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14/02/17

A GRANDE REVOLUÇÃO DAS MENTALIDADES NA EUROPA: O RENASCIMENTO (Fins do Séc.XV a fins do Séc.XVII) - II

A GRANDE REVOLUÇÃO DAS MENTALIDADES NA EUROPA:

O RENASCIMENTO (Fins do Séc.XV a fins do Séc.XVII) -2ª Parte






No Renascimento, o ressurgimento social de artistas era uma condição essencial para o florescimento de novas ideias.
Os poetas do Renascimento descobriam a beleza da paisagem e os cidadãos a beleza das suas cidades.
O objectivo único dos monumentos é enaltecer a memória da pessoa e das suas façanhas, algo que surge pela primeira vez desde a Antiguidade.
Florença é o centro da nova época. Nela emerge, nos finais da Idade Média, uma imagem nova do Homem, uma atitude mental a que chamamos Humanismo, porque coloca o Homem no centro de todas as suas ideias.
A história do Renascimento é a história das cidades-estado da Itália.
Florença, a cidade dos Médicis, era uma das mais ricas e poderosas. A nova sensação de segurança e a nova riqueza desenvolveram-se abertamente e sem timidez nas artes. Num torneio celebrado na cidade em 1469, o jovem Lourenço de Medicis surgiu com a frase "Retorna o tempo". Esta frase expressava a aspiração suprema da época, o regresso de uma idade ideal. O desejo de renovação e de rejuvenescimento deu a esta época o seu nome: Renascimento.
A ideia de uma renovação já se havia espalhado pela Itália há muito tempo. Nunca se tinha esquecido que Roma tinha sido o centro do mundo.
A arquitectura nas cidades-estado italianas tinha sido sempre especialmente concebida para se transformar no símbolo das ideias da cidade.
Em Florença a reconstrução da antiga catedral iria ser coroada por uma cúpula de enorme altura e largura. A criação desta obra maior deu a Florença uma vista que se alcançava de todos os horizontes.
Os arquitectos da época, por volta de 1420, estavam no limite das suas possibilidades. As dificuldades técnicas pareciam insuperáveis mas o espírito audaz do Renascimento levou a cabo a tarefa legada da Idade Média como problema insolúvel. A técnica de construção com abóbadas, herdada da Alta Idade Média, tinha caído no esquecimento quando um homem brilhante - Filippo Brunelleschi - soube desenvolver um método para erguer grandes abóbadas sem suportes temporais. A cúpula da catedral florentina tornou-se a expressão visível das novas aspirações da época.
No claustro da igreja franciscana de Florença, Filippo Brunelleschi construiu uma capela que servia os monges como Sala Capitular. Actualmente é conhecida pelo nome dos seus doadores, a abastada família Pacci. O segredo de Brunelleschi está no efeito de conjunto que a simplicidade de todos os elementos arquitectónicos individuais eleva a uma grande dignidade formal. No interior a superfície branca da parede se estende rodeada de pedra cinzenta. O espaço assenta nele próprio. As suas proporções claras e simples, o limite ininterrupto do entablamento, a pureza dos arcos em semi-círculo, as abóbadas de canhão e a ocorrência das superfícies geométricas criam uma harmonia excepcional. É preciso recordar os anéis góticos nas alturas, numa época imediatamente anterior, para valorizar a ruptura dramática que representa este estilo novo de arquitectura.
Na "Loggia dos Inocentes", construída em Florença a partir de 1419, Brunelleschi eleva o motivo dos arcos com colunas a uma expressão dominante. Havia sido uma prática comum em Itália, desenhar as fachadas dos hospitais como átrios abertos. Estas loggias eram zonas de recreio para os convalescentes. Brunelleschi aproveitou-se deste costume apesar de não existir aqui nada que recorde a origem medieval do motivo. A loggia expressa a simetria pura das proporções clássicas. Nos tímpanos das arcadas encontramos os famosos medalhões com crianças do estúdio de Della Robia, informando o visitante, desta forma tão elaborada, da finalidade caritativa do edifício.
Conta-se que Brunelleschi se deslocou a Roma para estudar as ruínas dos edifícios antigos. Quando, como um arqueólogo, começou a escavar as fundações, os habitantes tomaram-no como alguém que procura ouro.
O arquitecto fazia esses trabalhos para tirar as escalas das proporções e não com a intenção de copiar, dado que desejava criar um estilo arquitectónico novo, em que os elementos clássicos como colunas, pilares, arcos, entablamentos, perfis estruturais de portas e janelas se misturassem numa nova harmonia com o novo estilo da época.
Em nenhum outro local, o homem desenvolveu, na Idade Média tardia, um sentido tão elevado de auto-confiança, como na próspera cidade mercantil de Florença. Também porque era aqui que residiam os artistas capazes de expressar esta nova atitude. Um dos mais importantes foi Donatello.
Por volta de 1415, o poderoso Grémio dos Armeiros encomendou a Donatello, uma estátua em mármore em honra do seu santo padroeiro, S. Jorge. Os armeiros desejavam ver os seus ofícios representados na armadura do cavaleiro cristão e receberam muito mais: a primeira escultura em tamanho natural desde a Antiguidade. É uma escultura magnífica, apoiada em si própria, segura e completa.
Esta concepção da figura humana era totalmente nova. A vivacidade da escultura é acentuada pela clareza e simplicidade dos seus contornos.
Miguel Ângelo disse uma vez que seria possível atirar uma boa escultura por uma ladeira abaixo, sem que se partisse nenhuma das suas partes. No São Jorge de Donatello, esta ideia tinha-se tornado realidade. A auto-confiança irradiada por esta escultura caracteriza a nova imagem do homem e não apenas na arte, mas também na sociedade.
Em 1401, os fiandeiros, um dos grémios mais poderosos que, com a sua riqueza, tinha uma enorme influência na vida de Florença, convocaram um concurso artístico. O vencedor receberia a encomenda de uma nova porta de bronze do baptistério.
Conservou-se o trabalho dos dois concorrentes. Os dois baixos-relevos descrevem o sacrifício de Isaac.
O prémio foi ganho pelo ourives LOURENZO GHIBERTI.
No "sacrifício de Isaac" misturam-se a delicadeza das linhas do gótico tardio com o ideal antigo da beleza física.
Mais tarde GHIBERTI foi encarregado de fazer outra porta para o baptistério. O escultor de bronze esforçou-se por imitar as possibilidades da pintura. No baixo-relevo modelou não somente formas arquitectónicas interiores, mas também paisagens.
Numa imperceptível graduação das figuras tridimensionais, as mais delicadas elevações do fundo, o escultor evoca a profundidade do espaço e sua atmosfera. Nos painéis da porta narram-se histórias do Antigo Testamento, histórias de Abraão, Caim, Abel e José.
Nestes painéis, Ghiberti juntou vários episódios da Bíblia, misturando-os em sequências pictóricas, criando uma nova unidade na multiplicidade dos motivos.
Em Ghiberti, a combinação entre espaço e figura foi uma conquista fundamental para a arte da composição do Renascimento.
Miguel Ângelo achou esta porta tão bela que afirmou ser digna de adornar as portas do Paraíso. Desde então é conhecida como "A porta do Paraíso".
Nestes baixos-relevos Ghiberti aproveitou uma das invenções mais importantes da época em Florença, a invenção da perspectiva.
Até a República de Veneza que reservava zelosamente as suas honras para os seus próprios súbditos, insistiu na construção de um monumento equestre a um líder de tropas marcenarias. A encomenda foi feita a um escultor experiente, ANDREA VERROCHIO. O General Bartolomeu Colleoni chega à batalha, montado no seu cavalo, destacando-se, na Praça de São João e Paulo.
Como é natural, os pintores da Antiguidade e da Idade Média sabiam que quanto maior a distância, mais pequenos pareciam os objectos e que é a posição do objecto em relação ao olhar do observador que determina a sua aparência em termos de dimensão.
 Contudo as tentativas careciam duma abordagem sistemática.
A lei da perspectiva foi descoberta pelo brilhante arquitecto florentino Filippo Brunelleschi.
Uma das primeiras pinturas monumentais feita de acordo com as novas leis ópticas e matemáticas é o fresco mural de MASACCIO "A Santíssima Trindade", com Maria e João da igreja florentina de Santa Maria Novella. É uma igreja simples, com uma abóbada que se abre a meio de uma estrutura de colunas e pilares. Nesse ponto a parede do corredor da igreja parece que se rasga e que é possível penetrar nela. Pela primeira vez, era possível apresentar o mundo tal como o homem o via.
Nas pinturas feitas com perspectiva, tudo é feito do ponto de vista do observador.
Nunca antes se tinha considerado tanto o ser humano individual.


09/02/17

A GRANDE REVOLUÇÃO DAS MENTALIDADES NA EUROPA: O RENASCIMENTO (Fins do Séc.XV a fins do Séc.XVII) -I


A GRANDE REVOLUÇÃO DAS MENTALIDADES NA EUROPA:
O RENASCIMENTO (Fins do Séc.XV a fins do Séc.XVII) -I

O Renascimento é a idade dos descobrimentos e de uma visão nova do mundo, de um mundo em que o homem determina o seu próprio destino.
Todos os pensamentos confluem para a arte, para a busca e para a experiência. Traçam-se novos caminhos em todos os campos.
Na arte, a descrição naturalista da Natureza e do Homem é o principal objectivo. O Homem descobre a sua humanidade e unicidade. Os rostos irradiam uma sensação de segurança que superou os temores medievais da retribuição divina e do Juízo Final.
A importância dos homens já não era determinada pelo nascimento e origem mas sim, em grande parte, pelos seus feitos pessoais realizados na infinita variedade das actividades humanas: políticas, militares, mercantis ou artísticas.
A habilidade era decisiva.
Surgiu uma elite de homens hábeis e de líderes militares (como Francesco Sforza em Milão), que também correspondiam a estas qualidades.
Os Médicis, em Florença, lideravam a banca internacional mais próspera. O círculo de amigos de Lourenço, o Magnífico, incluía artistas, poetas e estudiosos, de todos os extractos sociais.
Na Idade Média as pessoas orgulhavam-se dos seus santos e das suas relíquias. No Renascimento, as pessoas começavam a ter orgulho sobretudo nos seus conterrâneos importantes, artistas, poetas e chefes militares.
Os artistas assinavam abertamente os seus trabalhos e as suas obras e libertavam-se das restrições dos Grémios aceitando pessoalmente encomendas, como particulares.

Surge um novo culto da fama.