Mensagem de boas vindas

Bem Vindo ao blog Campo da Forca. Apontamentos pessoais também abertos a quem os quiser ver.

29/12/15

Lista de 30 filmes para um melhor entendimento sobre a arte, pintores e momentos históricos.

1) Carnival in Flanders, 1935 
A obra retrata a chegada dos soldados espanhóis a Flandres e aspectos da escola barroca holandesa e espanhola.

2) Rembrandt, 1936 - A obra retrata a mudança de vida do pintor Rembrandt e a morte de sua companheira.

3) The moon and sixpence, 1943 - Obra adaptada da vida Paul Gauguin.

4) Cinco mulheres ao redor de Utamaro, 1946: adaptação da vida do pintor japonês Utamaro.

5) Moulin Rouge, 1952 - Baseada na novela de Pierre La Mure, o filme retrata momentos da vida do pintor Toulouse-Lautrec.

6) Lust for Life, 1956 - Adaptação sobre a vida de Vincent Van Gogh.

7) O mistério de Picasso, 1956 - Adaptação sobre a vida de Pablo Picasso.

8) Montparnasse 19, 1958: adaptação sobre a vida do escultor e pintor Amadeo Modiglani.

9) El Greco, 1966: adaptação da vida de Donénikos Theotokópoulos, El Greco.

10) Frida: natureza viva, 1984 - Adaptação da vida de Frida Kahlo.

11) Caravaggio, 1985 - Adaptação da vida e obra de Michelangelo Merisi, Caravaggio.

12) A paixão de Camille Claudel, 1988: adaptação da vida da escultora Camille Claudel.

13) Dalí, 1991: adaptação sobre o início da fama de Salvador Dalí.

14) Vincent e Theo, 1990 - Fragmentos da vida do pintor holandês Van Gogh e de seu irmão.

15) Van Gogh, 1991: adaptação sobre o último verão da vida de Van Gogh.

16) Surviving Picasso, 1996: adaptação da vida de Picasso e sua amante Françoise Gilot.

17) I shot Andy Warhol, 1996 - Filme que retrata a sociedade e arte dos anos 60, baseado na história de Valerie Solanas.

18) El amor es el demonio, 1998: adaptação do momento de maior êxito de Francis Bacon, em confluência com o momento que seu companheiro decide acabar com a própria vida.

19) Lautrec, 1998: adaptação da vida de Toulouse Lautrec, baseada em sua vida pessoal.

20) La hora de los valientes, 1998: representação do translado das obras de arte do Museo del Prado até Valência durante a Guerra Civil.

21) Goya en Burdeos, 1999: adaptação dos últimos meses de vida de Goya.

22) Abajo el telón, 1999 - Nessa obra Diego Rivera recebe a tarefa de pintar a antecâmera do Rockefeller Center, em um período complicado para os artistas.

23) Pollock, a vida de um criador, 2000 -Obra baseada no livro de Jackson Pollock, sobre a técnica de dripping.

24) Buñuel and King Solomon's table, 2000: recriação do tempo que passaram juntos Buñuel, Garcia Lorca e Salvador Dalí.

25) Frida, 2002 - Adaptação do livro de Hayden Herrera sobre a vida de Frida Kahlo e Diego Rivera.

26) Modigliani - A paixão pela vida, 2004: adaptação da rivalidade entre Picasso e Modigliani.

27) Klimt, 2006: adaptação da vida de Gustav Klimt.

28) As sombras de Goya, 2006 - Marcada pelo contexto da Inquisição Espanhola, a obra narra momentos históricos em que o pintor Francisco de Goya estava imerso.

29) El Greco, 2007 - Adaptação da novela de Dimitris Siatíopulos sobre a vida de El Greco.

30) Renoir, 2013 - Adaptação da vida do pintor Auguste Renoir.

História de Roma -19 – Roma conquista a Grécia e o Mediterrâneo Oriental


Roma conquista a Grécia e o Mediterrâneo oriental



Em 203-202 a.C. Filipe V, rei da Macedónia aliou-se a Antíoco III, o Grande, rei Selêucida, senhor da Síria e do Médio Oriente, para atacar o terceiro reino em que se dividiu o imenso império de Alexandre, o Magno, o Egipto dos Ptolomeus.

A aliança entre a Macedónia e os Selêucidas inquietou algumas cidades-estado da Grécia, nomeadamente Rodes e Pérgamo, que se dirigiram a Roma, convencendo o Senado que tal aliança faria também perigar Roma.

O Senado enviou um ultimato à Macedónia, que foi rejeitado com insolência por Filipe V, o que deu origem à 1ª guerra travada por Roma em solo grego (200 a.C.).

Os 2 primeiros anos da campanha não foram concludentes, tendo o general Tito Flamino só a intenção de expulsar os Macedónios das suas 3 principais fortalezas da Grécia.

Mas Filipe V passou ele próprio ao ataque e provocou a Batalha de Cinoscéfalos, nos montes a leste de Tessália.

O exército de Filipe V desceu a encosta e começou a abater as fileiras romanas, mas foi atacado pela retaguarda pôs-se em fuga. A causa macedónia estava perdida. Foi o 1º conflito a opor duas tradições militares bem diferentes, a mobilidade das legiões romanas, bem desenvolvida anteriormente por Cipião, o Africano, contra a falange grega, estreitamente unida mas pouco móvel.

Esta derrota esteve na base do futuro do Mediterrâneo Oriental.

Filipe V foi obrigado a renunciar à sua armada e a aceitar que o seu domínio sobre a Grécia fosse banido. Tito Flaminino declarou as cidade-estado gregas livres, numa proclamação de liberdade que ficou célebre e que deixou os gregos em grande excitação e júbilo. No entanto esta alegria não foi partilhada por todos, pois os antigos aliados de Roma, membros da Liga Etólica, e que se tinham mostrado determinantes durante o conflito, sentiram que esta libertação geral não os tinha recompensado significativamente e, desiludida, a Liga Etólica convidou Antíoco III a ir até à Grécia combater os Romanos.

Nessa época as relações entre Antíoco III e os Romanos não eram as melhores. Aníbal, o antigo inimigo de Roma, tinha-se refugiado na corte selêucida; durante a 2ª Guerra Púnica conduzira Cartago a uma vitória espectacular, mas os cartagineses cansaram-se do seu punho de ferro e Antíoco autorizou-o a residir no território selêucida.

Antíoco decidiu aceitar o convite da Liga Etólica e, em Março de 192 a.C. invadiu a Grécia. Era inevitável que o Senado enviasse os seus exércitos para lhe resistirem.

A maneira como Antíoco III conduziu a guerra não passou de um miserável desafio para os Romanos. Sofreu uma derrota esmagadora na garganta histórica de Termópilas (191 a.C.) e foi forçado a abandonar a Grécia. No ano seguinte os Romanos derrotaram-no de novo, desta vez numa batalha naval. Isso permitiu aos Romanos, pela 1ª vez, desembarcar tropas na Ásia. A batalha final entre Antíoco III e os Romanos foi terrestre e desenrolou-se em Magnésia, a oeste da Ásia Menor, em 190 a.C. O irmão de Cipião o Africano era o general titular mas aquele esteve presente na batalha para o aconselhar. Os Romanos atacaram o flanco esquerdo do imenso exército de Antíoco III, defendido por cavaleiros persas fortemente armados. Os elefantes selêucidas, transtornados pelos golpes das lanças, deram meia volta e, em vez de carregarem sobre as tropas inimigas, atacaram a sua própria falange, ao centro. Os Romanos obtiveram uma vitória esmagadora.

Assim os Romanos atacaram os dois principais reinos gregos, infligindo-lhes terríveis derrotas e invadindo-os. Porém a lição dada a Filipe V não serviu de exemplo. Em 179 a.C., Filipe V morre e seu filho, Perseu, com 35 anos, sobe ao trono. Renovou o tratado com os Romanos, que não pretendia atacar. Mas, ao mesmo tempo, tomou uma série de medidas visando reforçar a influência macedónia sobre os seus vizinhos.

Em 171 a.C., os Romanos estavam de novo em guerra contra a Macedónia. O pretexto era insignificante. Perseu atacara alguns chefes vizinhos que tinham laços de amizade com Roma. A verdadeira razão prendeu-se com o facto de Roma temer a influência macedónia sobre os seus estabelecimentos situados em território grego.

Como na anterior ofensiva contra a Macedónia, as primeiras campanhas foram caóticas e infrutíferas. Por fim, no 4º ano de hostilidades, o rei cedeu terreno e recuou nas suas fronteiras, o que permitiu ao cônsul Paulo Emílio acampar na planície macedónia propriamente dita. Aí, obrigou o inimigo a travar uma batalha, em Pídnia. O choque inicial com a pesada falange de Perseu, composta de 20.000 homens, fez recuar os legionários romanos. A seguir, a falange perdeu terreno quando se abriram brechas nas suas linhas e que foram aproveitadas por pequenas unidades romanas que se infiltraram, enquanto outros elementos rodeavam os flancos do exército macedónio. Os gládios dos legionários romanos infligiram perdas terríveis à infantaria macedónia, armada de lanças. A inferioridade da falange em relação as legiões romanas foi, uma vez mais, provada de forma absoluta. O exército macedónio foi totalmente aniquilado.

27/12/15

Natal 2015



O meu Natal 2015

Publicado por Constantino Teles em Sábado, 26 de Dezembro de 2015

21/12/15

ALHOS VEDROS

Freguesia desde 1319 (existência documentada da freguesia de S. Lourenço de Alhos Vedros).
Ignoram-se os fundadores de Alhos Vedros, a data da fundação e o seu primeiro nome. Sabe-se apenas que era uma povoação do termo de Palmela nos séculos XII / XIII e que fazia parte da antiga Comarca de Setúbal. Passou depois a fazer parte do concelho de Ribatejo, até à época em que ganhou a sua autonomia municipal (finais do século XIV).
D. Manuel concedeu-lhe foral em 15 de Dezembro de 1514, incluindo o seu termo várias aldeias: Lavradio, Barreiro, Telha, Palhais, Moita, Quinta de Martim Afonso e Sarilhos Pequenos. Até 1834, foi sua donatária a ordem militar de Santiago e Comenda da Mesa Mestral da referida Ordem.

Em 1527, a vila de Alhos Vedros tinha 444 habitantes e com o seu termo atingia 1028 habitantes.

Alhos Vedros orgulha-se de ter sido durante longa data um concelho importante, exercendo um poder forte sobre as terras vizinhas. A confirmar este dado podem observar-se os inúmeros vestígios históricos, ainda hoje presentes na zona. Como por exemplo:

- o Pelourinho do século XVI, símbolo do poder que Alhos Vedros tinha sobre as terras limítrofes, como concelho que era;
- o Campo da Forca, o actual Bairro Gouveia, onde, segundo a tradição, eram executados pela forca os condenados à morte;
- a cadeia, na parte antiga da vila, cujas ruínas foram destruídas recentemente;
- o Paço Real, situado junto ao cais da vila, local onde se refugiou o rei D. João I para fugir à epidemia da peste, que assolava na altura a cidade de Lisboa, vitimando D. Filipa de Lencastre, sua mulher.
Registam-se ainda outros vestígios, relacionados com actividades profissionais. A actividade rural, era vocacionada para a produção de produtos hortícolas e frutícolas. Também importante eram as actividades piscatória, de extracção e transporte de sal e sargaço para Tróia (ainda hoje se podem ver algumas salinas, embora desactivadas), a moagem de cereais (presente através do Moinho de Maré, do Moinho da Charroqueira e do Moinho Novo onde era feita a moagem de trigo e outros cereais) e a produção de cal (Forno da Cal).
Com o caminho de ferro, a vila transformou-se gradualmente em centro da industria corticeira que atinge o seu apogeu na década de 40. A indústria da cortiça e as fábricas de confecções que se instalaram posteriormente estão hoje em declínio, com o encerramento de muitas.

Povoação muito antiga e sede de concelho até 1855, a vila de Alhos Vedros orgulha-se justamente da sua história e tem sabido preservar até hoje o essencial das suas referências memoriais e identitárias. O foral de 1514, outorgado por D. Manuel a 15 de Dezembro, é um desses documentos cujo valor simbólico assume particular relevância a nível local. Talvez por isso seja habitual realizarem-se quase todos os anos, naquela data, iniciativas de comemoração que, a par de outras, como as festas de Nossa Senhora dos Anjos, são momentos de revitalização para a comunidade e ajudam a reforçar a ligação com o passado, enriquecendo a identidade cultural das gerações presentes e futuras. O documento original encontra-se na Sala de Reservados da Biblioteca Nacional com a cota IL 62.

Rua Caldas Xavier
2860-058 Alhos Vedros
GPS: 38.643430, -9.021956

   



02/03/15

António José da Silva, O Judeu – Ópera Guerras do Alecrim e Manjerona

D. Gilvaz; D. Fuas; D. Tibúrcio; D. Lancerote, velho; D. Clóris, D. Nise, sobrinhas de D. Lancerote; Sevadilha, graciosa criada; Fagundes, velha criada; Semicúpio, gracioso criado de D. Gilvaz.

 


Cenas da I Parte
I – Prado, com casaria no fim
II – Câmara
III – Praça
IV – Gabinete

Cenas da II Parte
I – Praça
II – Sala
III – Câmara
IV – Praça
V – Câmara
VI – Jardim
VII – Sala.
   
                                                                           PARTE 1 
CENA 1

Prado com casaria no fim. Entram D. Clóris, D. Nise e Sevadilha com os rostos cobertos; e 
D. Fuas, D. Gilvaz e Semicúpio seguindo-as

D. Gilvaz
Diana destes bosques, cessem os acelerados desvios desse rigor, pois quando rémora1 me suspendeis, sois íman que me atraís. (Para D. Clóris

D. Fuas
Flora destes prados, suspendei a fatigada porfia3 de vosso desdém, que essa discorde fuga com que me desenganais é harmoniosa atração de meus carinhos; pois nos passos desses retiros forma compassos o meu amor. (Para D. Nise)
Semicúpio
E tu, que vens atrás, serás a Siringa4 destas brenhas5; e, para o seres com mais propriedade, deixa-te ficar mais atrás, pois apesar dos esguichos de teu rigor, hei-de ser conglutinado6 rabo-leva7 das tuas costas. (Para Sevadilha)
D. Clóris
Cavalheiro, se é que o sois, peço-vos que me não sigais, que mal sabeis o perigo a que me expõe a vossa porfia8. (Para D. Gilvaz)

D. Gilvaz
Galhardo9 impossível, em cujas nubladas esferas ardem ocultos dois sóis e se abrasa patente um coração, permiti que esta vez seja fineza a desobediência; porque seria agravo de vossos reflexos negar-lhe o inteiro culto da visualidade desse esplendor; porque assim, formosa ninfa, ou hei-de ver-vos ou seguir-vos, por que conheça, já que não o sol desse oriente, ao menos o oriente desse sol.

D. Clóris
Que será de mim, se este homem me seguir?          (Aparte)

D. Nise
Já parece teima essa porfia! Vede, Senhor, que se me seguis, que impossibilitais o meio para ver-me outra vez.

D. Fuas
Para que são, belíssimo encanto, esses avaros melindres do repúdio? Se já comecei a querer-vos, como posso deixar de seguir-vos? Pois até não saber, ou quem sois, ou aonde habitais, serei eterno girassol de vossas luzes.
Sevadilha
Ora basta já de porfia; senão, vou revirando. (Para Semicúpio)
           
Semicúpio
Tem mão, sarjeta encantadora, que com embiocadas10 denguices, feita papão das almas, encobres olho e meio, para matares gente de meio olho! Escusados são esses esconderelos11, pois pela unha desse melindre conheço o leão dessa cara.

D. Clóris
Isso já parece teima.
D. Gilvaz
Isto é querer-vos.
D. Nise
Isso é porfia.
D. Fuas
É adorar-vos.
Sevadilha
Isso é empurração.
Semicúpio
Àgora! Isto é bichancrear, pouco mais ou menos!

D. Gilvaz
Senhoras, para que nos cansamos? Ainda que pareça grosseria não obedecer, entendei que a nossa curiosidade e amor não permitirá que vos ausenteis, sem ao menos com a certeza de vos tornarmos a ver, dando-nos também o seguro de onde morais, para que possa o nosso amor multiplicar os votos na peregrinação desses animados templos da formosura.

D Fuas
Eis ali, Senhora, o que queremos.

Sevadilha
Em termos sem tirar nem pôr.

D. Clóris
Pois Senhor, se só por isso esperais, bastará que esse criado nos siga; porque de outra sorte destruís o mesmo que edificais.
D. Gilvaz
E admitireis a minha fineza?

D. Clóris
Sendo verdadeira, porque não?

D. Fuas
Admitireis os repetidos sacrifícios de meu amor?

D. Nise
Sim, se for amor constante.

D. Gilvaz e D. Fuas
Quem essa dita me abona?
D. Nise
Este ramo de manjerona. (Para D. Fuas)

D. Fuas
Na minha alma o desporei, para que sempre em virentes pompas se ostente troféu da Primavera.

D. Gilvaz
Mereça eu igual favor para segurança da vossa palavra.

D. Clóris
Este ramo de alecrim, que tem as raízes no meu coração, seja o fiador que me abone.
D. Gilvaz
Por único na minha estimação será este alecrim o Fénix das plantas, que, abrasando-se nos incêndios de meu peito, se eternizará no seu mesmo ardor.
Semicúpio
Isso é bom, segurar o barco; mas a tácita hipoteca não me cheira muito, digam o que quiserem os jardineiros.

D. Clóris
Cada uma de nós estima tanto qualquer dessas plantas, que mais fácil será perder a vida, do que elas percam o crédito de verdadeiras.

Semicúpio
Ai! Basta, basta! Já aqui não está quem falou. Vossas mercês perdoem que eu não sabia que eram do rancho do alecrim e manjerona. Resta-me também que tu, cozinheirazinha, vivas arranchada com alguma ervinha que me dês por prenda, pois também me quero segurar.

Sevadilha
Eis aí tem esse malmequer, que este é o meu rancho. Estime-o bem; não o deixe murchar.
Semicúpio
Ditoso seria eu, se o teu malmequer se murchasse!

D. Clóris
Pois Senhor, como estais satisfeito, desejarei estimásseis esse ramo, não tanto como prenda minha, mas por ser de alecrim.

D. Nise
O mesmo vos recomendo da manjerona.

D. Clóris
Advertindo que aquele que mais extremos fizer a nosso respeito coroará de triunfos a manjerona ou alecrim, para que se veja qual destas duas plantas tem mais poderosos influxos para vencer impossíveis.

D. Nise
Desejaria que triunfasse a manjerona.   (Vai-se)
D. Clóris
E eu o alecrim.   (Vai-se)

Sevadilha
Cuidado no malmequer!     (Vai-se)

Semicúpio
Cuidado no bem-me-quer!

D. Gilvaz
Ó Semicúpio vai seguindo-as, para sabermos aonde moram. Anda; não as percas de vista.
Semicúpio
Elas já lá vão a perder de vista; mas eu pelo faro as encontrarei, que sou lindo perdigueiro para estas caçadas.    (Vai-se)

D. Fuas
Quem serão, amigo D. Gilvaz, essas duas mulheres?

D. Gilvaz
Essa pergunta não tem resposta, pois bem vistes o cuidado com que vendaram o rosto, para ferir os corações como Cupido; mas, pelo bom tratamento e asseio, indicam ser gente abastada.

D. Fuas
Oxalá que assim fora, porque em tal caso, admitindo os meus carinhos, poderei com a fortuna de esposo ser meeiro no cabedal.

D. Gilvaz
Ai, amigo D. Fuas, que direi eu, que ando pingando, pois já não morro de fome, por não ter sobre que  cair morto?

D. Fuas
Elas foram aturdidas com palanfrórios.

D. Gilvaz
Já que do mais somos famintos, ao menos sejamos fartos de palavras.

Entra Semicúpio
Semicúpio
Já fica assinalada na carta de marear toda a costa, de leste a oeste, com seus cachopos e baixios!

D. Gilvaz
Aonde moram?

Semicúpio
São as nossas vizinhas, sobrinhas de D. Lancerote, aquele mineiro velho que veio das minas o ano passado.

D. Fuas
Basta que são essas! Por isso elas cobriram o rosto!

Semicúpio
Isso têm elas, que não são descaradas; antes são tão sisudas, que nunca encararam para ninguém.
D. Gilvaz
Uma delas sei eu que se chama D. Clóris.
Semicúpio
E a outra D. Nise. Isso sabia eu há muito tempo.
D. Fuas
E como saberei eu qual delas é a da manjerona?
Semicúpio
Isso é fácil! Em sabendo-se qual é a do alecrim, logo se sabe qual é a manjerona!
D. Fuas
Grande subtileza! Vamos D. Gil.
Semicúpio
Já que se vão, advirtam de caminho que, segundo as notícias que tenho, bem podem desistir da empresa; porque o velho é tão cioso das sobrinhas, como do dinheiro. A casa é um recolhimento; as portas, de bronze; as janelas, de encerado; as frestas são óculos de ver ao longe, que nem ao perto se veem; as trapeiras são zimbórios tão altos, que nem as nuvens lhes passam por alto; as paredes do jardim são mestras e as chaves das portas discípulas, porque ainda não sabem abrir; mas só o bem que há, e é que tendo tudo tão forte, só o telhado é de vidro. Com quê, Senhores meus, outro ofício: contentem-se com cheirar a sua manjerona e o seu alecrim, que amor que entra pelo nariz não é bem que chegue ao coração.
(…)
Aparece Fagundes com manto e capelo
Fagundes
É bom sumiço! Aonde estarão estas meninas, que há mais de quatro horas que foram à missa, e ainda não há fumo delas? Meu Senhor, vossa mercê acaso veria por aqui duas mulheres com uma criada?
D. Fuas
Que sinais tinham?
Fagundes
Tinha uma delas uns sinais pretos no rosto, e a outra uns sinais de bexigas.
D. Fuas
E que mais?
Fagundes
Uma delas tem os olhos verdes, cor de pimentão que está maduro, e a outra  olhos pardos, como raiz de oliveira; uma tem cova na barba, e a outra barba na cova; uma tem a espinhela caída, e a outra um leicenço num braço.
D. Fuas
Com esses sinais, nunca vi mulher nesta vida.
Fagundes
Meu Senhor, uma delas trazia um ramo de alecrim no peito, e a outra de manjerona.
D. Fuas
Vi muito bem que são as sobrinhas de D. Lancerote.
Fagundes
Essas mesmas são! Ora diga-me: aonde as viu?
D. Fuas
Promete vossa mercê fazer-me quanto lhe eu pedir?
Fagundes
Ai, que coisa me pedirá vossa mercê que lhe não faça, dizendo-me aonde estão as minhas meninas?
D. Fuas
Pois descanse, que elas aqui estiveram, e agora foram para casa.
Fagundes
Ai, boas novas tenho!
D. Fuas
Ora pois, em alvíssaras desta boa nova, quero que me diga como se chama…
Fagundes
Eu? Ambrósia Fagundes, para servir a vossa mercê.
D. Fuas
Diga como se chama a que trazia a manjerona no peito.

Fagundes
Chama-se D. Nise.
D. Fuas
Pois Senhora Ambrósia Fagundes, saiba que eu adoro tão excessivamente a D. Nise, que em prémio do meu extremo me franqueou este ramo de manjerona.
Fagundes
É verdade que pelo cheiro o conheço, que é o mesmo.
D. Fuas
E como me dizem os impossíveis que há, de a poder comunicar, quisera dever-lhe a galantaria de ser minha protetora nesta amorosa pretensão; e fie de mim, que o prémio há-de ser igual ao meu desejo.

Fagundes
Meu Senhor, difícil empresa toma vossa mercê; porque além da excessiva cautela do tio, que nisso não se fala, uma delas está para casar com um primo, que hoje se espera de fora da terra; e a outra qualquer dia vai a ser freira; com quê, meu Senhor, desengane-se, que ali não há que arranhar.

D. Fuas
E qual delas é a que casa?
Fagundes
Ainda se não sabe; porque o noivo vem à escolha daquela que lhe mais agradar.
D. Fuas
Como o vencer impossíveis é próprio de um verdadeiro amante, nós havemos intentar esta empresa, saia o que sair; que a diligência é mãe de boa ventura. Favoreça-me vossa mercê, Senhora Fagundes, com o seu voto, que eu terei bom despacho no tribunal de Cupido: tenho dinheiro e resolução e tendo a vossa mercê da minha parte, certo tenho o triunfo da manjerona. 
Fagundes
Pois por mim não se desmanche a festa, que eu não sou desmancha-prazeres. Esta noite o espero debaixo da janela da cozinha. Sabe aonde é?

D. Fuas
Bem sei.
Fagundes
Pois espere-me aí, que eu lhe direi o que há na matéria.

D. Fuas
Deixe-me beijar-lhe os pés, ó insigne Fagundes, feliz corretora de Cupido!

Fagundes
 Ai! Levante-se, Senhor; não me beije os pés, que os tenho agora mui suados e um tanto fétidos. Descanse, Senhor, que D. Nise há-de ser sua, apesar das cautelas do tio e das carícias do noivo.

D. Fuas
Se tal consigo, não tenho mais que desejar.

Canta D. Fuas a seguinte

Ária
Se chego a vencer
de Nise o rigor,
de gosto morrer
você me verá.
Porém, se um favor
alenta o viver,
quem morre de amor
mais vida terá.   (Vai-se)

Fagundes
Estes homens, tanto que são amantes, logo são músicos; e eu neste entendo terei boa melgueira; e mais eu, que sou abelha-mestra que hei-de chupar o mel da manjerona e do alecrim!

                                                    















   



Como nasceu a língua portuguesa


O português surgiu da mesma língua que originou a maioria dos idiomas europeus e asiáticos. Com as inúmeras migrações entre os continentes, a língua inicial existente acabou subdividida em cinco ramos: o helênico, de onde veio o idioma grego; o românico, que originou o português, o italiano, o francês e uma série de outras línguas denominadas latinas; o germânico, de onde surgiram o inglês e o alemão; e finalmente o céltico, que deu origem aos idiomas irlandês e gaélico. O ramo eslavo, que é o quinto, deu origem a outras diversas línguas atualmente faladas na Europa Oriental. O latim era a língua oficial do antigo Império Romano e possuía duas formas: o latim clássico, que era empregado pelas pessoas cultas e pela classe dominante (poetas, filósofos, senadores, etc.), e o latim vulgar, que era a língua utilizada pelas pessoas do povo. O português originou-se do latim vulgar, que foi introduzido na península Ibérica pelos conquistadores romanos. Damos o nome de neolatinas às línguas modernas que provêm do latim vulgar. No caso da Península Ibérica, podemos citar o catalão, o castelhano e o galego-português, do qual resultou a língua portuguesa. O domínio cultural e político dos romanos na península Ibérica impôs sua língua, que, entretanto, mesclou-se com os substratos linguísticos lá existentes, dando origem a vários dialetos, genericamente chamados romanços (do latim romanice, que significa falar à maneira dos romanos). Esses dialetos foram, com o tempo, modificando-se, até constituírem novas línguas. Quando os germânicos, e posteriormente os árabes, invadiram a Península, a língua sofreu algumas modificações, porém o idioma falado pelos invasores nunca conseguiu se estabelecer totalmente. Somente no século XI, quando os cristãos expulsaram os árabes da península, o galego-português passou a ser falado e escrito na Lusitânia, onde também surgiram dialetos originados pelo contato do árabe com o latim. O galego-português, derivado do romanço, era um falar geograficamente limitado a toda a faixa ocidental da Península, correspondendo aos atuais territórios da Galiza e de Portugal. Em meados do século XIV, evidenciaram-se os falares do sul, notadamente da região de Lisboa. Assim, as diferenças entre o galego e o português começaram a se acentuar. A consolidação de autonomia política, seguida da dilatação do império luso consagrou o português como língua oficial da nação. Enquanto isso, o galego se estabeleceu como uma língua variante do espanhol, que ainda é falada na Galícia, situada na região norte da Espanha. O primeiro documento literário escrito no idioma português surgiu a partir do século XII, quando havia o predomínio da língua falada. As grandes navegações, a partir do século XV d.C. ampliaram osdomínios de Portugal e levaram a Língua Portuguesa às novas terras da África (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe), ilhas próximas da costa africana (Açores, Madeira), Ásia (Macau, Goa, Damão, Diu), Oceania (Timor) e América (Brasil)

22/02/15

Teste os seus conhecimentos em fobias



Das fobias seguintes, quantas conhece?

1 amatofobia, 2 androfobia, 3 anuptafobia, 4 batofobia, 5 catisofobia, 6 corofobia, 7 cinofobia, 8 entomofobia, 9 ereutrofobia, 10 espectrofobia, 11 escopofobia, 12 fobofobia, 13 gamofobia, 14 gefirofobia, 15 ginofobia, 16 hedonofobia, 17 hipengiofobia, 18 hipnofobia, 19 ictiofobia, 20 melofobia, 21 misofobia, 22 nictofobia, 23 nostofobia, 24 ofidiofobia, 25 patofobia, 26 pedofobia, 27 tocofobia, 28 zoofobia.

(Respostas: medo de - 1 pó, 2 homens, 3 ficar solteiro, 4 locais profundos, 5 sentar-se, 6 dançar, 7 cães, 8 insectos, 9 corar, 10 espelhos, 11 ser observado, 12 fobias, 13 casar, 14 atravessar pontes, 15 mulheres, 16 prazer, 17 responsabilidades, 18 dormir, 19 peixes, 20 música, 21 sujidade, 22 noite e escuridão, 23 voltar para casa, 24 cobras, 25 doença, 26 crianças ou bonecos, 27 parto, 28 animais). 

DO MEDO AO PÂNICO. QUE SEI EU?
(Resultados: de 0 a 6 respostas certas, está dentro da média; 7 a 14 é culto, 15 a 21 é muito culto, 22 a 28 é um "expert").