21 - A Sociedade
Em matéria de política externa Roma adoptou uma atitude cada vez mais dura e autoritária. No princípio do século II a.C. a
autoridade do Senado sobre a política era total, não obstante as intervenções
periódicas das assembleias. O governo era praticamente assunto de um círculo
fechado de cerca de 2.000 homens, pertencentes a menos de vinte famílias. Eleições
de «homens novos», (i.e. pertencentes a famílias sem antepassado «cônsul»), eram extremamente
raros.
Guiado por estes homens e na ausência dum contra-poder
eficaz, o Senado conservou uma supremacia que roçava a impunidade, tornando-se
um órgão cada vez mais conservador.
No plano interno, os
nobres e o Senado mostravam-se cada vez mais intolerantes face aquilo que consideravam
tentativas que visavam minar a sua supremacia. Entre aqueles que foram alvo da
sua cólera, podemos citar o poeta Névio (270-201 a.C.), autor de obras
patrióticas, entre as quais algumas tragédias e uma epopeia que é uma obra de vanguarda que tem como tema a 1ª Guerra Púnica, na qual o autor havia participado. Cerca de
204 a.C., Névio cometeu uma falta que lhe valeu a prisão e, depois, o exílio. A razão da severidade da sua pena remontava, provavelmente, a uma ofensa com
cerca de trinta anos: tinha ousado criticar uma das mais poderosas famílias
nobres plebeias.
A arte
Nas artes, Plauto (254-184 a.C.) é o grande mestre no domínio das peças
cómicas. Com ele a comédia latina em verso atinge o apogeu. Inspirou-se nas
refinadas comédias gregas do século IV a.C., mas, em vez da subtileza
destas, deu largas ao seu génio na farsa bufa, de ritmo rápido. Utilizou o
grotesco para a crítica social indirecta mas reveladora, tendo o cuidado de
apresentar as suas personagens não como romanos, mas como gregos ou bárbaros. Outro grande poeta, Quinto Énio (239-169 a.C.), nasceu na
Calábria onde recebeu as influências culturais que lá convergiam, gregas,
latinas e italianas. Recebeu a cidadania romana como recompensa da participação
na 2ª Guerra Púnica e foi trazido para Roma por Catão, em 204 a.C. Foi o
primeiro profissional de letras em Roma e foi considerado o pai da poesia latina. A sua obra «Anais» - um poema épico no qual
utilizou, como meio de expressão, uma adaptação do verso heróico grego - constitui uma crónica de toda a história romana, das origens até à sua época.
Catão, "o antigo" (234-149 a.C.) era um «homem novo». Raros
textos da sua autoria chegaram até nós mas, apesar disso, o seu prestígio, como
erudito, foi enorme. A sua obra maior, uma história de Roma em sete volumes,
intitulada «Origens» ou «Histórias», redigida em latim, que não nos chegou, constitui
a primeira obra de referência neste campo e o protótipo da prosa latina na
qualidade de instrumento literário. Foi um excelente orador. Embora não
contasse com qualquer cônsul entre os antepassados, tornou-se um dos políticos
mais famosos na sua época e durante muitos anos uma personagem de primeira
importância. Foi um inimigo figadal dos Cipiões. Apoiado na tradição e,
protegido pelos numerosos proprietários fundiários conservadores, mostrou-se
profundamente hostil ao culto da personalidade, nomeadamente a prestado a
Cipião. Conseguiu expulsar os Cipiões da vida pública, obrigando-os à reforma
em 184 a.C. e nesse ano foi eleito censor, o que era excepcional para um «homem
novo». Esse cargo permitiu-lhe intensificar os ataques contra o helenismo, mas
também a adoptar muitas medidas tendentes a renovar a economia e a moral da sua
pátria. Foi hostil às tendências da sua época que visavam a emancipação das
mulheres. Era do campo, chicaneiro e vingativo, de olhar penetrante, foi um modelo de puritanismo reaccionário, mas todos os seus esforços foram
em vão pois o seu programa mostrou-se, a longo prazo, impraticável.
Com o tempo, os Romanos voltaram-se cada vez mais para Cipião Emiliano, bom orador, um dos mais novos generais romanos que participou na campanha da Macedónia, neto adoptivo de Cipião, o
Africano, cultivando o gosto da época pelo individualismo tão criticado por Catão, veio a substituí-lo e, durante mais de 20 anos,
foi um dos homens de Estado mais marcantes de Roma. Revelou-se um organizador enérgico
e caracterizava-o uma reputação, totalmente merecida, de integridade. Com grande
atracção intelectual pelo helenismo, interessou-se pela filosofia e literatura
gregas e muitos do que lhe eram próximos, como Terêncio (185-159 a.C.), dramaturgo latino cuja obra extraordinária exerceu uma influência duradoura sobre o teatro europeu. vieram a ser responsáveis pelo progresso
que a cultura helénica conheceu em Roma.
A riqueza e os novos monumentos
Durante todos estes anos, um afluxo crescente de moeda e
lingotes de proveniência ultramarina foi-se acumulando no tesouro romano.
Roma era já, pelo tamanho, a primeira cidade do Ocidente e o
afluxo de riquezas permitiu a construção de monumentos sumptuosos. A influência
grega evidenciava-se no novo gosto pelos pórticos e pelas basílicas. No século
I a.C. estas vastas salas públicas foram reconstruídas com abóbadas em arco -
uma conquista arquitectónica romana (que implicava uma outra inovação
tipicamente romana, o arco monumental, que surgiu em Roma a partir de 196
a.C.). Estes monumentos anunciavam já os sumptuosos arcos do triunfo imperiais
que ainda hoje se podem admirar em muitas cidades. Os progressos atingidos na
construção de arcos, arcadas, absides semicirculares, nichos e abóbadas foram
possíveis devido à descoberta de uma matéria revolucionária: a argamassa. Em
144 a.C. um pretor mandou construir, para fornecer água à cidade, o primeiro
aqueduto de Roma, o Acqua Marcia, com 58 Km de comprimento. Esta iniciativa deu
origem a um vasto processo de construções de aquedutos, no final do qual Roma
passou a usufruir de uma abundância de água corrente única no mundo. Ao mesmo
tempo os romanos construíram estradas por toda a Itália. Em Roma as ruas
permaneceram estreitas, mas foram pavimentadas com ladrilhos de lava endurecida
do monte Albino. A população da capital aumentou e a maior parte dos habitantes
residia em edifícios frágeis, construídos com madeira e materiais baratos, sem
aquecimento nem água corrente, regularmente devastados por incêndios e
inundações mas, pelo contrário, as habitações dos ricos começaram a ser
construídas com pedra de cantaria. As casas tinham uma fachada cega que dava
para a rua, distribuindo-se os quartos em redor de um átrio que desempenhava as
funções de corredor interior e de sala de recepção; no átrio ficava o altar e
as estátuas da família; os quartos de dormir e o alojamento do pessoal
doméstico situavam-se na zona mais afastada e muitas destas casas tinham uma
sala de jantar de Inverno e outra de Verão.
Os escravos
Os escravos constituíam uma enorme reserva de mão de obra.
Na sequência das campanhas vitoriosas dos séculos III e II a.C., Roma foi
inundada de escravos. Esta mercadoria era vendida nos grandes mercados da Cápua
e de Delos. Nestes espaços chegavam a negociar-se 20.000 escravos por dia.
Os
escravos não tinham quaisquer direitos mas os domésticos eram tratados com
relativa benevolência. Foi em grande parte devido a eles que a cultura grega
penetrou em Roma pois forneciam à cidade professores, médicos e pessoal
administrativo. No campo, a sorte dos escravos foi sempre menos sorridente.
Segundo Catão deviam ser tratados da mesma forma que os animais domésticos e quando já não tinham idade para ganhar o pão, Catão achava que se podiam deixar morrer, contudo, ainda segundo ele, uma boa gestão obrigava a que os animais e os escravos fossem tratados com cuidado, de maneira a que trabalhassem o maior tempo possível. Era frequente que estes escravos, chamados rústicos, usassem grilhetas
permanentemente Nas grandes explorações
agrícolas, alguns proprietários de escravos muito severos e pouco cuidadosos,
submetiam a sua mão-de-obra a tratamentos terríveis. Os escravos que
trabalhavam nas minas viviam uma existência ainda pior. Muitos desertavam para viverem na clandestinidade e esta foi uma das razões porque, em
alguns períodos do século II a.C., a estrutura social romana estremeceu e esteve
à beira da desintegração.
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