A GRANDE REVOLUÇÃO
DAS MENTALIDADES NA EUROPA:
O RENASCIMENTO (Fins
do Séc.XV a fins do Séc.XVII) -2ª Parte
No Renascimento, o ressurgimento social de artistas era uma
condição essencial para o florescimento de novas ideias.
Os poetas do Renascimento descobriam a beleza da paisagem e
os cidadãos a beleza das suas cidades.
O objectivo único dos monumentos é enaltecer a memória da
pessoa e das suas façanhas, algo que surge pela primeira vez desde a
Antiguidade.
Florença é o centro da nova época. Nela emerge, nos finais
da Idade Média, uma imagem nova do Homem, uma atitude mental a que chamamos Humanismo, porque coloca o Homem no
centro de todas as suas ideias.
A história do Renascimento é a história das cidades-estado
da Itália.
Florença, a cidade dos Médicis, era uma das mais ricas e
poderosas. A nova sensação de segurança e a nova riqueza desenvolveram-se
abertamente e sem timidez nas artes. Num torneio celebrado na cidade em 1469, o
jovem Lourenço de Medicis surgiu com a frase "Retorna o tempo". Esta
frase expressava a aspiração suprema da época, o regresso de uma idade ideal. O
desejo de renovação e de rejuvenescimento deu a esta época o seu nome:
Renascimento.
A ideia de uma renovação já se havia espalhado pela Itália
há muito tempo. Nunca se tinha esquecido que Roma tinha sido o centro do mundo.
A arquitectura nas cidades-estado italianas tinha sido
sempre especialmente concebida para se transformar no símbolo das ideias da
cidade.
Em Florença a reconstrução da antiga catedral iria ser coroada por uma cúpula de enorme altura e
largura. A criação desta obra maior deu a Florença uma vista que se alcançava
de todos os horizontes.
Os arquitectos da época, por volta de 1420, estavam no
limite das suas possibilidades. As dificuldades técnicas pareciam insuperáveis
mas o espírito audaz do Renascimento levou a cabo a tarefa legada da Idade
Média como problema insolúvel. A técnica de construção com abóbadas, herdada da
Alta Idade Média, tinha caído no esquecimento quando um homem brilhante -
Filippo Brunelleschi - soube desenvolver um método para erguer grandes abóbadas sem suportes temporais. A cúpula da catedral florentina
tornou-se a expressão visível das novas aspirações da época.
No claustro da igreja franciscana de Florença, Filippo
Brunelleschi construiu uma capela
que servia os monges como Sala Capitular. Actualmente é conhecida pelo nome dos
seus doadores, a abastada família Pacci.
O segredo de Brunelleschi está no efeito de conjunto que a simplicidade de
todos os elementos arquitectónicos individuais eleva a uma grande dignidade
formal. No interior a superfície branca da parede se estende rodeada de pedra
cinzenta. O espaço assenta nele próprio. As suas proporções claras e simples,
o limite ininterrupto do entablamento, a pureza dos arcos em semi-círculo, as
abóbadas de canhão e a ocorrência das superfícies geométricas criam uma
harmonia excepcional. É preciso recordar os anéis góticos nas alturas, numa
época imediatamente anterior, para valorizar a ruptura dramática que representa
este estilo novo de arquitectura.
Na "Loggia dos Inocentes", construída em Florença
a partir de 1419, Brunelleschi eleva o motivo dos arcos com colunas a uma
expressão dominante. Havia sido uma prática comum em Itália, desenhar as
fachadas dos hospitais como átrios abertos. Estas loggias eram zonas de recreio
para os convalescentes. Brunelleschi aproveitou-se deste costume apesar de não
existir aqui nada que recorde a origem medieval do motivo. A loggia expressa a
simetria pura das proporções clássicas. Nos tímpanos das arcadas encontramos os
famosos medalhões com crianças do estúdio de Della Robia, informando o
visitante, desta forma tão elaborada, da finalidade caritativa do edifício.
Conta-se que Brunelleschi se deslocou a Roma para estudar as
ruínas dos edifícios antigos. Quando, como um arqueólogo, começou a escavar as
fundações, os habitantes tomaram-no como alguém que procura ouro.
O arquitecto fazia esses trabalhos para tirar as escalas das
proporções e não com a intenção de copiar, dado que desejava criar um estilo
arquitectónico novo, em que os elementos clássicos como colunas, pilares,
arcos, entablamentos, perfis estruturais de portas e janelas se misturassem
numa nova harmonia com o novo estilo da época.
Em nenhum outro local, o homem desenvolveu, na Idade Média
tardia, um sentido tão elevado de auto-confiança, como na próspera cidade
mercantil de Florença. Também porque era aqui que residiam os artistas capazes
de expressar esta nova atitude. Um dos mais importantes foi Donatello.
Por volta de 1415, o poderoso Grémio dos Armeiros encomendou a Donatello, uma estátua em mármore
em honra do seu santo padroeiro, S.
Jorge. Os armeiros desejavam ver os seus ofícios representados na armadura
do cavaleiro cristão e receberam muito mais: a primeira escultura em tamanho
natural desde a Antiguidade. É uma escultura magnífica, apoiada em si própria,
segura e completa.
Esta concepção da figura humana era totalmente nova. A
vivacidade da escultura é acentuada pela clareza e simplicidade dos seus
contornos.
Miguel Ângelo disse uma vez que seria possível atirar uma
boa escultura por uma ladeira abaixo, sem que se partisse nenhuma das suas
partes. No São Jorge de Donatello,
esta ideia tinha-se tornado realidade. A auto-confiança irradiada por esta
escultura caracteriza a nova imagem do homem e não apenas na arte, mas também
na sociedade.
Em 1401, os fiandeiros,
um dos grémios mais poderosos que, com a sua riqueza, tinha uma enorme
influência na vida de Florença, convocaram um concurso artístico. O vencedor receberia
a encomenda de uma nova porta de bronze
do baptistério.
Conservou-se o trabalho dos dois concorrentes. Os dois
baixos-relevos descrevem o sacrifício de
Isaac.
O prémio foi ganho pelo ourives LOURENZO GHIBERTI.
No "sacrifício de Isaac" misturam-se a delicadeza
das linhas do gótico tardio com o ideal antigo da beleza física.
Mais tarde GHIBERTI foi encarregado de fazer outra porta
para o baptistério. O escultor de bronze esforçou-se por imitar as
possibilidades da pintura. No baixo-relevo modelou não somente formas
arquitectónicas interiores, mas também paisagens.
Numa imperceptível graduação das figuras tridimensionais, as
mais delicadas elevações do fundo, o escultor evoca a profundidade do espaço e
sua atmosfera. Nos painéis da porta narram-se histórias do Antigo Testamento,
histórias de Abraão, Caim, Abel e José.
Nestes painéis, Ghiberti juntou vários episódios da Bíblia,
misturando-os em sequências pictóricas, criando uma nova unidade na
multiplicidade dos motivos.
Em Ghiberti, a combinação entre espaço e figura foi uma
conquista fundamental para a arte da composição do Renascimento.
Miguel Ângelo achou esta porta tão bela que afirmou ser
digna de adornar as portas do Paraíso. Desde então é conhecida como "A porta do Paraíso".
Nestes baixos-relevos Ghiberti aproveitou uma das invenções
mais importantes da época em Florença, a invenção da perspectiva.
Até a República de Veneza que reservava zelosamente as suas
honras para os seus próprios súbditos, insistiu na construção de um monumento
equestre a um líder de tropas marcenarias. A encomenda foi feita a um escultor
experiente, ANDREA VERROCHIO. O General Bartolomeu Colleoni chega à
batalha, montado no seu cavalo, destacando-se, na Praça de São João e Paulo.
Como é natural, os pintores da Antiguidade e da Idade Média
sabiam que quanto maior a distância, mais pequenos pareciam os objectos e que é
a posição do objecto em relação ao olhar do observador que determina a sua
aparência em termos de dimensão.
Contudo as tentativas
careciam duma abordagem sistemática.
A lei da perspectiva foi descoberta pelo brilhante
arquitecto florentino Filippo Brunelleschi.
Uma das primeiras pinturas monumentais feita de acordo com
as novas leis ópticas e matemáticas é o fresco mural de MASACCIO "A Santíssima Trindade", com
Maria e João da igreja florentina de
Santa Maria Novella. É uma igreja simples, com uma abóbada que se abre a
meio de uma estrutura de colunas e pilares. Nesse ponto a parede do corredor da
igreja parece que se rasga e que é possível penetrar nela. Pela primeira vez,
era possível apresentar o mundo tal como o homem o via.
Nas pinturas feitas com perspectiva, tudo é feito do ponto
de vista do observador.
Nunca antes se tinha considerado tanto o ser humano
individual.