Mensagem de boas vindas

Bem Vindo ao blog Campo da Forca. Apontamentos pessoais também abertos a quem os quiser ver.

29/09/21

FIM DA "QUARTA REPÚBLICA" FRANCESA

Da queda da “Quarta República” Francesa ao advento da "Quinta República"

De meados de 1954 a meados de 1958, foram quatro anos de decadência da Quarta República, aberta com uma grande crise de confiança e fechada com outra. Entre elas houve duas tentativas de reanimação.

A queda de Dien Bien Phu e o colapso do domínio francês na Indochina inauguraram os templos conturbados.

Mas também trouxe para o poder Pierre Mendes France, um estadista que teve a coragem de enfrentar o problema e acabar com a guerra na Ásia e iniciar o processo de conciliação com os protectorados do Norte de África. Mas a sua grande tarefa era modernizar a economia francesa e elevar os sectores retrógrados da agricultura e pequena indústria para o nível atingido pelas empresas mais avançadas do pós-guerra. A ironia é que só teve sete meses de governo até que foi derrubado por uma vasta coligação dos seus inimigos, que o odiavam por ser judeu, reformador e o “sepultor” do Império.

Com a queda de Mendes France, em Fevereiro de 1955, a política francesa voltou ao velho jogo dos compromissos e adiamentos, que a revolta muçulmana na Argélia alastrou o efeito.

As eleições parlamentares seriam no ano seguinte, contudo, e isso constituía uma segunda oportunidade de revigoramento das energias do país, a ala esquerda do Partido Radical, que apoiara Mendes France, aliou-se ao partido socialista, que viu nessa aliança uma oportunidade de recuperar as perdas sofridas 5 anos atrás.

Esta coligação centro-esquerda  ganhou as eleições em Janeiro de 1956 e era lógico que fosse convidada a formar governo sob a chefia de Guy Mollet, líder do partido socialista, o maior partido e com Mendes France como seu vice-primeiro-ministro. Mas este ministério mostrou-se incapaz de revigorar a esquerda democrática e de atingir os objectivos a que se propôs. Mal se instalou logo foi ultrapassada pela pressão reaccionária. Por outro lado, um novo partido de tendências autoritárias – um partido de protesto dos pequenos industriais e agricultores , conduzido pelo demagogo Pierre Poujade, que surpreendentemente elegera mais de 50 deputados – manteve a Assembleia em incessante tumulto e obstrução.  Ao mesmo tempo, a França Argelina resolveu bloquear todos os planos de reconciliação com os rebeldes. Quando o primeiro-ministro visitou a Argélia em Fevereiro, foi recebido com apupos e fruta podre por por parte de uma multidão enfurecida. Mollet rapidamente abandonou a intenção de um novo arranque para a política Argelina.

Nos quinze meses seguintes a França presenciou o espectáculo extraordinário dum primeiro- ministro socialista conduzindo uma guerra colonial de repressão. A direita estava satisfeita com o governo de Mollet pois era-lhe muito mais conveniente ter a esquerda democrática a ficar com o ónus da política reaccionária do que ter de a aplicar por si mesmo. Mas Mendes France não teve estômago para suportar as acções dos seus colegas e em Maio resignou. No Outono veio a crise da Expedição ao Suez e aqui Mollet uma vez mais satisfez-se a seguir o caminho do imperialismo. Este socialismo travestisado com o apoio da esquerda democrática e a tolerância da direita foi o mais longo dos da quarta república pois tinha poucos inimigos para além mdos comunistas. Mas na primavera de 1957 os conservadores decidiram que o seu tempo tinha terminado e derrubaram Mollet e o último governo da quarta república merecedor desse nome. Os últimos anos do regime foram meramente uma longa agonia. Os dois sucessores de Mollet eram jovens de mais e sem estatuto que ocuparam o poder que os mais experientes não aceitaram. Em Abril de 1958 os nacionalistas e conservadores derrubaram o último governo da Quarta República. Em 13 de Maio uma frouxa coligação de grupos semi-fascistas actuando com o conhecimento do comandante local do exército, tomaram controlo da administração argelina derrubando a Quarta República.

A revolução de 13 de Maio instalou no poder, na Argélia, uma nova e revolucionária autoridade em competição com o governo legal em Paris. No Norte de África, o “Comité da Segurança Pública” consistia num grupo de homens resolutos e desesperados, militares e civis, que estavam determinados a impor os seus próprios pontos de vista à pátria mãe. Eles queriam um regime autoritário que impusesse uma política de domínio estável sobre os territórios ultramarinos. Os revoltosos de Argélia tinham  apoio nas forças armadas aí estacionadas e muitos apoios de forças conservadoras e nacionalistas em França, incluindo os simpatizantes de De Gaulle. Em contraste o governo de Paris estava a perder terreno. Em Maio de 1958, tornou-se conhecido que o general De Gaulle, ele próprio, estava pronto para formar um governo alternativo.

A candidatura do general De Gaulle não era o que os insurgentes inicialmente pretendiam. Desejavam alguém mais fascista e menos conciliador com as aspirações de liberdade das colónias, mas não tinham ninguém em particular em mente. Os gaulistas, pelo contrário, sabiam aquilo que queriam. Logo que o nome de De Gaulle foi lançado, por um pequenoi grupo de seguidores que se lhe tinham mantido fiel depoios da dissolução do seu movimento, 5 anos antes, a ideia começou a tomar forma rapidamente e em breve se verificou que um governo do general era a única solução possível. De Gaulle, o libertador do país, era ainda “o primeiro cidadão de França”. O seu passado militar e os seus tiquer autoritários era bem aceites pela direita e o seu passado de resistência a golpes de estado eram bem aceites pela esquerda democrática.

Entretanto a revolta tinha-se alastrado à Córsega e estava a cercar a França. Tornava-se evidente que o exército e a polícia nada fariam para a deter.

A 1 de Junho, na iminência de um ataque de paraquedistas à indefesa Paris, a Assembleia Nacional Francesa rendeu-se ao inevitável e investiu de Gaulle como primeiro-ministro.

O general voltava ao poder após 12 anos de afastamento num formal procedimento completamente constitucional – mas de facto era uma mudança revolucionária imposta por uma determinada minoria a uma dividida e irresoluta maioria e assim foi interpretado quer pelo povo francês quer pelos seus representantes eleitos. Como sinal da gravidade da mudança, estes últimos, antes de se dissolverem, votaram plenos poderes para o governo De Gaulle liderar a França e estabelecer, num período de seis meses, uma nova constituição para a “Quinta República”.   

 

 

28/07/21

O SAGRADO

 À volta do Sagrado

A morte é uma experiência que não se pode transmitir. É um mistério impenetrável.

Sagrado é o que causa medo ou terror e que, por isso, é objecto de adoração ou de culto. Um exemplo é a sarça ardente donde saiu a voz de Deus dizendo «Ego sum qui sum» (Eu sou o que sou); da experiência terrível que Moisés recebeu desta visão e desta voz nasceu a religião judaica.

Mistério é aquilo que os homens não conseguem explicar. Nada se pode explicar, a não ser fragmentariamente. O homem vive rodeado de mistério mas não desiste de o explicar.

A religião começa pelo sentimento do sagrado ligado a certos fenómenos da natureza que dão lugar a mitos (mito significa, à letra, história, ficção). Os mitos, que procuram objectivar o sentimento do sagrado, estão na origem das religiões.

A religião tem a sua raiz na afectividade e nos mitos das origens e dos fins. Mas, ao seu lado, ou na sua continuidade, a especulação intelectual tenta também penetrar este problema das origens e dos fins.

O método de raciocínio científico nasceu na Grécia. Metafísica, palavra inventada por Aristóteles, ocupa-se de problemas que não têm solução.

Para a cultura chinesa Deus e natureza são inseparáveis. A ideia de um Deus transcendente, autor da natureza, não é concebível. As religiões que se praticam no mundo chinês vieram de fora, como o hinduísmo e o budismo.

A religião está também na base da ética. As regras a que deve obedecer o comportamento humano são, em grande parte, comuns a várias religiões, como o hinduísmo, o bramanismo e as três religiões monoteístas (o judaísmo, o cristianismo e o islamismo).

As três religiões monoteístas supõem-se decretadas pelos deuses, isto é, por uma autoridade absoluta e indiscutível e não participante nos partidos que dividem os homens. Por isso as regras de conduta são universais e absolutas.


 

20/06/21

O Desporto

O instinto do divertimento, da brincadeira, da festa e do desporto está na natureza humana.

Pertence à face lúdica da cultura, cuja característica é não ter uma finalidade em si mesmo. A finalidade de uma corrida é correr por correr.

Já no tempo dos gregos, o desporto era justificado como uma preparação para a guerra, mas a guerra tem uma parte lúdica, uma parte festiva, que se manifesta nas bandeiras coloridas, nos desfiles, etc. A partida para uma guerra que se vai iniciar é uma festa para os combatentes.

O desporto teve sempre uma grande importância na vida colectiva e mobilizou multidões e rios de dinheiro. Há desportos que são, na realidade, espectáculos para multidões. Há desportos violentíssimos em que os figurantes estão, por vezes, destinados a morrer às mãos uns dos outros, como nos combates de gladiadores.

Mas, enquanto nos Jogos Olímpicos da Grécia antiga os jogos eram concursos individuais, modernamente o desporto sofreu uma mutação: apareceu o jogo entre equipas, como no futebol, que acrescentou ao espectáculo desportivo uma qualidade teatral: o suspense. Nesse desporto actual, os agentes em competição são grupos que têm de responder colectivamente a situações imprevistas, e o desfecho é incerto até ao fim.

26/05/21

LAMPATANA - Prato típico de Mortágua

 A LAMPANTANA confecionada com carne de ovelha, assada em caçoila de barro, no forno de lenha onde se cose o pão, e servida com batata “fardada” e grelos a acompanhar, é, desde tempos imemoriais, uma das especialidades gastronómicas do Concelho de Mortágua.

Dos inúmeros rebanhos de gado que outrora pastavam pelas abundantes encostas de urze do concelho de Mortágua terá surgido o ingrediente fundamental à qualidade deste prato forte e suculento que em dias de festa era, e continua a ser, rei à mesa, por Terras de Mortágua.

A existência de depósitos de barro vermelho, na zona da Gândara, levaram ao surgimento de olarias artesanais nesta localidade, onde se fabricava as caçoilas utilizadas na confeção deste prato.

Embora desconhecendo com rigor a origem desta iguaria, são várias as histórias que guardamos das anteriores gerações e que a procuram explicar. Conta-se que, aquando da passagem das tropas napoleónicas pela região, as populações teriam, estrategicamente, envenenado as águas. Como era preciso cozinhar a carne, teria sido utilizado, como recurso, o vinho. Da aliança entre estes dois ingredientes terá resultado este prato de excelência, cujo segredo na confeção e no tempero foi sabiamente guardado e perpetuado até nós.

16/04/21

INTELIGÊNCIA (extraído do ensaio "Inteligência artificial", de Arlindo Oliveira)

Há 14 mil milhões de anos, foram criados o tempo e o espaço, por um evento único, designado Big Bang.

É difícil conceber um estado em que não existe tempo nem espaço, mas, tanto quanto sabemos, essa era a situação antes do Big Bang.

Durante milhares de milhões de anos após o Big Bang, formaram-se corpos celestes por acção da gravidade, que levou a matéria a condensar-se na forma de planetas, estrelas, galáxias e enxames de galáxias.

Há cerca de 4600 milhões de anos formou-se o nosso Sol e, comparativamente pouco tempo depois, a terra que habitamos.

Acredita-se que a vida na Terra nasceu pouco tempo depois, talvez há mais de 4300 milhões de anos. Ao princípio e durante mais de 3000 milhões de anos a vida na Terra era muito simples. Células isoladas ou os seus precursores inventaram a tecnologia necessária para se reproduzir. Não se conhecem os primeiros mecanismos que foram usados pelos mais primitivos seres vivos para se reproduzirem, mas sabe-se que esses mecanismos, fossem quais fossem, permitiam duas funções fundamentais: reprodução e evolução.

Há cerca de 1500 milhões de anos formaram-se células mais complexas que têm um núcleo onde se encontra alojado o ADN. Neste período, é muito provável que diversas vezes agrupamentos de células se tenham formado, criando organismos multicelulares.

Provavelmente, mais de uma vez, grupos de células do mesmo organismo, com ADN igual ou muito semelhante, descobriram que podiam especializar-se.

A selecção natural escolhe impiedosamente os mais aptos e deixa os outros morrer sem descendentes. Dessa forma os organismos tornam-se mais complexos.

Há cerca de 540 milhões de anos, ocorreu um fenómeno único na história da vida na Terra: a explosão do Câmbrico. Uma explosão de diversidade das formas de vida existentes, que perdurou cerca de 20 milhões de anos.

Nesse curto período apareceram os antecessores de todos os tipos de animais vertebrados hoje existentes.

Tanto os artrópodes como os antepassados dos vertebrados desenvolveram sistemas nervosos que se tornaram rapidamente mais sofisticados. Agregados de neurónios formaram-se e foram os precursores de cérebros.

A explosão do câmbrico criou rapidamente um ambiente cada vez mais hostil nos mares de então. A rápida evolução das espécies gerou algo como uma corrida ao armamento, desenvolvendo-se sensores e actuadores cada vez mais sofisticados. Apareceram nos organismos olhos, garras, couraças e antenas, numa luta pela sobrevivência, até aí nunca vista.

Cérebros cada vez mais complexos tornaram-se uma importante arma na guerra pela sobrevivência. Quanto mais inteligentes os animais, maior era a sua capacidade para emboscar a presa e para evitar ser comidos, para identificar perigos e oportunidades.

A corrida pelo desenvolvimento de cérebros maiores e mais complexos, veio a ser finalmente dominada pelos vertebrados.

Passaram-se centenas de milhões de anos até que aparecessem os cérebros mais complexos e evoluídos de todos os animais, os dos mamíferos.

A superior inteligência dos mamíferos poderá ter contribuído para que tenham sobrevivido ao evento catastrófico que determinou a extinção dos dinossauros, há 66 milhões de anos.

Porém, espécies que estão muito afastadas de nós em termos evolutivos, como os cefalópodes, que incluem os polvos, as lulas e os chocos, desenvolveram cérebros sofisticados e complexos, com uma arquitectura muito diferente da dos cérebros dos mamíferos, uma vez que resultou de uma evolução separada e independente. Os cefalópodes separaram-se de nós há cerca de 600 milhões de anos.

O facto de cérebros complexos terem evoluído de forma independente em diferentes famílias de organismos é evidência bastante conclusiva de que a evolução da inteligência é um processo altamente provável, uma vez criadas as condições biológicas para tal.

De entre os mamíferos, os primatas, a ordem à qual pertencemos, assim como os nossos primos mais próximos, exibem os cérebros mais complexos de todos. Provavelmente estes cérebros desenvolveram-se como consequência dos ambientes complexos – florestas e savanas – em que os primatas evoluíram.

Há cerca de três milhões de anos, por razões que não são inteiramente conhecidas (mas que estão provavelmente relacionadas com mutações em genes que controlam a multiplicação dos neurónios) assistiu-se a um crescimento muito rápido dos cérebros na linha de primatas que conduziria até nós.

O volume do cérebro atingiria 600 cm3 no Homo habilis e continuou a crescer de forma muito rápida, até que, há cerca de 600 mil anos, o Homo heidelbergensis já tinha um cérebro já tinha um cérebro comparável ao do Homo sapiens – cerca de 1200 cm3.

O Homo sapiens, a nossa espécie, apareceu há cerca de 200.000 anos, em África. O seu cérebro permitiu-lhe organizar-se em sociedades complexas e usar linguagem para comunicar e criar cultura, passando conhecimento para as gerações seguintes.

Provavelmente o seu cérebro fez também com que a nossa espécie seja a única do género Homo que sobreviveu até hoje. Muitas outras espécies extinguiram-se nas últimas dezenas de milhares de anos, entre as quais o Homo neanderthalensis, que terá desaparecido há cerca de 40.000 anos, e o Homo floresiensis, que desapareceu há apenas 12.000 anos.

Na cultura humana realçar a descoberta do domínio do fogo há cerca de 150.000anos, da agricultura há 10.000 anos e da escrita há 5.000 anos. 

Os tempos geológicos medem-se em milhões de anos, mas podemos, para mais facilmente compreendermos a história da Terra, fazer uma mudança de escala e pensarmos os últimos 4.600 milhões de anos, como tendo tido lugar em apenas 24 horas. Assim:

A Terra formou-se à meia-noite, no início de um longo dia. Os organismos unicelulares apareceram entre a uma e as quatro da madrugada. As células com núcleo surgiram cerca das quatro da tarde. Os primeiros mecanismos para transmitir sinais eléctricos, usando as paredes celulares, terão surgido ao fim da tarde, cerca das sete horas. A explosão do Câmbrico, que criou uma enorme diversidade de animais, teve lugar pouco depois das nove da noite. Os mamíferos terão aparecido cerca das onze da noite e os dinossauros extinguiram-se 20 minutos antes da meia-noite. Cerca de dois minutos antes da meia-noite viveram os mais recentes antepassados comuns a nós e aos nossos primos chimpanzés e bonobos. Um minuto antes da meia-noite, vimos aparecer os sucessivos membros do género Homo. Faltavam quatro segundos para a meia-noite quando apareceram os primeiros membros da nossa espécie, Homo sapiens, nas savanas africanas. Um quarto de segundo antes da meia-noite foi inventada a agricultura, que permitiu que um enorme aumento do número de indivíduos que podiam viver numa dada região. No último décimo de segundo foi inventada a escrita, a matemática e, mais tarde, de um enorme conjunto de outras tecnologias.

Tentar projectar o futuro da nossa espécie nos próximos 5000 anos (um décimo de segundo na escala comprimida) ou nos próximos três milhões (um minuto nessa mesma escala) é provavelmente tarefa tão impossível para nós como seria, para uma formiga, tentar perceber a civilização humana.

Não temos, simplesmente, mecanismos mentais para perceber no que poderá transformar-se uma civilização tecnológica num período de 5000 anos, e muito menos no que poderá consistir uma civilização tecnológica com milhões de anos de existência.

Pode de facto acontecer que tais civilizações sejam comuns na Galáxia, mas que estejam para lá da nossa compreensão e da nossa capacidade de detecção, da mesma forma que está para lá da compreensão duma formiga apreender a complexidade da civilização humana actual.

Em todo o caso, é pouco provável que, no futuro, o suporte biológico que tem servido a nossa espécie há centenas de milhares de anos se mantenha como a única forma de suportar inteligência humana. Num futuro distante, pode até acontecer que a espécie humana abandone completamente o suporte biológico em que se desenvolveu para viver inteiramente suportada em computadores, que emulem o corpo e o cérebro de cada indivíduo, vivendo em realidades virtuais, ou controlando os ambientes de mundos distantes através de robôs. Se assim for as inteligências artificiais não serão apenas nossos parceiros na construção da sociedade do futuro. Serão, de certa forma, os nossos descendentes, os representantes da natureza humana no futuro e no espaço distante.

27/03/21

A Batalha de Matapan

 


A 27 de Março de 1941, o grosso das forças navais italianas navegava ao largo do cabo Matapan, no extremo sul da Grécia, ignorando que uma enorme força  britânica, alertada pela decifração das transmissões de rádio mais secretas dos italianos, avançava ao seu encontro.

Na batalha que se seguiu, os italianos perderam cinco de um total de oito cruzadores e três dos seus treze contratorpedeiros. Cerca de 2400 marinheiros italianos morreram afogados. O custo para os britânicos foi de apenas dois aviões da Marinha.

A batalha de Matapan afastava a Marinha italiana da luta que começava a travar-se nos mares Adriático, Jónico e Egeu, pelo domínio do Mediterrâneo, entre as forças do Eixo e os Aliados.



15/03/21

PORTUGAL NA GRANDE GUERRA

 A GRANDE GUERRA

A Grande Guerra, também conhecida como a 1ª Guerra Mundial, deflagrou na Europa nos primeiros dias de Agosto de 1914 e só terminou com a assinatura do Armistício, em 11 de Novembro de 1918.

A sua causa determinante profunda foi a rivalidade económica entre as grandes potências, em especial da Inglaterra e da Alemanha.

Iniciada com a invasão da Bélgica pelas tropas alemãs, na convicção de uma campanha curta, a guerra só viria a parar mais de quatro anos depois, com o esgotamento dos recursos, a destruição das cidades, a desolação nos campos e um imenso sofrimento.

Causou 65 milhões de mobilizados, 8milhões e meio de mortos, 20 milhões de feridos, milhares e milhares de prisioneiros e desaparecidos. Portugal deixou nos campos de batalha mais de 8 mil mortos e mobilizou mais de 100 mil homens.

 

Portugal no quadro europeu antes da Grande Guerra

A política internacional portuguesa estava condicionada por três componentes principais – relações com a Espanha, aliança com a Inglaterra e questão colonial.

No respeitante à questão colonial, tão intimamente ligada à aliança inglesa, a República, implantada em 5 de Outubro de 1910, não teve tempo para solucionar os problemas principais que se lhe depararam e muito menos preparar o país para a guerra. Quando, por toda a Europa, se caminhava para o reforço do potencial militar, para a preparação das capacidades de resistência e para a preparação global das nações para os tempos de guerra, em Portugal, as mudanças políticas e institucionais, a consolidação interna e externa do novo regime e o seu reconhecimento internacional absorveram os melhores esforços dos novos dirigentes portugueses.

A questão espanhola esteve sempre presente nas opções políticas portuguesas. As inquietações foram mútuas, tanto pelas consequências da implantação da República em Portugal, que perturbou imenso as relações com a Espanha, como pelo jogo dos dois estados peninsulares com a Inglaterra, em consequência da guerra e do equilíbrio das alternativas diplomáticas face à participação no conflito. O enquadramento deste problema deve ter em conta a vontade de intervenção do governo português, a persistente posição de neutralidade da Espanha, a relação da Espanha com a segurança do Mediterrâneo, as pretensões de hegemonia peninsular de Afonso XIII e o prudente adiamento de uma posição radical por parte da Inglaterra em relação ao apoio à pretensão espanhola de intervir em Portugal.

 

A partilha das colónias portuguesas

Depois da Conferência de Berlim, em 1985,a Alemanha esforçou-se por constituir um império colonial. A Alemanha explorava a possibilidade de se estabelecer em territórios pertencentes aos países europeus de menor dimensão – a Bélgica e Portugal.

No caso de Portugal, a circunstância de Portugal e a Inglaterra estarem ligados, que fazia deste último país o verdadeiro guardião da integridade do império colonial português, conduziu a acordos secretos no fim do século XIX: a convenção anglo-alemã de 1898 sob a partilha das colónias portuguesas e, de imediato, o Acordo de Windsor, de 1899, entre a Inglaterra e Portugal, reafirmando a obrigação inglesa na protecção e defesa de todas as colónias pertencentes à coroa de Portugal.

As necessidades coloniais da Alemanha não se detiveram perante a vitória diplomática de Portugal. Logo na primeira oportunidade, surgida a partir de Dezembro de 1911, tanto a Alemanha, como a Inglaterra, se mostraram dispostas a reiniciar os contactos diplomáticos acerca da partilha das colónias portuguesas. As negociações prosseguiram, levando à rubrica do novo acordo em 13 de Agosto de 1913, mas ainda então se levantou a questão da sua publicação, juntamente com a dos seus antecedentes de 1898 e 1989, questão com que a Alemanha não chegou a concordar até ao início da guerra. Portugal dificilmente teria tido qualquer hipótese de evitar a efectiva realização dos intentos alemães, se o tratado não tivesse sido excluído pela deflagração da guerra.

   

As colónias portuguesas antes da Grande Guerra

Portugal, ao aproximar-se a Guerra, possuía extensos territórios coloniais, cuja soberania preservara, apesar das dificuldades crescentes e das cobiças de várias origens.

As fronteiras territoriais encontravam-se geralmente bem aceites e a soberania portuguesa era reconhecida internacionalmente embora se exercesse com muitas dificuldades.

A regra das colónias portuguesas era: crise económica e financeira regular e orçamentos com défices constantes.

ANGOLA, apesar da sua extensão, da sua riqueza e mesmo do esforço colocado na sua administração não fugia à regra. Tanto o volume e importância das acções militares, praticamente contínuas, como a crise que atingiu o comércio dos principais produtos de exportação – café, algodão, álcool e borracha, constituíam as suas razões. A República definiu como seus principais objectivos coloniais, para além da integridade, a descentralização e a autonomia. Norton de Matos, governador-geral de 1912 a 1915, cuja obra não deixou de suscitar oposições e críticas, assentou a sua política em algumas regras básicas – ocupação administrativa com base nas circunscrições, com a substituição da administração militar pela civil; remodelação da organização militar, regulamentação do trabalho indígena e desenvolvimento dum plano de fomento e colonização com emigração portuguesa. A fixação de portugueses, que era fundamental estimular (em 1910 existiam somente 3000 brancos na colónia), constituía, para o novo governador-geral, a mais eficaz forma de manter o “direito absoluto de regular e fiscalizar” a imigração estrangeira. Mas a guerra e a concretização da ameaça alemã, bem como a necessidade de mobilização de importantes expedições militares, quebraram o projecto de Norton de Matos.

MOÇAMBIQUE era centro de várias cobiças resultantes da sua posição geográfica, da importância dos seus portos e também das suas riquezas. A administração portuguesa tinha desenvolvido a partir dos últimos anos do século XIX um grande esforço financeiro para suporte dos trabalhos públicos, em especial das linhas férreas. As dificuldades resultavam da necessidade de contínuas operações militares contra as revoltas internas e da difícil obtenção de capitais, dependente da relação estreita com os territórios vizinhos, tanto na circulação de mercadorias, como na exportação de mão-de-obra para as minas sul-africanas. As concessões de imensas extensões territoriais feitas a companhias especialmente constituídas para esse efeito, quase sempre de capitais estrangeiros, fizeram de Moçambique um caso único, no conjunto das colónias portuguesas, experiência nem sempre bem sucedida.

CABO VERDE, apesar da sua excepcional posição e da relativa proximidade da metrópole, não conheceu administrações capazes de lhe imprimirem um desenvolvimento que estaria ao seu alcance, apesar da pobreza dos solos e da irregularidade das chuvas.

A GUINÉ, com um solo muito rico e condições hidrográficas de grande valor, acusava as mesmas deficiências e atrasos das vizinhas ilhas de Cabo Verde.

As ilhas de S. TOMÉ E PRÍNCIPE eram, para os portugueses, as “pérolas do oceano”, as “jóias das colónias lusitanas”, o “paraíso terrestre” com orçamentos consideravelmente excedentários, movimentava cerca de dois milhões de toneladas de carga, quase exclusivamente constituída por cacau, 95% das exportações. Mas ainda aqui a administração não pode considerar-se exemplar – na mão-de-obra os abusos no cumprimento dos contratos com trabalhadores vindos de Angola viriam a ser habilmente exploradas pela Alemanha junto da opinião pública inglesa; nas vias de comunicação deficientes a que os excedentes comerciais não puderam dar solução devido aos desvios para equilíbrio das balanças deficitárias das outras colónias.

O Estado da Índia, constituído por GOA, DAMÃO e DIU, o resto da extensa presença portuguesa na costa da Índia nos séculos anteriores, tinha na dependência relativamente à Índia Britânica a justificação para a insuficiência do seu desenvolvimento; dependência que não se modificou, apesar do esforço do governo de Lisboa.

MACAU, gozava de uma situação desafogada, com orçamentos excedentários pelas receitas do jogo e o comércio do ópio cru. A sua prosperidade não deixou de suscitar cobiças, mas a soberania portuguesa conseguiu ultrapassar as dificuldades, apesar da distância e do isolamento relativamente à metrópole.

TIMOR, apesar de possuir um solo extremamente rico, o seu desenvolvimento foi diminuto.

 

 

A República e o exército

As forças armadas não participaram como instituição, nem sequer de forma parcial, no 5 de Outubro de 1910.

A participação de militares no 5 de Outubro obedeceu a uma lógica organizacional externa, assumida pela Carbonária.

Não sendo um golpe militar ele veio a ser atribuído quase exclusivamente à Força Armada. E esta não podendo recusar a paternidade que lhe é atribuída, vai assumir institucionalmente o derrube da Monarquia e a implantação da República.

O «Outubro burguês» sobrepunha-se ao «Outubro popular», com Machado Santos a constatar o descaminho do projecto inicial, esboçando-se o divórcio entre a república e o seu «fundador».

O Governo Provisório, em saudação assinada por Teófilo Braga, dirigiu-se ao Exército e à Marinha, convidando os oficiais não participantes a aderirem ao novo regime. Só no quartel-general de Lisboa, são assinadas 1216 declarações de adesão de oficiais no activo e 847 de oficiais na reserva ou reforma.

 

A reforma republicana do exército

A grande reforma republicana do exército, impulsionada pelo ministro da Guerra, general Correia Barreto, baseou-se numa grande sofreguidão de mudar, com o objectivo de transformar rapidamente a realidade pré-existente.

Contudo, o princípio da milicianização (recrutamento geral dos cidadãos) de um exército sem recursos, analfabeto, contra a vontade do seu núcleo profissional, estava inevitavelmente votada ao fracasso.

As incursões monárquicas primeiro e a Guerra logo a seguir aniquilaram a reforma.

 

 

Portugal e a Guerra no período 1914-1916: a polémica

A unidade conseguida para o derrube da Monarquia tinha ficado muito para trás e bem cedo. Logo após o 5 de Outubro, se manifestaram as dissidências. Primeiro no Governo Provisório, através de diferentes concepções que os seus elementos defendiam, sem falar no prematuro afastamento de prestigiados republicanos, depois na cisão do Partido Republicano em três facções, que no fundo representavam sentires diferentes da sociedade e projectos políticos com apoios em sectores sociais e económicos distintos.

A fantástica arquitectura legislativa revelar-se-ia mais uma ilusão da República enraizada no tempo da propaganda mas rapidamente anulada pela realidade pós-5 de Outubro, pois a República burguesa, cada vez mais a República do Partido Democrático, ainda que invocasse o povo, não podia conter uma componente tão extensamente popular como a preconizada no exército dos decretos.

Os dois anos de 1914 a 1916 foram de profundas disputas internas e extensos conflitos que envolveram as forças políticas, os poderes públicos e a sociedade inteira. Polémica que ultrapassará a própria declaração de guerra, mantendo-se até à assinatura do armistício e mesmo para além dele.

Os republicanos dividiram-se quanto à intervenção militar de Portugal na Europa – uns sustentando a necessidade de intervir junto dos aliados e outros defendendo a utilização exclusiva das tropas na defesa das colónias. Depois, não havia acordo no partido democrático quanto à forma de participação, ora preconizando-se uma definitiva ligação à Inglaterra e aos seus desejos, ora preferindo-se uma política autónoma. As minorias radicais opuseram-se à participação na guerra. Nos restantes, tanto os monárquicos (quer aliadófilos, quer germanófilos e entre estes principalmente os integralistas) como os socialistas opuseram-se à intervenção militar na Europa. No interior das forças armadas, a maioria dos oficiais opunham-se à guerra, principalmente ao envio de tropas para o teatro europeu.

 

Ainda antes da declaração de guerra da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster de publicar qualquer declaração de neutralidade”.

Ficou assim delineada a posição de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.

Essa posição perante a guerra – nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que, a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.

Terminavam as dúvidas quanto à entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e à forma de o fazer.

 

A polémica em Portugal sobre a intervenção na Grande Guerra

Ainda antes da declaração de guerra da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster de publicar qualquer declaração de neutralidade”.

Ficou assim delineada a posição de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.

Essa posição perante a guerra – nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que, a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.

Terminavam as dúvidas quanto à entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e à forma de o fazer.

 

PORTUGAL, PAÍS BELIGERANTE

Após a declaração de guerra da Alemanha, a questão fulcral prendia-se com a participação na guerra europeia.

A política portuguesa conviveu mal com a ideia de intervir no conflito na frente europeia. Só o Partido Democrático, de Afonso Costa, o defendia.

Entretanto a situação interna continuou a degradar-se, os conflitos agudizaram-se, a oposição à guerra não conheceu tréguas, as dificuldades económicas agravaram-se, a escassez de subsistências continuou. Criado um clima social propício a projectos conspirativos e de violência, a 5 de Dezembro de 1917, uma revolta militar saiu à rua, chefiada por Sidónio Pais, major de Artilharia, que em menos de três dias conquistou o poder e assumiu a direcção política do país.

O enorme esforço de Afonso Costa e Norton de Matos logrou concentrar em Tancos para instrução, uma Divisão com um efectivo de 20.000 homens. Sob a égide de Norton de Matos, nomeado ministro da Guerra, a Divisão fez a sua instrução em cerca de 3 meses, sendo dada como pronta em Junho de 1916. Outros se seguiram, acabando na convocatória de um Corpo de Exército de 50.000 homens, secundado por uma reserva que deveria aproximar-se de igual grandeza.

Prepararam-se duas novas expedições a Moçambique. As tropas portuguesas para a Europa, constituintes do Corpo Expedicionário Português (CEP), começaram a embarcar em finais de Janeiro de 1917.

O CEP foi colocado em França através de sucessivos transportes marítimos, entre Janeiro e Setembro de 1917, com desembarques no porto de Brest e transporte em comboio até perto das linhas da frente. Uma vez em França, as tropas portuguesas passaram por várias fases de adaptação, até à atribuição de um sector na frente, situado na Flandres francesa, em frente da cidade de Lille.

O CEP assumiu a responsabilidade total do sector português, no dia 5 de Novembro de 1917, sob o comando do 1º Exército Britânico.

O sector português, na Flandres, era uma zona plana, tinha a forma de um quadrilátero irregular, com cerca de 12 Km de trincheiras na linha da frente. Aqui, de 5 de Novembro de 1917 até 9 de Abril de 1918, os soldados passaram por uma experiência de guerra que marcou indelevelmente uma geração portuguesa. As baixas na frente não resultavam apenas das grandes batalhas pela conquista de terreno, em que os mortos se contavam sempre por milhares, estavam também associadas ao dia-a-dia das trincheiras, e resultavam de ataques de artilharia e morteiros, de acção de atiradores isolados, de raids nas linhas inimigas.

Todas as tropas da frente faziam rotação de efectivos, permitindo que as tropas intercalassem períodos de plena actividade operacional com períodos de repouso.

As situações mais penosas na frente estavam relacionadas com o serviço de sentinelas, sobretudo à noite.

No que respeita à alimentação, as tropas portuguesas não chegaram a adaptar-se ao tipo de ração que lhes era fornecido pelos ingleses.

O serviço de saúde foi organizado segundo as necessidades das tropas portuguesas, estendendo-se desde a frente até aos hospitais de retaguarda.

O serviço postal também estava bem organizado, permitindo a troca de correspondência entre os soldados e as suas respectivas famílias.

Em 1917 vários políticos deslocaram-se à frente, em visita às tropas: o primeiro foi Norton de Matos, ministro da Guerra, em Junho. Também o Presidente da República, Bernardino Machado, e o presidente do ministério, Afonso Costa, visitaram a frente em Outubro.

 

O fuzilado português

O único militar português fuzilado na frente de combate durante a Grande Guerra foi o soldado João Augusto Ferreira de Almeida, executado a 16 de Setembro de 1917, em Picanti.

O processo começou a 30 de Julho, quando o soldado foi denunciado como tendo intenção de passar para o lado alemão, sendo portador de cartas topográficas com a indicação de posições militares portuguesas.

Ferreira de Almeida era soldado chaufeur, o que poderia justificar a posse dos mapas, mas tal circunstância nem sequer vem a ser mencionada no processo rapidamente elaborado.

Recebido o processo pelo juiz auditor logo a 7 de Agosto, este emitiu  parecer positivo para julgamento sumário.

O comandante do CEP, general Tamagnini decidiu que o soldado respondesse perante um Tribunal de Guerra.

Reunido o tribunal a 15 de Agosto, com a presença do seu presidente, o juiz auditor, do júri constituído por cinco oficiais, do promotor, do secretário e das testemunhas, vindo a deliberar a condenação à pena de morte do réu.

A pena foi executada em 16 de Setembro por um pelotão nomeado para o efeito, com quatro sargentos, quatro cabos e quatro soldados, comandados por um oficial que foi sorteado.

No interior do C.E.P. muitos discordaram da aplicação da pena de morte e alguns referiram a cedência a pressões inglesas.

O sidonismo e o Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra

A nova situação criada em Portugal após a tomada do poder por Sidónio Pais nos primeiros dias de Dezembro de 1917, e a que os seus dirigentes chamaram «República Nova», não chegou a pôr em causa a continuação do empenhamento militar ao lado dos Aliados, mas é sintomático da nova disposição dos dirigentes portugueses o facto de não se terem efectuado quaisquer rendições de efectivos e de grande parte dos oficiais mobilizados, temporariamente regressados a Portugal, para tratamento ou de licença, não voltarem à frente, apesar dos contínuos apelos dos comandos militares do CEP.

Esta situação não se alterou até ao fim da guerra, nem mesmo após a Batalha de La Lys, em 8 de Abril de 1918, quando o CEP perdeu grande parte do seu efectivo e o comando português se viu forçado a assistir à disseminação do que restou de tropas portugueses, por unidades inglesas, evidentemente em tarefas de menor significado.

Só um último e enérgico empenhamento dos comandos portugueses conseguiu atenuar a situação, recuperando, com a tardia reorganização de algumas pequenas unidades de combate, algum prestígio e algum direito conquistado no terreno, com enorme sofrimento e imensos sacrifícios, e que constituiu desde o início o principal objectivo do governo português.

Após a assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918, a que se seguiu, um mês depois, a queda do sidonismo e o regresso da «nova república velha», mostrou-se difícil fazer valer os direitos de Portugal como potência beligerante, perante o desejo inglês de fazer embarcar de imediato para Portugal todas as tropas portugueses. Só a resistência a tais projectos valeria a Portugal o ter desfilado nas comemorações da vitória, em Paris, a 14 de Julho de 1919.

O sidonismo e o Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra

A nova situação criada em Portugal após a tomada do poder por Sidónio Pais nos primeiros dias de Dezembro de 1917, e a que os seus dirigentes chamaram «República Nova», não chegou a pôr em causa a continuação do empenhamento militar ao lado dos Aliados, mas é sintomático da nova disposição dos dirigentes portugueses o facto de não se terem efectuado quaisquer rendições de efectivos e de grande parte dos oficiais mobilizados, temporariamente regressados a Portugal, para tratamento ou de licença, não voltarem à frente, apesar dos contínuos apelos dos comandos militares do CEP.

Esta situação não se alterou até ao fim da guerra, nem mesmo após a Batalha de La Lys, em 8 de Abril de 1918, quando o CEP perdeu grande parte do seu efectivo e o comando português se viu forçado a assistir à disseminação do que restou de tropas portugueses, por unidades inglesas, evidentemente em tarefas de menor significado.

Só um último e enérgico empenhamento dos comandos portugueses conseguiu atenuar a situação, recuperando, com a tardia reorganização de algumas pequenas unidades de combate, algum prestígio e algum direito conquistado no terreno, com enorme sofrimento e imensos sacrifícios, e que constituiu desde o início o principal objectivo do governo português.

Após a assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918, a que se seguiu, um mês depois, a queda do sidonismo e o regresso da «nova república velha», mostrou-se difícil fazer valer os direitos de Portugal como potência beligerante, perante o desejo inglês de fazer embarcar de imediato para Portugal todas as tropas portugueses. Só a resistência a tais projectos valeria a Portugal o ter desfilado nas comemorações da vitória, em Paris, a 14 de Julho de 1919.

O fuzilado português na Grande Guerra

 O único militar português fuzilado na frente de combate durante a Grande Guerra foi o soldado João Augusto Ferreira de Almeida, executado a 16 de Setembro de 1917, em Picanti.

O processo começou a 30 de Julho, quando o soldado foi denunciado como tendo intenção de passar para o lado alemão, sendo portador de cartas topográficas com a indicação de posições militares portuguesas.

Ferreira de Almeida era soldado chaufeur, o que poderia justificar a posse dos mapas, mas tal circunstância nem sequer vem a ser mencionada no processo rapidamente elaborado.

Recebido o processo pelo juiz auditor logo a 7 de Agosto, este emitiu  parecer positivo para julgamento sumário.

O comandante do CEP, general Tamagnini decidiu que o soldado respondesse perante um Tribunal de Guerra.

Reunido o tribunal a 15 de Agosto, com a presença do seu presidente, o juiz auditor, do júri constituído por cinco oficiais, do promotor, do secretário e das testemunhas, vindo a deliberar a condenação à pena de morte do réu.

A pena foi executada em 16 de Setembro por um pelotão nomeado para o efeito, com quatro sargentos, quatro cabos e quatro soldados, comandados por um oficial que foi sorteado.

No interior do C.E.P. muitos discordaram da aplicação da pena de morte e alguns referiram a cedência a pressões inglesas.

12/03/21

PORTUGAL, PAÍS BELIGERANTE

Após a declaração de guerra da Alemanha, a questão fulcral prendia-se com a participação na guerra europeia.

A política portuguesa conviveu mal com a ideia de intervir no conflito na frente europeia. Só o Partido Democrático, de Afonso Costa, o defendia.

Entretanto a situação interna continuou a degradar-se, os conflitos agudizaram-se, a oposição à guerra não conheceu tréguas, as dificuldades económicas agravaram-se, a escassez de subsistências continuou. Criado um clima social propício a projectos conspirativos e de violência, a 5 de Dezembro de 1917, uma revolta militar saiu à rua, chefiada por Sidónio Pais, major de Artilharia, que em menos de três dias conquistou o poder e assumiu a direcção política do país.

O enorme esforço de Afonso Costa e Norton de Matos logrou concentrar em Tancos para instrução, uma Divisão com um efectivo de 20.000 homens. Sob a égide de Norton de Matos, nomeado ministro da Guerra, a Divisão fez a sua instrução em cerca de 3 meses, sendo dada como pronta em Junho de 1916. Outros se seguiram, acabando na convocatória de um Corpo de Exército de 50.000 homens, secundado por uma reserva que deveria aproximar-se de igual grandeza.

Prepararam-se duas novas expedições a Moçambique. As tropas portuguesas para a Europa, constituintes do Corpo Expedicionário Português (CEP), começaram a embarcar em finais de Janeiro de 1917.

O CEP foi colocado em França através de sucessivos transportes marítimos, entre Janeiro e Setembro de 1917, com desembarques no porto de Brest e transporte em comboio até perto das linhas da frente. Uma vez em França, as tropas portuguesas passaram por várias fases de adaptação, até à atribuição de um sector na frente, situado na Flandres francesa, em frente da cidade de Lille.

O CEP assumiu a responsabilidade total do sector português, no dia 5 de Novembro de 1917, sob o comando do 1º Exército Britânico.

O sector português, na Flandres, era uma zona plana, tinha a forma de um quadrilátero irregular, com cerca de 12 Km de trincheiras na linha da frente. Aqui, de 5 de Novembro de 1917 até 9 de Abril de 1918, os soldados passaram por uma experiência de guerra que marcou indelevelmente uma geração portuguesa. As baixas na frente não resultavam apenas das grandes batalhas pela conquista de terreno, em que os mortos se contavam sempre por milhares, estavam também associadas ao dia-a-dia das trincheiras, e resultavam de ataques de artilharia e morteiros, de acção de atiradores isolados, de raids nas linhas inimigas.

Todas as tropas da frente faziam rotação de efectivos, permitindo que as tropas intercalassem períodos de plena actividade operacional com períodos de repouso.

As situações mais penosas na frente estavam relacionadas com o serviço de sentinelas, sobretudo à noite.

No que respeita à alimentação, as tropas portuguesas não chegaram a adaptar-se ao tipo de ração que lhes era fornecido pelos ingleses.

O serviço de saúde foi organizado segundo as necessidades das tropas portuguesas, estendendo-se desde a frente até aos hospitais de retaguarda.

O serviço postal também estava bem organizado, permitindo a troca de correspondência entre os soldados e as suas respectivas famílias.

Em 1917 vários políticos deslocaram-se à frente, em visita às tropas: o primeiro foi Norton de Matos, ministro da Guerra, em Junho. Também o Presidente da República, Bernardino Machado, e o presidente do ministério, Afonso Costa, visitaram a frente em Outubro.


05/03/21

Portugal e a Guerra, no período 1914-1916: A Polémica

A unidade conseguida para o derrube da Monarquia tinha ficado muito para trás e bem cedo. Logo após o 5 de Outubro, se manifestaram as dissidências. Primeiro no Governo Provisório, através de diferentes concepções que os seus elementos defendiam, sem falar no prematuro afastamento de prestigiados republicanos, depois na cisão do Partido Republicano em três facções, que no fundo representavam sentires diferentes da sociedade e projectos políticos com apoios em sectores sociais e económicos distintos.

A fantástica arquitectura legislativa revelar-se-ia mais uma ilusão da República enraizada no tempo da propaganda mas rapidamente anulada pela realidade pós-5 de Outubro, pois a República burguesa, cada vez mais a República do Partido Democrático, ainda que invocasse o povo, não podia conter uma componente tão extensamente popular como a preconizada no exército dos decretos.

Os dois anos de 1914 a 1916 foram de profundas disputas internas e extensos conflitos que envolveram as forças políticas, os poderes públicos e a sociedade inteira. Polémica que ultrapassará a própria declaração de guerra, mantendo-se até à assinatura do armistício e mesmo para além dele.

Os republicanos dividiram-se quanto à intervenção militar de Portugal na Europa – uns sustentando a necessidade de intervir junto dos aliados e outros defendendo a utilização exclusiva das tropas na defesa das colónias. Depois, não havia acordo no partido democrático quanto à forma de participação, ora preconizando-se uma definitiva ligação à Inglaterra e aos seus desejos, ora preferindo-se uma política autónoma. As minorias radicais opuseram-se à participação na guerra. Nos restantes, tanto os monárquicos (quer aliadófilos, quer germanófilos e entre estes principalmente os integralistas) como os socialistas opuseram-se à intervenção militar na Europa. No interior das forças armadas, a maioria dos oficiais opunham-se à guerra, principalmente ao envio de tropas para o teatro europeu.

A polémica em Portugal sobre a intervenção na Grande Guerra

Ainda antes da declaração de guerra da Inglaterra à Alemanha, feita a 4 de Agosto de 1914, na sequência da invasão da Bélgica e da França, Teixeira Gomes recebia do governo inglês a indicação de que este “pedia com instância ao Governo português para, por agora, se abster de publicar qualquer declaração de neutralidade”.

Ficou assim delineada a posição de Portugal perante o conflito: não declaração de neutralidade e inteira dependência da Inglaterra quanto à alteração desta primeira atitude.

Essa posição perante a guerra – nem neutral, nem beligerante – manter-se-ia até 9 de Março de 1916, dia em que, a seguir ao apresamento, a mando da Inglaterra, da frota de 72 navios alemães surtos em portos portugueses, a Alemanha declarou guerra a Portugal.

Terminavam as dúvidas quanto à entrada de Portugal na guerra, mas elas apenas se iniciavam quanto aos meios e à forma de o fazer.

26/02/21

A GRANDE GUERRA

A Grande Guerra, também conhecida como a 1ª Guerra Mundial, deflagrou na Europa nos primeiros dias de Agosto de 1914 e só terminou com a assinatura do Armistício, em 11 de Novembro de 1918.

A sua causa determinante profunda foi a rivalidade económica entre as grandes potências, em especial da Inglaterra e da Alemanha.

Iniciada com a invasão da Bélgica pelas tropas alemãs, na convicção de uma campanha curta, a guerra só viria a parar mais de quatro anos depois, com o esgotamento dos recursos, a destruição das cidades, a desolação nos campos e um imenso sofrimento.

Causou 65 milhões de mobilizados, 8milhões e meio de mortos, 20 milhões de feridos, milhares e milhares de prisioneiros e desaparecidos. Portugal deixou nos campos de batalha mais de 8 mil mortos e mobilizou mais de 100 mil homens.

24/02/21

A República e o exército

As forças armadas não participaram como instituição, nem sequer de forma parcial, no 5 de Outubro de 1910.

A participação de alguns militares no 5 de Outubro obedeceu a uma lógica organizacional externa, assumida pela Carbonária.

Não sendo um golpe militar ele veio a ser atribuído quase exclusivamente à Força Armada. E esta não podendo recusar a paternidade que lhe é atribuída, vai assumir institucionalmente o derrube da Monarquia e a implantação da República.

O «Outubro burguês» sobrepunha-se ao «Outubro popular», com Machado Santos a constatar o descaminho do projecto inicial, esboçando-se o divórcio entre a república e o seu «fundador».

O Governo Provisório, em saudação assinada por Teófilo Braga, dirigiu-se ao Exército e à Marinha, convidando os oficiais não participantes a aderirem ao novo regime. Só no quartel-general de Lisboa, são assinadas 1216 declarações de adesão de oficiais no activo e 847 de oficiais na reserva ou reforma.

 

A reforma republicana do exército

A grande reforma republicana do exército, impulsionada pelo ministro da Guerra, general Correia Barreto, baseou-se numa grande sofreguidão de mudar, com o objectivo de transformar rapidamente a realidade pré-existente.

Contudo , o princípio da milicianização (recrutamento geral dos cidadãos) de um exército sem recursos, analfabeto, contra a vontade do seu núcleo profissional, estava inevitavelmente votada ao fracasso.

As incursões monárquicas primeiro e a Guerra logo a seguir aniquilaram a reforma.


20/02/21

Portugal no quadro europeu antes da Grande Guerra

A política internacional portuguesa estava condicionada por três componentes principais – relações com a Espanha, aliança com a Inglaterra e questão colonial.

No respeitante à questão colonial, tão intimamente ligada à aliança inglesa, a República, implantada em 5 de Outubro de 1910, não teve tempo para solucionar os problemas principais que se lhe depararam e muito menos preparar o país para a guerra. Quando, por toda a Europa, se caminhava para o reforço do potencial militar, para a preparação das capacidades de resistência e para a preparação global das nações para os tempos de guerra, em Portugal, as mudanças políticas e institucionais, a consolidação interna e externa do novo regime e o seu reconhecimento internacional absorveram os melhores esforços dos novos dirigentes portugueses.

A questão espanhola esteve sempre presente nas opções políticas portuguesas. As inquietações foram mútuas, tanto pelas consequências da implantação da República em Portugal, que perturbou imenso as relações com a Espanha, como pelo jogo dos dois estados peninsulares com a Inglaterra, em consequência da guerra e do equilíbrio das alternativas diplomáticas face à participação no conflito. O enquadramento deste problema deve ter em conta a vontade de intervenção do governo português, a persistente posição de neutralidade da Espanha, a relação da Espanha com a segurança do Mediterrâneo, as pretensões de hegemonia peninsular de Afonso XIII e o prudente adiamento de uma posição radical por parte da Inglaterra em relação ao apoio à pretensão espanhola de intervir em Portugal.

A partilha das colónias portuguesas antes da Grande Guerra

Depois da Conferência de Berlim, em 1885,a Alemanha esforçou-se por constituir um império colonial. A Alemanha explorava a possibilidade de se estabelecer em territórios pertencentes aos países europeus de menor dimensão – a Bélgica e Portugal.

No caso de Portugal, a circunstância de Portugal e a Inglaterra estarem ligados, que fazia deste último país o verdadeiro guardião da integridade do império colonial português, conduziu a acordos secretos no fim do século XIX: a convenção anglo-alemã de 1898 sob a partilha das colónias portuguesas e, de imediato, o Acordo de Windsor, de 1899, entre a Inglaterra e Portugal, reafirmando a obrigação inglesa na protecção e defesa de todas as colónias pertencentes à coroa de Portugal.

As necessidades coloniais da Alemanha não se detiveram perante a vitória diplomática de Portugal. Logo na primeira oportunidade, surgida a partir de Dezembro de 1911, tanto a Alemanha, como a Inglaterra, se mostraram dispostas a reiniciar os contactos diplomáticos acerca da partilha das colónias portuguesas. As negociações prosseguiram, levando à rubrica do novo acordo em 13 de Agosto de 1913, mas ainda então se levantou a questão da sua publicação, juntamente com a dos seus antecedentes de 1898 e 1989, questão com que a Alemanha não chegou a concordar até ao início da guerra. Portugal dificilmente teria tido qualquer hipótese de evitar a efectiva realização dos intentos alemães, se o tratado não tivesse sido excluído pela deflagração da guerra.