A GRANDE GUERRA
A Grande Guerra, também conhecida
como a 1ª Guerra Mundial, deflagrou na Europa nos primeiros dias de Agosto de
1914 e só terminou com a assinatura do Armistício, em 11 de Novembro de 1918.
A sua causa determinante profunda
foi a rivalidade económica entre as grandes potências, em especial da
Inglaterra e da Alemanha.
Iniciada com a invasão da Bélgica
pelas tropas alemãs, na convicção de uma campanha curta, a guerra só viria a
parar mais de quatro anos depois, com o esgotamento dos recursos, a destruição
das cidades, a desolação nos campos e um imenso sofrimento.
Causou 65 milhões de mobilizados,
8milhões e meio de mortos, 20 milhões de feridos, milhares e milhares de
prisioneiros e desaparecidos. Portugal deixou nos campos de batalha mais de 8
mil mortos e mobilizou mais de 100 mil homens.
Portugal no quadro europeu
antes da Grande Guerra
A política internacional
portuguesa estava condicionada por três componentes principais – relações com a
Espanha, aliança com a Inglaterra e questão colonial.
No respeitante à questão
colonial, tão intimamente ligada à aliança inglesa, a República, implantada em
5 de Outubro de 1910, não teve tempo para solucionar os problemas principais
que se lhe depararam e muito menos preparar o país para a guerra. Quando, por
toda a Europa, se caminhava para o reforço do potencial militar, para a
preparação das capacidades de resistência e para a preparação global das nações
para os tempos de guerra, em Portugal, as mudanças políticas e institucionais,
a consolidação interna e externa do novo regime e o seu reconhecimento
internacional absorveram os melhores esforços dos novos dirigentes portugueses.
A questão espanhola esteve sempre
presente nas opções políticas portuguesas. As inquietações foram mútuas, tanto
pelas consequências da implantação da República em Portugal, que perturbou
imenso as relações com a Espanha, como pelo jogo dos dois estados peninsulares
com a Inglaterra, em consequência da guerra e do equilíbrio das alternativas
diplomáticas face à participação no conflito. O enquadramento deste problema
deve ter em conta a vontade de intervenção do governo português, a persistente
posição de neutralidade da Espanha, a relação da Espanha com a segurança do
Mediterrâneo, as pretensões de hegemonia peninsular de Afonso XIII e o prudente
adiamento de uma posição radical por parte da Inglaterra em relação ao apoio à
pretensão espanhola de intervir em Portugal.
A partilha das colónias portuguesas
Depois da Conferência de Berlim,
em 1985,a Alemanha esforçou-se por constituir um império colonial. A Alemanha
explorava a possibilidade de se estabelecer em territórios pertencentes aos
países europeus de menor dimensão – a Bélgica e Portugal.
No caso de Portugal, a
circunstância de Portugal e a Inglaterra estarem ligados, que fazia deste
último país o verdadeiro guardião da integridade do império colonial português,
conduziu a acordos secretos no fim do século XIX: a convenção anglo-alemã de
1898 sob a partilha das colónias portuguesas e, de imediato, o Acordo de
Windsor, de 1899, entre a Inglaterra e Portugal, reafirmando a obrigação
inglesa na protecção e defesa de todas as colónias pertencentes à coroa de
Portugal.
As necessidades coloniais da
Alemanha não se detiveram perante a vitória diplomática de Portugal. Logo na
primeira oportunidade, surgida a partir de Dezembro de 1911, tanto a Alemanha,
como a Inglaterra, se mostraram dispostas a reiniciar os contactos diplomáticos
acerca da partilha das colónias portuguesas. As negociações prosseguiram,
levando à rubrica do novo acordo em 13 de Agosto de 1913, mas ainda então se
levantou a questão da sua publicação, juntamente com a dos seus antecedentes de
1898 e 1989, questão com que a Alemanha não chegou a concordar até ao início da
guerra. Portugal dificilmente teria tido qualquer hipótese de evitar a efectiva
realização dos intentos alemães, se o tratado não tivesse sido excluído pela
deflagração da guerra.
As colónias portuguesas antes da Grande Guerra
Portugal, ao aproximar-se a
Guerra, possuía extensos territórios coloniais, cuja soberania preservara,
apesar das dificuldades crescentes e das cobiças de várias origens.
As fronteiras territoriais
encontravam-se geralmente bem aceites e a soberania portuguesa era reconhecida
internacionalmente embora se exercesse com muitas dificuldades.
A regra das colónias portuguesas
era: crise económica e financeira regular e orçamentos com défices constantes.
ANGOLA, apesar da sua extensão,
da sua riqueza e mesmo do esforço colocado na sua administração não fugia à
regra. Tanto o volume e importância das acções militares, praticamente
contínuas, como a crise que atingiu o comércio dos principais produtos de
exportação – café, algodão, álcool e borracha, constituíam as suas razões. A
República definiu como seus principais objectivos coloniais, para além da
integridade, a descentralização e a autonomia. Norton de Matos,
governador-geral de 1912 a 1915, cuja obra não deixou de suscitar oposições e
críticas, assentou a sua política em algumas regras básicas – ocupação
administrativa com base nas circunscrições, com a substituição da administração
militar pela civil; remodelação da organização militar, regulamentação do
trabalho indígena e desenvolvimento dum plano de fomento e colonização com
emigração portuguesa. A fixação de portugueses, que era fundamental estimular
(em 1910 existiam somente 3000 brancos na colónia), constituía, para o novo
governador-geral, a mais eficaz forma de manter o “direito absoluto de regular
e fiscalizar” a imigração estrangeira. Mas a guerra e a concretização da ameaça
alemã, bem como a necessidade de mobilização de importantes expedições
militares, quebraram o projecto de Norton de Matos.
MOÇAMBIQUE era centro de várias
cobiças resultantes da sua posição geográfica, da importância dos seus portos e
também das suas riquezas. A administração portuguesa tinha desenvolvido a
partir dos últimos anos do século XIX um grande esforço financeiro para suporte
dos trabalhos públicos, em especial das linhas férreas. As dificuldades
resultavam da necessidade de contínuas operações militares contra as revoltas
internas e da difícil obtenção de capitais, dependente da relação estreita com
os territórios vizinhos, tanto na circulação de mercadorias, como na exportação
de mão-de-obra para as minas sul-africanas. As concessões de imensas extensões
territoriais feitas a companhias especialmente constituídas para esse efeito,
quase sempre de capitais estrangeiros, fizeram de Moçambique um caso único, no
conjunto das colónias portuguesas, experiência nem sempre bem sucedida.
CABO VERDE, apesar da sua
excepcional posição e da relativa proximidade da metrópole, não conheceu administrações
capazes de lhe imprimirem um desenvolvimento que estaria ao seu alcance, apesar
da pobreza dos solos e da irregularidade das chuvas.
A GUINÉ, com um solo muito rico e
condições hidrográficas de grande valor, acusava as mesmas deficiências e
atrasos das vizinhas ilhas de Cabo Verde.
As ilhas de S. TOMÉ E PRÍNCIPE
eram, para os portugueses, as “pérolas do oceano”, as “jóias das colónias
lusitanas”, o “paraíso terrestre” com orçamentos consideravelmente
excedentários, movimentava cerca de dois milhões de toneladas de carga, quase
exclusivamente constituída por cacau, 95% das exportações. Mas ainda aqui a
administração não pode considerar-se exemplar – na mão-de-obra os abusos no
cumprimento dos contratos com trabalhadores vindos de Angola viriam a ser
habilmente exploradas pela Alemanha junto da opinião pública inglesa; nas vias
de comunicação deficientes a que os excedentes comerciais não puderam dar
solução devido aos desvios para equilíbrio das balanças deficitárias das outras
colónias.
O Estado da Índia, constituído
por GOA, DAMÃO e DIU, o resto da extensa presença portuguesa na costa da Índia
nos séculos anteriores, tinha na dependência relativamente à Índia Britânica a
justificação para a insuficiência do seu desenvolvimento; dependência que não
se modificou, apesar do esforço do governo de Lisboa.
MACAU, gozava de uma situação
desafogada, com orçamentos excedentários pelas receitas do jogo e o comércio do
ópio cru. A sua prosperidade não deixou de suscitar cobiças, mas a soberania
portuguesa conseguiu ultrapassar as dificuldades, apesar da distância e do
isolamento relativamente à metrópole.
TIMOR, apesar de possuir um solo
extremamente rico, o seu desenvolvimento foi diminuto.
A República e o exército
As forças armadas não
participaram como instituição, nem sequer de forma parcial, no 5 de Outubro de
1910.
A participação de militares no 5
de Outubro obedeceu a uma lógica organizacional externa, assumida pela
Carbonária.
Não sendo um golpe militar ele
veio a ser atribuído quase exclusivamente à Força Armada. E esta não podendo
recusar a paternidade que lhe é atribuída, vai assumir institucionalmente o
derrube da Monarquia e a implantação da República.
O «Outubro burguês» sobrepunha-se
ao «Outubro popular», com Machado Santos a constatar o descaminho do projecto
inicial, esboçando-se o divórcio entre a república e o seu «fundador».
O Governo Provisório, em saudação
assinada por Teófilo Braga, dirigiu-se ao Exército e à Marinha, convidando os
oficiais não participantes a aderirem ao novo regime. Só no quartel-general de
Lisboa, são assinadas 1216 declarações de adesão de oficiais no activo e 847 de
oficiais na reserva ou reforma.
A reforma republicana do
exército
A grande reforma republicana do
exército, impulsionada pelo ministro da Guerra, general Correia Barreto,
baseou-se numa grande sofreguidão de mudar, com o objectivo de transformar
rapidamente a realidade pré-existente.
Contudo, o princípio da
milicianização (recrutamento geral dos cidadãos) de um exército sem recursos,
analfabeto, contra a vontade do seu núcleo profissional, estava inevitavelmente
votada ao fracasso.
As incursões monárquicas primeiro
e a Guerra logo a seguir aniquilaram a reforma.
Portugal e a Guerra no período
1914-1916: a polémica
A unidade conseguida para o
derrube da Monarquia tinha ficado muito para trás e bem cedo. Logo após o 5 de
Outubro, se manifestaram as dissidências. Primeiro no Governo Provisório,
através de diferentes concepções que os seus elementos defendiam, sem falar no
prematuro afastamento de prestigiados republicanos, depois na cisão do Partido
Republicano em três facções, que no fundo representavam sentires diferentes da
sociedade e projectos políticos com apoios em sectores sociais e económicos
distintos.
A fantástica arquitectura
legislativa revelar-se-ia mais uma ilusão da República enraizada no tempo da
propaganda mas rapidamente anulada pela realidade pós-5 de Outubro, pois a
República burguesa, cada vez mais a República do Partido Democrático, ainda que
invocasse o povo, não podia conter uma componente tão extensamente popular como
a preconizada no exército dos decretos.
Os dois anos de 1914 a 1916 foram
de profundas disputas internas e extensos conflitos que envolveram as forças
políticas, os poderes públicos e a sociedade inteira. Polémica que ultrapassará
a própria declaração de guerra, mantendo-se até à assinatura do armistício e
mesmo para além dele.
Os republicanos dividiram-se
quanto à intervenção militar de Portugal na Europa – uns sustentando a
necessidade de intervir junto dos aliados e outros defendendo a utilização
exclusiva das tropas na defesa das colónias. Depois, não havia acordo no
partido democrático quanto à forma de participação, ora preconizando-se uma
definitiva ligação à Inglaterra e aos seus desejos, ora preferindo-se uma
política autónoma. As minorias radicais opuseram-se à participação na guerra.
Nos restantes, tanto os monárquicos (quer aliadófilos, quer germanófilos e
entre estes principalmente os integralistas) como os socialistas opuseram-se à
intervenção militar na Europa. No interior das forças armadas, a maioria dos
oficiais opunham-se à guerra, principalmente ao envio de tropas para o teatro
europeu.
Ainda antes da declaração de guerra
da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão
da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de
que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster
de publicar qualquer declaração de neutralidade”.
Ficou assim delineada a posição
de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira
dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.
Essa posição perante a guerra –
nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que,
a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães
surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.
Terminavam as dúvidas quanto à
entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e
à forma de o fazer.
A polémica em Portugal sobre a
intervenção na Grande Guerra
Ainda antes da declaração de
guerra da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão
da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de
que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster
de publicar qualquer declaração de neutralidade”.
Ficou assim delineada a posição
de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira
dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.
Essa posição perante a guerra –
nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que,
a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães
surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.
Terminavam as dúvidas quanto à
entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e
à forma de o fazer.
PORTUGAL, PAÍS BELIGERANTE
Após a declaração de guerra da
Alemanha, a questão fulcral prendia-se com a participação na guerra europeia.
A política portuguesa conviveu
mal com a ideia de intervir no conflito na frente europeia. Só o Partido Democrático,
de Afonso Costa, o defendia.
Entretanto a situação interna
continuou a degradar-se, os conflitos agudizaram-se, a oposição à guerra não
conheceu tréguas, as dificuldades económicas agravaram-se, a escassez de
subsistências continuou. Criado um clima social propício a projectos
conspirativos e de violência, a 5 de Dezembro de 1917, uma revolta militar saiu
à rua, chefiada por Sidónio Pais, major de Artilharia, que em menos de três
dias conquistou o poder e assumiu a direcção política do país.
O enorme esforço de Afonso Costa
e Norton de Matos logrou concentrar em Tancos para instrução, uma Divisão com
um efectivo de 20.000 homens. Sob a égide de Norton de Matos, nomeado ministro
da Guerra, a Divisão fez a sua instrução em cerca de 3 meses, sendo dada como
pronta em Junho de 1916. Outros se seguiram, acabando na convocatória de um
Corpo de Exército de 50.000 homens, secundado por uma reserva que deveria
aproximar-se de igual grandeza.
Prepararam-se duas novas
expedições a Moçambique. As tropas portuguesas para a Europa, constituintes do
Corpo Expedicionário Português (CEP), começaram a embarcar em finais de Janeiro
de 1917.
O CEP foi colocado em França
através de sucessivos transportes marítimos, entre Janeiro e Setembro de 1917,
com desembarques no porto de Brest e transporte em comboio até perto das linhas
da frente. Uma vez em França, as tropas portuguesas passaram por várias fases
de adaptação, até à atribuição de um sector na frente, situado na Flandres
francesa, em frente da cidade de Lille.
O CEP assumiu a responsabilidade
total do sector português, no dia 5 de Novembro de 1917, sob o comando do 1º
Exército Britânico.
O sector português, na Flandres,
era uma zona plana, tinha a forma de um quadrilátero irregular, com cerca de 12
Km de trincheiras na linha da frente. Aqui, de 5 de Novembro de 1917 até 9 de
Abril de 1918, os soldados passaram por uma experiência de guerra que marcou
indelevelmente uma geração portuguesa. As baixas na frente não resultavam
apenas das grandes batalhas pela conquista de terreno, em que os mortos se
contavam sempre por milhares, estavam também associadas ao dia-a-dia das
trincheiras, e resultavam de ataques de artilharia e morteiros, de acção de
atiradores isolados, de raids nas linhas inimigas.
Todas as tropas da frente faziam
rotação de efectivos, permitindo que as tropas intercalassem períodos de plena
actividade operacional com períodos de repouso.
As situações mais penosas na
frente estavam relacionadas com o serviço de sentinelas, sobretudo à noite.
No que respeita à alimentação, as
tropas portuguesas não chegaram a adaptar-se ao tipo de ração que lhes era
fornecido pelos ingleses.
O serviço de saúde foi organizado
segundo as necessidades das tropas portuguesas, estendendo-se desde a frente
até aos hospitais de retaguarda.
O serviço postal também estava
bem organizado, permitindo a troca de correspondência entre os soldados e as
suas respectivas famílias.
Em 1917 vários políticos
deslocaram-se à frente, em visita às tropas: o primeiro foi Norton de Matos,
ministro da Guerra, em Junho. Também o Presidente da República, Bernardino
Machado, e o presidente do ministério, Afonso Costa, visitaram a frente em
Outubro.
O fuzilado português
O único militar português
fuzilado na frente de combate durante a Grande Guerra foi o soldado João
Augusto Ferreira de Almeida, executado a 16 de Setembro de 1917, em Picanti.
O processo começou a 30 de Julho,
quando o soldado foi denunciado como tendo intenção de passar para o lado
alemão, sendo portador de cartas topográficas com a indicação de posições
militares portuguesas.
Ferreira de Almeida era soldado
chaufeur, o que poderia justificar a posse dos mapas, mas tal circunstância nem
sequer vem a ser mencionada no processo rapidamente elaborado.
Recebido o processo pelo juiz
auditor logo a 7 de Agosto, este emitiu
parecer positivo para julgamento sumário.
O comandante do CEP, general
Tamagnini decidiu que o soldado respondesse perante um Tribunal de Guerra.
Reunido o tribunal a 15 de
Agosto, com a presença do seu presidente, o juiz auditor, do júri constituído
por cinco oficiais, do promotor, do secretário e das testemunhas, vindo a
deliberar a condenação à pena de morte do réu.
A pena foi executada em 16 de
Setembro por um pelotão nomeado para o efeito, com quatro sargentos, quatro
cabos e quatro soldados, comandados por um oficial que foi sorteado.
No interior do C.E.P. muitos
discordaram da aplicação da pena de morte e alguns referiram a cedência a
pressões inglesas.
O sidonismo e o Corpo Expedicionário
Português na Grande Guerra
A nova situação criada em
Portugal após a tomada do poder por Sidónio Pais nos primeiros dias de Dezembro
de 1917, e a que os seus dirigentes chamaram «República Nova», não chegou a pôr
em causa a continuação do empenhamento militar ao lado dos Aliados, mas é
sintomático da nova disposição dos dirigentes portugueses o facto de não se
terem efectuado quaisquer rendições de efectivos e de grande parte dos oficiais
mobilizados, temporariamente regressados a Portugal, para tratamento ou de
licença, não voltarem à frente, apesar dos contínuos apelos dos comandos
militares do CEP.
Esta situação não se alterou até
ao fim da guerra, nem mesmo após a Batalha de La Lys, em 8 de Abril de 1918,
quando o CEP perdeu grande parte do seu efectivo e o comando português se viu
forçado a assistir à disseminação do que restou de tropas portugueses, por
unidades inglesas, evidentemente em tarefas de menor significado.
Só um último e enérgico
empenhamento dos comandos portugueses conseguiu atenuar a situação,
recuperando, com a tardia reorganização de algumas pequenas unidades de
combate, algum prestígio e algum direito conquistado no terreno, com enorme sofrimento
e imensos sacrifícios, e que constituiu desde o início o principal objectivo do
governo português.
Após a assinatura do Armistício,
a 11 de Novembro de 1918, a que se seguiu, um mês depois, a queda do sidonismo
e o regresso da «nova república velha», mostrou-se difícil fazer valer os
direitos de Portugal como potência beligerante, perante o desejo inglês de
fazer embarcar de imediato para Portugal todas as tropas portugueses. Só a
resistência a tais projectos valeria a Portugal o ter desfilado nas
comemorações da vitória, em Paris, a 14 de Julho de 1919.