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15/12/16

A Pedra Filosofal


A PEDRA FILOSOFAL
Foi do Egipto por intermédio dos árabes, que se espalhou a ideia de que a pedra filosofal era o meio de transformar em ouro os metais comuns.
A conquista do Egipto deu aos árabes a posse de conhecimentos que eram, no início, fruto do trabalho de uma classe sacerdotal ciosa, ensinada nos templos sob a forma de mistérios só acessíveis a iniciados.
Novecentos anos antes da conquista, a Academia de Alexandria tornara-se já um centro científico e, na época em que os árabes incendiaram a famosa biblioteca, Alexandria era a mais importante sede e albergue da ciência grega.
A lâmpada maravilhosa dos cientistas árabes, por intermédio da qual o homem podia adquirir toda a magnificência, no Egipto tomou a forma de pedra filosofal.
As escolas árabes, pela procura desta pedra filosofal, deram o primeiro impulso a toda a Europa ocidental, nela introduzindo conhecimentos químicos. No modelo das Universidades de Córdova, Sevilha e Toledo, visitadas desde o século X por curiosos de toda a parte, cedo se espalharam novos centros em Paris, Salamanca e Pádua.
Assim, os sacerdotes cristãos vieram a ser os depositários e propagadores de doutrinas científicas dos sábios árabes e, muitos séculos depois dos tempos dos sacerdotes egípcios, a Alquimia conservava ainda interpretações de obscuridade proverbial e estilo místico, repleto de imagens e entremeado de ideias religiosas. São verdadeiramente notáveis para a época, a variedade de conhecimentos químicos na riqueza de ideias e extensão de conceitos nos escritos de Geber (século VIII), Roger Bacon ou Alberto Magno (século XIII).
Já no tempo de Geber classificavam-se as substâncias, como hoje, por grupos, segundo as analogias. O grupo dos metais partilhava certas propriedades fundamentais: brilho metálico, inalterabilidade de alguns ao fogo (metais nobres), etc.
Por causa do seu brilho metálico, a galena e a pirite não podiam deixar de estar no grupo dos metais. A galena tem quase a cor do chumbo e a pirite do ouro. De ambas se pode extrair enxofre. Da galena pode-se, sem mudança de cor, retirar chumbo. Chumbo dúctil, fusível, dotado de brilho.
Não seria natural, então, acreditar que todos os metais continham enxofre e que este lhes modificava as propriedades, conforme entrava em maior ou menor quantidade? E, como da galena se obtém chumbo metálico por expulsão de enxofre, não seria possível que, separando um pouco mais de enxofre, tornar o chumbo mais nobre, convertendo-o em prata?
Conhecia-se a propriedade do mercúrio se reduzir facilmente a vapor. Não seria natural admitir que a formação da ferrugem e que a perda das propriedades metálicas experimentadas pelos metais, por calcinação proviriam da libertação de um mercúrio volátil?
Não temos de nos admirar que os alquimistas tivessem tomado por metais certos sulfuretos. Basta recordar que os químicos, em época muito mais adiantada consideravam o óxido de urânio como metal puro.
Os alquimistas supunham a presença, nos metais, de um princípio particular que lhe comunicava o carácter de metalidade: o mercúrio dos «sages». Extraindo o princípio metálico de uma substância, aumentando, por depuração, a força daquela, preparando, assim, a «quinta essência» da metalidade, obtinha-se a pedra que associada a metais comuns, os enobrecia. Esta «pedra filosofal» actuava, segundo alguns alquimistas, à maneira de fermento.
No seu mais alto grau de perfeição, a pedra filosofal era uma panaceia universal. Segundo Roger Bacon, uma só parte da pedra bastava para converter em ouro um milhão de partes de metal comum. Segundo Basílio Valentim, porém, o poder de transformação da pedra filosofal não ia além de 70 partes de metal comum e na opinião de John Price, o último «fazedor de ouro» do século XVIII, de 30 a 60 partes.
Antes da invenção da imprensa, era fácil aos alquimistas manter secretas as suas pesquisas. Os segredos das experiências só se trocavam entre iniciados. Das operações relacionadas com a «grande obra», nada mais há que símbolos e imagens que exprimem em linguagem inatingível, o que eles mesmo só muito vagamente apreendiam.
O que mais admira é que a existência da pedra filosofal possa ter passado durante tantos séculos e por tantos homens instruídos e pensadores como Bacon, Espinosa, Leibnitz como sendo uma verdade incontestável, quando ninguém a possuía, embora todos garantissem que outro a tinha.
No século XV havia alquimistas nas cortes de muitos príncipes reinantes: o imperador Rodolfo II e o palatino Frederico davam-lhe grande protecção. Havia quem se ocupasse de Alquimia em todas as classes sociais e sacrificavam-se quantias consideráveis na procura da pedra filosofal. Surgiu então a turba dos aventureiros que se fizeram passar junto dos grandes senhores, por adeptos possuidores do grande segredo; jogo perigoso que quase sempre acabava mal, com a falta de êxito das operações a que se entregavam.




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