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ROMÂNICO
Pintura
Embora a pintura tenha tido uma grande
importância no período românico, não chegaram aos nossos dias tantas obras como
no caso da escultura, fruto da ação humana, do tempo e de alguns incidentes.
A pintura românica apresenta-se
sobretudo em duas modalidades: o fresco, na decoração de espaços arquitetónicos
interiores, principalmente igrejas; a iluminura, na ilustração de livros.
Em ambas, a temática dominante é
a religiosa.
Apesar das variantes estéticas e
formais, no essencial vamos encontrar na pintura caraterísticas idênticas às da
escultura, sendo nela evidentes as influências bizantina, carolíngia e
otoniana.
Embora pelos modos de fazer seja
possível identificar algumas escolas ou oficinas regionais ou locais, raramente
se conhecem os nomes dos autores dessas obras, tal como sucede com a escultura.
Aliás, sabe-se que muitas das
obras eram de execução coletiva.
Muitos dos pintores e escultores
eram artesãos e monges que se especializaram numa ou noutra área, devido a um
jeito especial ou a uma dedicação persistente.
A aprendizagem não era formal,
feita em escolas especializadas, mas adquiria-se na prática, sobretudo
copiando.
No caso da iluminura, sabe-se que
a aprendizagem era feita nas oficinas conventuais, entre os monges copistas.
No caso do fresco, era feita na
prática da decoração das igrejas, quando os edifícios eram dados por
concluídos.
No fresco, pouco ou nenhum espaço
de liberdade era deixado aos pintores, já que tanto os temas como as
composições eram definidas pelo patrono ou encomendador da obra.
Os pintores eram pouco mais do
que executantes de um plano estabelecido.
Muita da pintura românica conta
histórias do Velho e do Novo Testamento, destacando-se cenas apocalípticas,
passagens da vida de Cristo e de santos.
As principais caraterísticas da
pintura românica são:
- Uma forte presença do desenho, destacando-se
a linha como elemento estruturante;
- Falta de rigor anatómico, sendo frequentes
os corpos em posições algo desarticuladas;
- Tendência para a estilização e geometrização;
utilização quase exclusiva de cores planas;
- Cenários inexistentes, abstratos ou
simbólicos;
- Composições ora algo desordenadas, ora
assentes em esquemas repetitivos.
Comparativamente com os relevos,
existe na pintura uma maior dinâmica e algum sentido de ritmo.
Contuso, também a pintura assume um poder
simbólico, sobrenatural e doutrinário.
A nudez e a sobriedade que hoje existe em
muitas igrejas românicas era uma caraterística apenas das igrejas
cistercienses.
Nas restantes predominava uma
extensa policromia que revestia paredes, abóbadas, pilastras e relevos, numa
ambiência de encantamento e transcendência
Menos frequentes mas igualmente
significativos foram os retábulos pintados sobre madeira, usados principalmente
na decoração de altares.
Esses retábulos foram comuns na
Catalunha.
Também chegaram aos nossos dias
alguns tetos de madeira pintados com cenas ou figuras religiosas.
Na Itália, devido à tradição
romana e bizantina, continua a ser frequente a decoração das igrejas com riquíssimos
painéis de mosaicos, que tanto podem cobrir abóbadas como paredes, o chão ou
arcadas.
No início da Idade Média
enraizou-se o hábito de copiar manuscritos, nos scriptoriae das catedrais e dos
mosteiros.
Tal hábito deu origem a uma
tradição que se manteve até ao advento da imprensa.
Copiavam-se bíblias, manuais
litúrgicos, crónicas históricas, tratados filosóficos, etc.
Tais livros eram produtos raros e
preciosos, destinados a consumo interno ou a uma reduzida clientela de eruditos
que os valorizavam.
E mais preciosos se tornavam se
ricamente ilustrados com imagens fantasiosas e cheias de cor: as iluminuras.
Oscilando entre a figuração e os
ornamentos estilizados e geométricos, essas ilustrações tanto podiam ocupar uma
página inteira, como partilhá-la com a escrita, ou reduzirem-se à decoração das
iniciais de cada capítulo ou parágrafo.
Se bem que algumas iluminuras
apresentem desenhos e composições algo primárias, outras revelam uma enorme
destreza técnica e uma grande criatividade, levando a supor que provavelmente
haveria monges que se dedicavam em exclusividade a essa tarefa.
Executadas em ambiente pacato e
intimista, em geral as iluminuras apresentam um imaginário e uma diversidade
estética superiores às que se encontram nos frescos e nos relevos, sendo
provável que os seus motivos tivessem servido de referência a estas técnicas.
Consoante as regiões, as
iluminuras revelam influências específicas: na Alemanha, do período carolíngio;
nas Ilhas Britânicas, dos anglo-saxões e irlandeses; na Itália, da estética
bizantina; em Espanha, da arte muçulmana
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