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14/03/20

8 ARTE ROMÂNICA Escultura


8
 ARTE ROMÂNICA
 Escultura

O relevo tem um destaque especial na escultura românica, apresentando influências algo remotas das esculturas grega e romana, acrescidas de contribuições germânicas, escandinavas e muçulmanas.
Essas influências, algo díspares e aparentemente incompatíveis, fizeram ressurgir por toda a Europa um tipo de escultura com uma grande coerência temática, formal e técnica, conduzindo a um estilo próprio.
A escultura de cariz decorativo e com pendor marcadamente religioso, vai ressurgir a partir de meados do séc. XII no sudoeste de França e no norte de Espanha, ligada à ação das ordens religiosas e ao espírito de peregrinação.
Num período de grande controlo por parte da Igreja, os relevos apresentam relatos de histórias sagradas e de cenas bíblicas, mas também de cenas da vida quotidiana, neste caso sobretudo relacionadas com o trabalho rural.
A escultura em relevo, essencialmente vinculada à arquitetura, tinha um papel pedagógico, já que apresentava narrativas bíblicas acessíveis a quem não sabia ler, que era a população em geral. Assim, os relevos, juntamente com os frescos, eram como que a Bíblia dos analfabetos.
Os relevos apresentam-se como “evangelhos de pedra”, muitas vezes talhados com alguma ingenuidade, mas também pejados de fantasia.
Mais do que ilustrar cenas bíblicas e o quotidiano, eles pretendem facilitar o diálogo entre os fiéis e o pensamento religioso.
Fora dos universos paleocristão e bizantino, com as suas igrejas cobertas de mosaicos (nalguns casos também de frescos), a decoração arquitetónica do período préromânico foi muito austera, cingindo-se a pouco mais do que à decoração de capitéis.
Embora as igrejas românicas sejam sóbrias em termos de decoração, os relevos, originalmente pintados, podem surgir em diversos locais: capitéis, fustes de colunas e de colunelos, arcadas e arquivoltas, tímpanos, cornijas, mísulas, cachorradas, frisos, rosáceas e pias batismais.
O capitel românico é redondo em baixo, onde se apoia no fuste, e quadrado em cima. Adaptados a essa forma, os capitéis contêm composições vegetalistas, animalistas e geométricas, assim como cenas bíblicas, alegorias e detalhes do quotidiano.
O portal, no seu todo, simboliza o acesso à casa de Deus, à proteção divina.
O tímpano é muitas vezes um elemento ricamente decorado, sendo comum a representação de Cristo entronizado, envolto pela mandorla, ou amêndoa mística.
É curioso observar que, apesar de os relevos estarem subordinados aos elementos arquitetónicos já referidos, existem engenhosos processos para o seu enquadramento.
Em tímpanos, frisos e até nos capitéis conseguem-se elaboradas composições, inclusive com narrativas.
As formas e as figuras eram muitas vezes inspirados ou copiados das ilustrações de livros, de padrões de tecidos orientais, de marfins bizantinos e de referências dos vários povos bárbaros que invadiram a Europa nos séculos anteriores.
As temáticas religiosas mais frequentes são retiradas do “Apocalipse” e do “Juízo Final”.
A representação de Cristo surge essencialmente em majestade, junto dos quatro apóstolos ou dos seus símbolos.
Também é frequente a representação do Agnus Dei.
O medo do fim do mundo e dos poderes demoníacos foi também muito explorado, sobretudo com base em lendas, mitologia pagã e imaginário popular.
Daí surgiram autênticos bestiários que incluíam figuras híbridas e grotescas, algumas em posições obscenas.
Figuras humanas e outras são comummente representadas dum modo hierático, em poses frontais e rígidas, sendo frequentes as desproporções entre os diferentes elementos, assim como as incorreções anatómicas.
Após a queda do Império Romano, com a vinda dos povos invasores criou-se uma espiritualidade que recusava a estatuária de vulto completo.
Só a partir do séc. X, a estatuária foi ressurgindo, a partir do sul de França. Contudo, esteve longe de ter a importância do relevo.
Da estatuária românica destacam-se imagens da Virgem, entronizada ou com o Menino, por norma de cariz popular e adoradas sobretudo no meio rural.
Também em poses rígidas e com incorreções anatómicas, são feitas em metal, pedra, madeira e gesso, sempre pintadas.
A partir de meados do séc. XII, no sul de França e na Itália, as figuras libertam-se dos cânones rígidos e adquirem um toque clássico, sendo mais naturalistas e apresentando algum movimento.
Na transição para o período gótico, as imagens começam a evidenciar sentimentos humanos.
Cristo no calvário ou na cruz revela drama e sofrimento; a Virgem mostrase dorida.
Importa referir que a escultura românica de vulto completo é concebida para ser vista de frente, sendo que o lado de trás das figuras não apresenta qualquer motivo de interesse.
Nos túmulos românicos junta-se o relevo e a estatuária; o primeiro nas paredes da urna, a segunda na tampa, com a representação da figura jazente.
Num caso e noutro observam-se as caraterísticas formais e técnicas já referidas.
Das artes do metal destacam-se pequenas peças feitas em bronze fundido, e outras em metais preciosos, algumas contendo esmaltes ou gemas.
Existem também os cofres-relicário, com estrutura em madeira coberta por placas de ouro e prata com pedras preciosas.
A escultura em marfim, tradição vinda dos séculos anteriores, e de diferentes povos, tem também alguma relevância, sobretudo em crucifixos.

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