A unidade conseguida para o derrube da Monarquia tinha ficado muito para trás e bem cedo. Logo após o 5 de Outubro, se manifestaram as dissidências. Primeiro no Governo Provisório, através de diferentes concepções que os seus elementos defendiam, sem falar no prematuro afastamento de prestigiados republicanos, depois na cisão do Partido Republicano em três facções, que no fundo representavam sentires diferentes da sociedade e projectos políticos com apoios em sectores sociais e económicos distintos.
A fantástica arquitectura legislativa revelar-se-ia mais uma ilusão da República enraizada no tempo da propaganda mas rapidamente anulada pela realidade pós-5 de Outubro, pois a República burguesa, cada vez mais a República do Partido Democrático, ainda que invocasse o povo, não podia conter uma componente tão extensamente popular como a preconizada no exército dos decretos.
Os dois anos de 1914 a 1916 foram de profundas disputas internas e extensos conflitos que envolveram as forças políticas, os poderes públicos e a sociedade inteira. Polémica que ultrapassará a própria declaração de guerra, mantendo-se até à assinatura do armistício e mesmo para além dele.
Os republicanos dividiram-se quanto à intervenção militar de Portugal na Europa – uns sustentando a necessidade de intervir junto dos aliados e outros defendendo a utilização exclusiva das tropas na defesa das colónias. Depois, não havia acordo no partido democrático quanto à forma de participação, ora preconizando-se uma definitiva ligação à Inglaterra e aos seus desejos, ora preferindo-se uma política autónoma. As minorias radicais opuseram-se à participação na guerra. Nos restantes, tanto os monárquicos (quer aliadófilos, quer germanófilos e entre estes principalmente os integralistas) como os socialistas opuseram-se à intervenção militar na Europa. No interior das forças armadas, a maioria dos oficiais opunham-se à guerra, principalmente ao envio de tropas para o teatro europeu.
A polémica em Portugal sobre a
intervenção na Grande Guerra
Ainda antes da declaração de guerra da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster de publicar qualquer declaração de neutralidade”.
Ficou assim delineada a posição de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.
Essa posição perante a guerra – nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que, a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.
Terminavam as dúvidas quanto à entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e à forma de o fazer.
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