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14/03/20

4 A ARTE MUÇULMANA


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A ARTE MUÇULMANA

 Num curto período de tempo, entre 711 e 718, deu-se a conquista muçulmana da Península Ibérica, passando esta a ser uma província do Califado Omíada, com capital em Damasco.
Contudo, após um conturbado período de sucessão no seio do califado, forma-se na Península, em 756, o independente Emirado de Córdova, com capital nessa cidade.
Dado o forte domínio muçulmano instalado neste relevante território, o mesmo passou a Califado de Córdova, em 929.
Mas, em 1009, um golpe de estado deu início a um período de sangrentos conflitos, com deposições dos sucessivos califas.
No decorrer de tais conflitos, o califado acabou por ser abolido, em 1031, ficando o território dividido em vários reinos, as Taifas, que duraram até ao séc. XIII, chegando a ser trinta e nove.
Contudo, eram também frequentes as lutas de poder entre taifas e no interior das mesmas, a que não são alheias as questões familiares e étnicas, já que os muçulmanos ibéricos eram de diferentes origens: árabes, berberes, sírios, etc.
Em 1056, as taifas foram assimiladas pelo Califado Almorávida, composto pelos atuais Marrocos, Saara Ocidental e Mauritânia.
Voltaram a formar-se e de novo foram assimiladas, em 1147, desta vez pelo Califado Almóada, estendendo-se por territórios dos atuais Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
 Fruto das conquistas cristãs, o Al-Andalus (designação dada pelos historiadores árabes ao território muçulmano da Península) acabou por ficar reduzido a uma pequena área geográfica situada a sul, na atual Andaluzia.
Em 1238, aí se formou o Reino Nazarí de Granada, com capital nessa cidade, que perdurou até 1492, ano em que Castela conquistou esse último reduto muçulmano na Península Ibérica.
Durou quase oito séculos o domínio dos muçulmanos no sul da Península.
A sua arte é estudada em função dos diferentes períodos históricos: Califados, Emirado, Taifas, Almorávida, Almóada e Nazarí.
A arquitetura é a grande arte do mundo muçulmano, para ela convergindo as artes aplicadas e decorativas, como a azulejaria, a cerâmica, o estuque, a tapeçaria, etc.
A representação figurativa é proibida em contexto religioso, surgindo em peças cerâmicas e na ilustração de livros que versem outras temáticas.
Algumas caraterísticas da arquitetura são transversais a épocas, regiões e gostos:
 - Utilização de arcos em ferradura (simples, apontado e peraltado), polilobados e entrecruzados;
 - Decoração com motivos essencialmente geométricos, em azulejo e estuque, em torno de portas, janelas, arcadas, cúpulas e mirabe (ou mihrab).
Pelas suas dimensões, beleza ou estado de conservação, destacam-se as seguintes construções:
 - Grande Mesquita, em Córdova: dos períodos do Emirado e do Califado, que foi até ao século XVI a 2.ª maior mesquita do mundo, e a 3.ª até finais do séc. XX; começou a ser construída em 786, no local onde existia uma basílica visigótica; teve uma ampliação em meados do séc. IX e duas no séc. X; no 2.º quartel do séc. XIII, após a reconquista, foi construída no seu interior a Capela-Mor (atual Capela de Villaviciosa), em estilo romano-gótico; um século depois foi construída a Capela Real, em estilo mudéjar; no final do séc. XV e ao longo do séc. XVI foi aberta uma grande nave no seu interior e construída uma catedral em estilo renascentista / maneirista, com detalhes que anunciam o estilo barroco.
 - Aljafería, em Saragoça: palácio real fortificado, construído na 2.ª metade do séc. XI, durante um período Taifa; trata-se de uma construção de recreio, então chamado “Palácio da Alegria”; no interior duma cintura de muralhas, tem aposentos, espaços de lazer e uma pequena mesquita; em finais do séc. XV, os Reis Católicos mandaram construir nele um palácio, em estilo mudéjar, que foi acrescentado num 2.º piso; teve importantes obras de restauro no séc. XIX; nela nasceu a infanta Isabel de Aragão, futura rainha Santa Isabel, de Portugal.
 - Giralda de Sevilha: torre-campanário da Catedral de Sevilha, originalmente era o minarete da mesquita que existia no mesmo local; foi construída em finais do séc. XII; o seu último terço foi acrescentado após a reconquista, em estilo renascentista; tem 95 metros de altura.
 - Torre do Ouro, em Sevilha: era a torre-albarrã das muralhas defensivas da cidade, no período Almóada; o seu corpo principal, dodecagonal, foi construído em 1220-21; após a reconquista, no séc. XIV, foi-lhe acrescentado um segundo corpo, em estilo gótico; por fim foi-lhe acrescentado um corpo cilíndrico com cúpula, em 1760, cinco anos após o grande terramoto.
 - Reais Alcazares, em Sevilha: conjunto fortificado de palácios, pátios e jardins, que começou a ser construído em 713; o primeiro dos seus palácios serviu de residência de líderes muçulmanos, a partir de 720; posteriormente, ao núcleo inicial foram acrescentados outros palácios e residências; após a reconquista cristã, o conjunto sofreu alterações, ficando também com exemplos de arte mudéjar, gótica, renascentista e barroca; atualmente, além de ser um agradável espaço de lazer aberto ao público, constitui uma das residências da família real e nele ficam hospedados convidados ilustres.
 - Alcazaba de Badajoz: grandioso conjunto de muralhas em torno da antiga cidadela, ou alcáçova, do período Almóada; começou a ser construída no séc. IX mas a sua configuração definitiva é do séc. XII; nela residiram os monarcas da Taifa de Badajoz; com cerca de 400 x 200m, é a maior alcáçova da Europa.
 - Alhambra, em Granada: cidadela e palácios do período Nazarí: cidadela fortificada, com palácios, pátios e jardins do período Nazarí; construída entre meados do séc. XIII e meados do séc. XIV; servia de residência do monarca do Reino de Granada; era também local de refúgio de artistas e intelectuais; após a reconquista cristã sofreu algumas alterações, mas grande parte do património muçulmano foi preservado; a sua beleza está sobretudo na relação entre os interiores e exteriores, e nas sumptuosas decorações de estuque; os espaços jardinados são intervenções mais recentes.
 - Generalife, em Granada: palácio vizinho da Alhambra, construído entre 1302 e 1324, no período Nazarí, como residência de verão; a localização e a simplicidade das suas formas conferem-lhe uma elegância muito peculiar; é também rico em estuques decorativos; os jardins atuais são dos sécs. XIX e XX. Para estudos mais específicos ou aprofundados, convém saber que a Arte Muçulmana da Península (e suas derivações) não é, contudo, tão estanque como possa aparentar. Vejamos as designações que se seguem.
- Arte Muçulmana (ou Islâmica): Produzida pelos povos praticantes dessa religião; é também o termo que utilizamos para a arte por eles produzida na Península Ibérica.
- Arte Hispano-árabe (Hispano-muçulmana ou Mourisca): Produzida pelos árabes e outros muçulmanos em território espanhol ou ibérico.
 - Arte Árabe: Produzida pelo povo árabe e outros sob sua influência direta.
 - Arte Moçárabe: Produzida pelos cristãos em território ibérico dominado pelos muçulmanos, com influência formal e estética muçulmana.
 - Arte Mudéjar: Produzida pelos cristãos após a reconquista, também com influência formal e estética muçulmana.
 - Arte Neo-árabe: Revivalismo artístico de finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, integrado na fase final do Romantismo, com influência formal e estética muçulmana.

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