nós em termos evolutivos, como os cefalópodes, que incluem os polvos, as lulas e os chocos, desenvolveram cérebros sofisticados e complexos, com uma arquitectura muito diferente da dos cérebros dos mamíferos, uma vez que resultou de uma evolução separada e independente. Os cefalópodes separaram-se de nós há cerca de 600 milhões de anos.
O facto de cérebros complexos terem evoluído de forma independente em diferentes famílias de organismos é evidência bastante conclusiva de que a evolução da inteligência é um processo altamente provável, uma vez criadas as condições biológicas para tal.
De entre os mamíferos, os primatas, a ordem à qual pertencemos, assim como os nossos primos mais próximos, exibem os cérebros mais complexos de todos. Provavelmente estes cérebros desenvolveram-se como consequência dos ambientes complexos – florestas e savanas – em que os primatas evoluíram.
Há cerca de três milhões de anos, por razões que não são inteiramente conhecidas (mas que estão provavelmente relacionadas com mutações em genes que controlam a multiplicação dos neurónios) assistiu-se a um crescimento muito rápido dos cérebros na linha de primatas que conduziria até nós.
O volume do cérebro atingiria 600 cm3 no Homo habilis e continuou a crescer de forma muito rápida, até que, há cerca de 600 mil anos, o Homo heidelbergensis já tinha um cérebro já tinha um cérebro comparável ao do Homo sapiens – cerca de 1200 cm3.
O Homo sapiens, a nossa espécie, apareceu há cerca de 200.000 anos, em África. O seu cérebro permitiu-lhe organizar-se em sociedades complexas e usar linguagem para comunicar e criar cultura, passando conhecimento para as gerações seguintes.
Provavelmente o seu cérebro fez também com que a nossa espécie seja a única do género Homo que sobreviveu até hoje. Muitas outras espécies extinguiram-se nas últimas dezenas de milhares de anos, entre as quais o Homo neanderthalensis, que terá desaparecido há cerca de 40.000 anos, e o Homo floresiensis, que desapareceu há apenas 12.000 anos.
Na cultura humana realçar a descoberta do domínio do fogo há cerca de 150.000anos, da agricultura há 10.000 anos e da escrita há 5.000 anos.
Os tempos geológicos medem-se em milhões de anos, mas podemos, para mais facilmente compreendermos a história da Terra, fazer uma mudança de escala e pensarmos os últimos 4.600 milhões de anos, como tendo tido lugar em apenas 24 horas. Assim:
A Terra formou-se à meia-noite, no início de um longo dia. Os organismos unicelulares apareceram entre a uma e as quatro da madrugada. As células com núcleo surgiram cerca das quatro da tarde. Os primeiros mecanismos para transmitir sinais eléctricos, usando as paredes celulares, terão surgido ao fim da tarde, cerca das sete horas. A explosão do Câmbrico, que criou uma enorme diversidade de animais, teve lugar pouco depois das nove da noite. Os mamíferos terão aparecido cerca das onze da noite e os dinossauros extinguiram-se 20 minutos antes da meia-noite. Cerca de dois minutos antes da meia-noite viveram os mais recentes antepassados comuns a nós e aos nossos primos chimpanzés e bonobos. Um minuto antes da meia-noite, vimos aparecer os sucessivos membros do género Homo. Faltavam quatro segundos para a meia-noite quando apareceram os primeiros membros da nossa espécie, Homo sapiens, nas savanas africanas. Um quarto de segundo antes da meia-noite foi inventada a agricultura, que permitiu que um enorme aumento do número de indivíduos que podiam viver numa dada região. No último décimo de segundo foi inventada a escrita, a matemática e, mais tarde, de um enorme conjunto de outras tecnologias.
Tentar projectar o futuro da nossa espécie nos próximos 5000 anos (um décimo de segundo na escala comprimida) ou nos próximos três milhões (um minuto nessa mesma escala) é provavelmente tarefa tão impossível para nós como seria, para uma formiga, tentar perceber a civilização humana.
Não temos, simplesmente, mecanismos mentais para perceber no que poderá transformar-se uma civilização tecnológica num período de 5000 anos, e muito menos no que poderá consistir uma civilização tecnológica com milhões de anos de existência.
Pode de facto acontecer que tais civilizações sejam comuns na Galáxia, mas que estejam para lá da nossa compreensão e da nossa capacidade de detecção, da mesma forma que está para lá da compreensão duma formiga apreender a complexidade da civilização humana actual.
Em todo o caso, é pouco provável que, no futuro, o suporte biológico que tem servido a nossa espécie há centenas de milhares de anos se mantenha como a única forma de suportar inteligência humana. Num futuro distante, pode até acontecer que a espécie humana abandone completamente o suporte biológico em que se desenvolveu para viver inteiramente suportada em computadores, que emulem o corpo e o cérebro de cada indivíduo, vivendo em realidades virtuais, ou controlando os ambientes de mundos distantes através de robôs. Se assim for as inteligências artificiais não serão apenas nossos parceiros na construção da sociedade do futuro. Serão, de certa forma, os nossos descendentes, os representantes da natureza humana no futuro e no espaço distante.
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