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A ARTE GÓTICA
Arquitetura
Em grande medida, a arquitetura gótica vai
continuar os aperfeiçoamentos havidos com a arquitetura românica, já que as
plantas, as fachadas e as estruturas são basicamente as mesmas ou muito
parecidas.
Muitos são os edifícios que, por
terem sido construídos no período de transição ou por não apresentarem
diferenças significativas, são designados por romano-góticos.
Contudo, à medida que os
edifícios reduzem as áreas de parede e aumentam as de janela, ou se dá uma
predominância de linhas verticais em relação às horizontais, ou os espaços
ganham altura e se enchem de luz e de cor (através dos vitrais), estamos
perante algo extremamente inovador e surpreendente.
Além disso, a evolução da
arquitetura gótica vai revelar uma curiosa particularidade: afasta-se notoriamente
das influências greco-romanas e bizantinas, presentes no românico e antes dele.
No entanto, antes dessa evolução,
a arquitetura gótica havia surgido com uma inovação técnica que passou a
constituir um dos seus principais distintivos: o arco em ogiva (também
designado por ogival, quebrado ou apontado).
Tal arco foi utilizado
pontualmente a partir de 1100, no contexto do românico cisterciense da
Borgonha, em França. Surgiu da necessidade de elevar os quatro arcos dum tramo
retangular à mesma altura
Mais tarde, quando generalizada a
sua aplicação, o arco em ogiva permite dinâmicas espaciais e estéticas nunca
antes vistas, dada a diversidade formal que surge nas novas aberturas e
abóbadas.
Antes, do cruzamento de dois
tramos circulares surgia a abóbada de arestas, com quatro panos que pouco
destaque tinham num teto.
Agora, do cruzamento de tramos
ogivais surge a abóbada de cruzaria (ou cruzata de ogivas), cujos oito panos,
muitas vezes rematados por nervuras, marcam uma forte presença.
Com o passar do tempo, as tetos
enchem-se de nervuras, com uma função simultaneamente estrutural e decorativa.
São as abóbadas de terceletes,
com as variantes reticulada, estrelada, em leque ou com pingentes, consoante as
formas que as nervuras apresentam.
Os novos arcos e abóbadas dirigem
a pressão de forma mais eficaz para as pilastras e os contrafortes.
Este aspeto vai permitir que se construam
espaços mais amplos e, sobretudo, mais altos.
No entanto, com abóbadas
construídas em níveis mais altos e com menos volume de parede, para sustentar a
pressão exercida para o exterior, surge um novo contraforte, formado por
botaréus e arcobotantes.
Botaréus são contrafortes
destacados das paredes, mas a estas adossados parcialmente.
Arcobotantes são como que meios-arcos que
transferem a pressão das abóbadas para os botaréus.
Existem botaréus sem
arcobotantes, mas outros há com um ou dois níveis de arcobotantes.
Contudo, em enormes catedrais,
chega a haver uma segunda fila de botaréus e arcobotantes que reforça a primeira,
num elaborado conjunto de muletas de apoio.
Construir um esqueleto tão
complexo só foi possível com técnicas que envolviam sofisticados sistemas de
guindastes e roldanas.
Isso, juntamente com dinheiro,
rigorosas logísticas e planificações, foram a chave do sucesso destas
construções.
Arquitetura religiosa
Entre os edifícios da arquitetura
religiosa gótica destacam-se as catedrais, igrejas da sede de uma diocese.
Estas ostentam orgulho, pela
capacidade que as suas formas e dimensões têm de se afirmar e surpreender.
O orgulho era de todos: dos mais
pobres, por nelas trabalharem; dos mais ricos, porque para elas contribuíam com
donativos; dos religiosos, por verem as casas de Deus plenas de
espiritualidade; do rei, por ver o seu reino engrandecido com estes edifícios.
As catedrais eram erguidas nos
centros urbanos, sendo que as suas dimensões se sobrepunham às das restantes
construções.
Em torno desse centro religioso
posicionavam-se os edifícios de cariz político e económico que, no seu conjunto,
eram responsáveis pela dinâmica social da cidade.
A ideia inicial, ou projeto
genérico, partia do bispo ou do rei, que logo se fazia rodear de experientes
mestres-pedreiros, que eram simultaneamente arquitetos e engenheiros da obra.
De tal modo esses
mestres-pedreiros foram relevantes, que os nomes de muitos deles ficaram para a
história.
Esse aspeto mostra o
reconhecimento do mérito que, gradualmente, se começa a dar a indivíduos
exteriores ao clero e à nobreza.
A construção de uma catedral
gótica obedecia a rigorosos cálculos matemáticos e geométricos, passados de
forma exemplar para a pedra, sendo que tal trabalho só era possível por
indivíduos cultos e muito bem preparados.
Tal como sucede com as grandes
igrejas românicas, as catedrais góticas apresentam uma planta basilical em cruz
latina, com a entrada virada para poente e a cabeceira para nascente.
Formada por três ou cinco naves,
apresenta um transepto normalmente pouco extenso.
Por norma, a abside é longa,
dando continuidade às naves, podendo apresentar duplo deambulatório.
As pilastras tornaram-se mais
finas e mais altas, dando a ideia de continuidade entre as naves.
A proporção entre a largura e a
altura destas foi-se acentuando em favor da altura, o que acentuou a verticalidade
dos espaços.
Também a altura da nave central
se tornou bem maior do que a das laterais, de modo a permitir a abertura de
janelas mais altas. Os interiores ganharam espaço e luz, mas também cor,
através dos vitrais.
No exterior, é evidente a
presença das muitas e grandes janelas e enormes rosáceas, na fachada principal
e nos topos do transepto.
Mais evidente é a presença de
torres sineiras pontiagudas, assim como dos botaréus e arcobotantes.
Entre as muitas linhas verticais
e as formas ascendentes, outras particularidades se encontram, como os remates
com pináculos, sobre os contrafortes ou nos cantos das torres sineiras, e as
gárgulas esculpidas com animais fantásticos.
As caraterísticas atrás descritas
são mais notórias em França, onde o gótico nasceu, sendo estas as que mais
influenciaram a Península Ibérica.
Contudo, algumas curiosas
caraterísticas surgem noutras paragens.
Em Inglaterra (onde o gótico se
prolonga até ao séc. XIX) surge no séc. XIV o chamado estilo perpendicular,
dado o equilíbrio entre linhas verticais e horizontais.
As catedrais têm plantas mais
alongadas, cabeceiras quadradas, por vezes um duplo transepto.
Esse é o formato da cruz de
Lorena.
Na Alemanha o estilo gótico
impôs-se tardiamente mas apresenta algumas novidades.
Uma delas, surgida também no séc.
XIV, consiste nas hallenkierchen, ou igrejas-salão, que possuem naves da mesma
altura e colunas esguias em vez de pilastras; outra novidade é a fachada de
torre única
Em Itália o gótico também chegou
tarde, e em geral também não apresentando tendência para a verticalidade nem
espaços muito iluminados.
O estilo não se prolongou por
muito tempo já que o Renascimento, surgido no princípio do séc. XIV, se impõe.
Outras construções, como igrejas de menores dimensões ou abadias conventuais,
também não apresentam uma acentuada verticalidade.
Mais sóbrias, não mostram
diferenças tão significativas em relação às suas congéneres românicas.
Tendo novamente a França como
referência, a evolução da arquitetura gótica deu-se de forma progressiva ao
longo da sua duração de três séculos.
No início mal se diferenciando da
românica, depois ganhando notórias caraterísticas próprias.
O gótico primitivo era despido de
decoração, expressando-se apenas pelos seus arcos e abóbadas ogivais.
Numa segunda fase, designada por
gótico lanceolado, surgem aberturas tri, tetra e polilobadas como decoração em
janelas e rosáceas.
Um período intermédio chama-se
gótico radiante, pelas formas que lembram raios de roda, presentes em rosáceas
e janelas.
O último período designa-se por
gótico flamejante, por apresentar elementos decorativos com formas semelhantes
a chamas.
Arquitetura civil e militar No
séc. XIII, nobres e aristocratas habitam em castelos senhoriais em espaços
rurais.
São fortalezas de planta irregular
que se adaptam aos desníveis do terreno e possuem torres redondas, rematadas
por telhados cónicos.
Têm amplas salas abobadadas, onde
se comia e convivia, assim como aposentos recatados para se dormir.
Tinham também dependências
próprias para o castelão e sua família, assim como para a criadagem.
Por fora, as aberturas são poucas
e pequenas.
A maior parte das aberturas,
assim como balcões, dão para um pátio interior.
Neste conjunto existe uma área
destinada a jardim, pomar e horta, o que aligeira o ar algo austero da
construção.
Devido ao crescimento e
prosperidade das cidades, a partir do séc. XIV os nobres vão preferir habitar
nelas, onde se instalara já a bem sucedida burguesia mercantil em palácios
urbanos.
Tais palácios, de dois ou três
pisos, são como casas-fortes, mas menos austeros do que as fortalezas de meio
rural.
E à medida que se instala uma
sociedade mais cortês e pacífica, ganham requinte, elegância e conforto.
De planta retangular, estes
palácios contornam um pátio interior semelhante aos claustros duma catedral ou
abadia, o que constituiu um espaço de lazer e convívio, agradável em qualquer
altura do ano.
Outras construções apalaçadas, e
por norma de maiores dimensões, são dignas de referência, como as casas
comunais e as casas das corporações ou ofícios.
Nas primeiras, com altas torres
de vigia, funcionam as administrações das cidades; as segundas (raras na
atualidade) são sedes de gestão e espaços de negócios.
Os maiores palácios, e também
mais requintados e elegantes deste período, situamse nas cidades flamengas e
italianas que mais prosperaram com o comércio, como Bruges, Ypres, Veneza e
Florença.
Das construções militares
destaca-se o castelo-fortaleza, que devido à sua função de defesa, poucas
diferenças tem dos românicos, além dos arcos ogivais e respetivas abóbadas, e
da presença de ameias e merlões.
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