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ARTE ROMÂNICA
Escultura
O relevo tem um destaque especial
na escultura românica, apresentando influências algo remotas das esculturas
grega e romana, acrescidas de contribuições germânicas, escandinavas e muçulmanas.
Essas influências, algo díspares
e aparentemente incompatíveis, fizeram ressurgir por toda a Europa um tipo de
escultura com uma grande coerência temática, formal e técnica, conduzindo a um
estilo próprio.
A escultura de cariz decorativo e
com pendor marcadamente religioso, vai ressurgir a partir de meados do séc. XII
no sudoeste de França e no norte de Espanha, ligada à ação das ordens
religiosas e ao espírito de peregrinação.
Num período de grande controlo
por parte da Igreja, os relevos apresentam relatos de histórias sagradas e de
cenas bíblicas, mas também de cenas da vida quotidiana, neste caso sobretudo
relacionadas com o trabalho rural.
A escultura em relevo,
essencialmente vinculada à arquitetura, tinha um papel pedagógico, já que
apresentava narrativas bíblicas acessíveis a quem não sabia ler, que era a
população em geral. Assim, os relevos, juntamente com os frescos, eram como que
a Bíblia dos analfabetos.
Os relevos apresentam-se como
“evangelhos de pedra”, muitas vezes talhados com alguma ingenuidade, mas também
pejados de fantasia.
Mais do que ilustrar cenas
bíblicas e o quotidiano, eles pretendem facilitar o diálogo entre os fiéis e o
pensamento religioso.
Fora dos universos paleocristão e
bizantino, com as suas igrejas cobertas de mosaicos (nalguns casos também de
frescos), a decoração arquitetónica do período préromânico foi muito austera,
cingindo-se a pouco mais do que à decoração de capitéis.
Embora as igrejas românicas sejam
sóbrias em termos de decoração, os relevos, originalmente pintados, podem
surgir em diversos locais: capitéis, fustes de colunas e de colunelos, arcadas
e arquivoltas, tímpanos, cornijas, mísulas, cachorradas, frisos, rosáceas e
pias batismais.
O capitel românico é redondo em
baixo, onde se apoia no fuste, e quadrado em cima. Adaptados a essa forma, os
capitéis contêm composições vegetalistas, animalistas e geométricas, assim como
cenas bíblicas, alegorias e detalhes do quotidiano.
O portal, no seu todo, simboliza
o acesso à casa de Deus, à proteção divina.
O tímpano é muitas vezes um
elemento ricamente decorado, sendo comum a representação de Cristo entronizado,
envolto pela mandorla, ou amêndoa mística.
É curioso observar que, apesar de
os relevos estarem subordinados aos elementos arquitetónicos já referidos,
existem engenhosos processos para o seu enquadramento.
Em tímpanos, frisos e até nos
capitéis conseguem-se elaboradas composições, inclusive com narrativas.
As formas e as figuras eram
muitas vezes inspirados ou copiados das ilustrações de livros, de padrões de
tecidos orientais, de marfins bizantinos e de referências dos vários povos
bárbaros que invadiram a Europa nos séculos anteriores.
As temáticas religiosas mais
frequentes são retiradas do “Apocalipse” e do “Juízo Final”.
A representação de Cristo surge
essencialmente em majestade, junto dos quatro apóstolos ou dos seus símbolos.
Também é frequente a
representação do Agnus Dei.
O medo do fim do mundo e dos
poderes demoníacos foi também muito explorado, sobretudo com base em lendas,
mitologia pagã e imaginário popular.
Daí surgiram autênticos
bestiários que incluíam figuras híbridas e grotescas, algumas em posições
obscenas.
Figuras humanas e outras são
comummente representadas dum modo hierático, em poses frontais e rígidas, sendo
frequentes as desproporções entre os diferentes elementos, assim como as
incorreções anatómicas.
Após a queda do Império Romano,
com a vinda dos povos invasores criou-se uma espiritualidade que recusava a
estatuária de vulto completo.
Só a partir do séc. X, a
estatuária foi ressurgindo, a partir do sul de França. Contudo, esteve longe de
ter a importância do relevo.
Da estatuária românica
destacam-se imagens da Virgem, entronizada ou com o Menino, por norma de cariz
popular e adoradas sobretudo no meio rural.
Também em poses rígidas e com
incorreções anatómicas, são feitas em metal, pedra, madeira e gesso, sempre
pintadas.
A partir de meados do séc. XII,
no sul de França e na Itália, as figuras libertam-se dos cânones rígidos e
adquirem um toque clássico, sendo mais naturalistas e apresentando algum
movimento.
Na transição para o período
gótico, as imagens começam a evidenciar sentimentos humanos.
Cristo no calvário ou na cruz
revela drama e sofrimento; a Virgem mostrase dorida.
Importa referir que a escultura
românica de vulto completo é concebida para ser vista de frente, sendo que o
lado de trás das figuras não apresenta qualquer motivo de interesse.
Nos túmulos românicos junta-se o
relevo e a estatuária; o primeiro nas paredes da urna, a segunda na tampa, com
a representação da figura jazente.
Num caso e noutro observam-se as
caraterísticas formais e técnicas já referidas.
Das artes do metal destacam-se
pequenas peças feitas em bronze fundido, e outras em metais preciosos, algumas
contendo esmaltes ou gemas.
Existem também os
cofres-relicário, com estrutura em madeira coberta por placas de ouro e prata
com pedras preciosas.
A escultura em marfim, tradição
vinda dos séculos anteriores, e de diferentes povos, tem também alguma relevância,
sobretudo em crucifixos.
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