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A ARTE MUÇULMANA
Num curto período de tempo, entre 711 e 718,
deu-se a conquista muçulmana da Península Ibérica, passando esta a ser uma
província do Califado Omíada, com capital em Damasco.
Contudo, após um conturbado
período de sucessão no seio do califado, forma-se na Península, em 756, o
independente Emirado de Córdova, com capital nessa cidade.
Dado o forte domínio muçulmano
instalado neste relevante território, o mesmo passou a Califado de Córdova, em
929.
Mas, em 1009, um golpe de estado
deu início a um período de sangrentos conflitos, com deposições dos sucessivos
califas.
No decorrer de tais conflitos, o
califado acabou por ser abolido, em 1031, ficando o território dividido em
vários reinos, as Taifas, que duraram até ao séc. XIII, chegando a ser trinta e
nove.
Contudo, eram também frequentes
as lutas de poder entre taifas e no interior das mesmas, a que não são alheias
as questões familiares e étnicas, já que os muçulmanos ibéricos eram de
diferentes origens: árabes, berberes, sírios, etc.
Em 1056, as taifas foram
assimiladas pelo Califado Almorávida, composto pelos atuais Marrocos, Saara
Ocidental e Mauritânia.
Voltaram a formar-se e de novo
foram assimiladas, em 1147, desta vez pelo Califado Almóada, estendendo-se por
territórios dos atuais Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
Fruto das conquistas cristãs, o Al-Andalus
(designação dada pelos historiadores árabes ao território muçulmano da
Península) acabou por ficar reduzido a uma pequena área geográfica situada a
sul, na atual Andaluzia.
Em 1238, aí se formou o Reino
Nazarí de Granada, com capital nessa cidade, que perdurou até 1492, ano em que
Castela conquistou esse último reduto muçulmano na Península Ibérica.
Durou quase oito séculos o
domínio dos muçulmanos no sul da Península.
A sua arte é estudada em função
dos diferentes períodos históricos: Califados, Emirado, Taifas, Almorávida,
Almóada e Nazarí.
A arquitetura é a grande arte do
mundo muçulmano, para ela convergindo as artes aplicadas e decorativas, como a
azulejaria, a cerâmica, o estuque, a tapeçaria, etc.
A representação figurativa é
proibida em contexto religioso, surgindo em peças cerâmicas e na ilustração de
livros que versem outras temáticas.
Algumas caraterísticas da
arquitetura são transversais a épocas, regiões e gostos:
- Utilização de arcos em ferradura (simples,
apontado e peraltado), polilobados e entrecruzados;
- Decoração com motivos essencialmente
geométricos, em azulejo e estuque, em torno de portas, janelas, arcadas,
cúpulas e mirabe (ou mihrab).
Pelas suas dimensões, beleza ou
estado de conservação, destacam-se as seguintes construções:
- Grande Mesquita, em Córdova: dos períodos do
Emirado e do Califado, que foi até ao século XVI a 2.ª maior mesquita do mundo,
e a 3.ª até finais do séc. XX; começou a ser construída em 786, no local onde
existia uma basílica visigótica; teve uma ampliação em meados do séc. IX e duas
no séc. X; no 2.º quartel do séc. XIII, após a reconquista, foi construída no
seu interior a Capela-Mor (atual Capela de Villaviciosa), em estilo
romano-gótico; um século depois foi construída a Capela Real, em estilo
mudéjar; no final do séc. XV e ao longo do séc. XVI foi aberta uma grande nave
no seu interior e construída uma catedral em estilo renascentista / maneirista,
com detalhes que anunciam o estilo barroco.
- Aljafería, em Saragoça: palácio real
fortificado, construído na 2.ª metade do séc. XI, durante um período Taifa;
trata-se de uma construção de recreio, então chamado “Palácio da Alegria”; no
interior duma cintura de muralhas, tem aposentos, espaços de lazer e uma
pequena mesquita; em finais do séc. XV, os Reis Católicos mandaram construir
nele um palácio, em estilo mudéjar, que foi acrescentado num 2.º piso; teve
importantes obras de restauro no séc. XIX; nela nasceu a infanta Isabel de
Aragão, futura rainha Santa Isabel, de Portugal.
- Giralda de Sevilha: torre-campanário da
Catedral de Sevilha, originalmente era o minarete da mesquita que existia no
mesmo local; foi construída em finais do séc. XII; o seu último terço foi
acrescentado após a reconquista, em estilo renascentista; tem 95 metros de
altura.
- Torre do Ouro, em Sevilha: era a
torre-albarrã das muralhas defensivas da cidade, no período Almóada; o seu
corpo principal, dodecagonal, foi construído em 1220-21; após a reconquista, no
séc. XIV, foi-lhe acrescentado um segundo corpo, em estilo gótico; por fim
foi-lhe acrescentado um corpo cilíndrico com cúpula, em 1760, cinco anos após o
grande terramoto.
- Reais Alcazares, em Sevilha: conjunto
fortificado de palácios, pátios e jardins, que começou a ser construído em 713;
o primeiro dos seus palácios serviu de residência de líderes muçulmanos, a
partir de 720; posteriormente, ao núcleo inicial foram acrescentados outros
palácios e residências; após a reconquista cristã, o conjunto sofreu
alterações, ficando também com exemplos de arte mudéjar, gótica, renascentista
e barroca; atualmente, além de ser um agradável espaço de lazer aberto ao
público, constitui uma das residências da família real e nele ficam hospedados
convidados ilustres.
- Alcazaba de Badajoz: grandioso conjunto de
muralhas em torno da antiga cidadela, ou alcáçova, do período Almóada; começou
a ser construída no séc. IX mas a sua configuração definitiva é do séc. XII;
nela residiram os monarcas da Taifa de Badajoz; com cerca de 400 x 200m, é a
maior alcáçova da Europa.
- Alhambra, em Granada: cidadela e palácios do
período Nazarí: cidadela fortificada, com palácios, pátios e jardins do período
Nazarí; construída entre meados do séc. XIII e meados do séc. XIV; servia de
residência do monarca do Reino de Granada; era também local de refúgio de
artistas e intelectuais; após a reconquista cristã sofreu algumas alterações,
mas grande parte do património muçulmano foi preservado; a sua beleza está
sobretudo na relação entre os interiores e exteriores, e nas sumptuosas
decorações de estuque; os espaços jardinados são intervenções mais recentes.
- Generalife, em Granada: palácio vizinho da
Alhambra, construído entre 1302 e 1324, no período Nazarí, como residência de
verão; a localização e a simplicidade das suas formas conferem-lhe uma
elegância muito peculiar; é também rico em estuques decorativos; os jardins
atuais são dos sécs. XIX e XX. Para estudos mais específicos ou aprofundados,
convém saber que a Arte Muçulmana da Península (e suas derivações) não é,
contudo, tão estanque como possa aparentar. Vejamos as designações que se
seguem.
- Arte Muçulmana (ou Islâmica):
Produzida pelos povos praticantes dessa religião; é também o termo que
utilizamos para a arte por eles produzida na Península Ibérica.
- Arte Hispano-árabe (Hispano-muçulmana
ou Mourisca): Produzida pelos árabes e outros muçulmanos em território espanhol
ou ibérico.
- Arte Árabe: Produzida pelo povo árabe e
outros sob sua influência direta.
- Arte Moçárabe: Produzida pelos cristãos em
território ibérico dominado pelos muçulmanos, com influência formal e estética
muçulmana.
- Arte Mudéjar: Produzida pelos cristãos após
a reconquista, também com influência formal e estética muçulmana.
- Arte Neo-árabe: Revivalismo artístico de
finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, integrado na fase final do
Romantismo, com influência formal e estética muçulmana.
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