Mensagem de boas vindas

Bem Vindo ao blog Campo da Forca. Apontamentos pessoais também abertos a quem os quiser ver.

30/01/14

História de Roma -11

ROMA NOS PRIMÓRDIOS DA REPÙBLIA

Após a queda dos Tarquínios, a ameaça etrusca esfumou-se mas a cidade continuou a ser alvo do ataque de outros inimigos. Durante dois séculos Roma envolveu-se em confrontos com cidades mais fortes e por várias ocasiões a sua existência esteve em perigo. 
Vizinhos Hostis
Inicialmente foram os vizinhos mais próximos, os Latinos. Em 496 a.C. os romanos venceram uma batalha decisiva junto ao lago Regilo. A batalha do lago Regilo traduziu-se na incorporação no panteão romano dos deuses gémeos, Castor e Pólux, cujo atributo é o cavalo, que se tornaram protectores dos cavaleiros romanos (a prática de integrar entre as suas divindades as divindades dos vencidos era comum na época e assentava na crença de que assim se incorporava o poder das divindades dos Estados vencidos), e na assinatura dum tratado com as cidades latinas, unindo forças contra os Volscos, os Équos e os Sabinos, povos que os atacavam há mais de um século. A sorte e a habilidade diplomática fez com que Roma e o Lácio sobrevivessem a estes inimigos. Para suster os primeiros criaram-se as primeiras colónias, povoações fundadas por soldados-colonos aos quais eram cedidas as terras recém-conquistadas. Aos Sabinos, Roma infligiu, em 449 a.C. uma pesada derrota e no fim deu-se a fusão progressiva dos dois povos devido à transumância de carneiros entre as pastagens de Verão (em território Sabino) e as pastagens de Inverno (em território latino). Antes, alguns anos após o advento da república Romana, um dos chefes dos Sabinos, Ápio Cláudio, desejoso de usufruir das vantagens de Roma, emigrou e estabeleceu-se em território romano com todo o seu clã que contava cerca de 4000 famíliares e apoiantes; foi assim fundada a gens Cláudia, cerca de 505 a.C.
Vitória sobre Veios
Dominados Volscos, Équos e Sabinos, Roma voltou a estar ameaçada, desta vez pelos Etruscos. Veios era uma poderosa cidade-Estado etrusca perigosamente próxima de Roma, da qual distava apenas 20 Km. Como Roma, Veios fora outrora um conjunto de povoações de cabanas que, na Idade do Ferro, se haviam reunido num único aglomerado. Veios, ao contrário de Roma, não era uma cidade onde viviam, lado a lado, Etruscos e Latinos, mas uma cidade puramente etrusca, de grande riqueza e cultura. A proximidade entre Roma e Veios era de tal ordem que as duas cidades estavam em concorrência permanente. O confronto era inevitável. Em 476 a.C. travou-se uma batalha em Cremera entre o exército da gens Fábia, que dominava a jovem República Romana, e as forças de Veios. A batalha foi desastrosa para os Fabianos. Toda a margem direita do Tibre ficou nas mãos de Veios. Porém, em 474 a.C., os Etruscos sofreram uma pesada derrota com os gregos e Veios assinou, então, uma trégua com os seus vizinhos Romanos que ocupavam a outra margem do rio, o que permitiu a estes prepararem-se para a prova de fogo decisiva, que aconteceu meio século depois. Em 425 a.C. os Romanos ocuparam a cidade de Fidénes, na margem esquerda do Tibre, ponto estratégico na Via Salaria (caminho do sal). Tal equivaleu a uma declaração de guerra a Veios. Esta era a guerra mais importante de todas as que Roma já travara, pois a sua própria existência estava em causa. Os combates sucederam-se durante seis ou sete anos e o equilíbrio de forças inclinou-se em favor de Roma. Por fim os Romanos chegaram junto da muralha , do lado Norte, onde terminava um dos túneis de drenagem que irrigavam toda a região; abriram a entrada do túnel e conseguiram, desta forma, infiltrar um pequeno destacamento militar que passou sob as muralhas e penetrou na cidade: foi assim que Veios caiu nas mãos de Roma. O herói desta vitória foi Camilo que, não obstante a origem lendária dos seus feitos militares, não desmerece ser considerada a primeira figura histórica da República Romana. Os Romanos desmantelaram a praça-forte, arrasaram as suas defesas e expulsaram a maior parte da população. A eliminação do mapa, duma cidade-Estado constitui uma novidade sinistra na história militar de Roma. Como noutras ocasiões, os Romanos adoptaram a deusa protectora dos vencidos e estabeleceram-lhe culto. Tratava-se de Juno que, em Veios, era alvo de um culto particular pleno de magnificência. A partir daí, Juno tornou-se uma deusa protectora de Roma. A queda da primeira grande cidade-Estado etrusca nas mãos dos Romanos marca uma viragem na História. Roma tinha-se desembaraçado de um enorme obstáculo à sua expansão e duplicou a sua superfície territorial.
A invasão gaulesa
Ao mesmo tempo um importante revés estava em preparação. Populações celtas, vindas da Europa Central, atravessaram progressivamente os Alpes e expulsaram os colonizadores Etruscos do Norte da Itália, a Gália Cisalpina e espalharam-se pelo Vale do Pó e em 387 a.C. 30.000 guerreiros, comandados pelo chefe Brennus, avançaram em direcção a Roma. Estes gauleses eram excelentes guerreiros, montavam cavalos ferrados (é a primeira vez de que há conhecimento do emprego de ferraduras nos cavalos) e os seus homens de infantaria usavam gládios fabricados em bom metal temperado. A 17 quilómetros da cidade, em Allia, um exército de 10 a 15.000 romanos fortemente armada, esperava-os. Os Romanos foram desbaratados. Brennus e os seus homens entraram em Roma e incendiaram-na. (Nos oito séculos seguintes não mais Roma voltaria a cair nas mãos dos bárbaros). Os Gauleses retiraram-se, pouco depois, contra o pagamento de um pesado resgate e porque as suas terras, no Norte, estavam a ser ameaçadas por inimigos externos.
Neste mau momento Roma beneficiou do apoio da cidade-estado de Ceare, situada a 32 quilómetros, junto ao mar, que, por seu lado, necessitava do apoio de Roma para fazer face aos ataques dos Gregos ao longo da sua costa. Para recompensar Caere, Roma concedeu-lhe um estatuto novo e privilegiado: o "hospicium publicum", que permitia aos seus cidadãos terem o privilégio de serem tratados da mesma maneira que os cidadãos romanos em todos os assuntos do domínio privado. Este privilégio foi posteriormente alargado por Roma a muitas outras cidades.
Os Romanos no Lácio e na Campânia
Em seguida Roma estendeu a sua influência ao Lácio. Inicialmente Roma tinha constituído uma parceria com várias cidades latinas, a Liga Latina. As maiores dessas cidades, desconfortáveis com o poderio crescente de Roma, decidiram afastar-se. Os cidadãos de Túsculo resolveram mesmo passar ao ataque. Em 381 a.C. Roma pacificou-os oferecendo-lhes a incorporação no próprio Estado Romano, com todos os privilégios da cidadania romana. A nobreza local aderiu de tal maneira que a maior parte dos cônsules romanos irão, mais tarde, ser originários de Túsculo. Esta prática inovadora teve um futuro promissor transformando cidades latinas em cidades romanas.
Os Romanos decidiram ainda estender a sua influência à Campânia, quando cerca de 343 a.C., a confederação das cidades campanienses, ameaçadas pela invasão dos Samnitas, tomou a difícil decisão de pedir auxílio aos Romanos. Roma respondeu ao apelo e fez a sua entrada nesta vasta e rica região. Esta foi a Primeira Guerra Samnita.
Inicialmente os Romanos confrontaram-se com grandes dificuldades: o exército amotinou-se pois nunca tinha combatido tão longe; por outro lado, os Latinos viram na intervenção Romana na Campânia uma tentativa de os cercar e exigiram ao governo Romano a restituição do seu antigo estatuto de igualdade, que obteve uma recusa categórica, eclodindo a guerra entre Roma e os Latinos. O conflito foi terrível mas Roma, recorrendo a uma estratégia planificada a longo prazo venceu, terminando de forma catastrófica para os Latinos e os seus aliados Campanienses cuja cavalaria, medíocre no combate, foi esmagada em Trifanum. Os Campinenses assinaram uma paz separada com Roma e as cidades latinas foram obrigadas à submissão, mas os Romanos adoptaram com estes uma atitude conciliatória, não se comportando de forma severa mas assinando com cada cidade um acordo específico tendo em conta cada caso particular. Isto era de um requinte político admirável e nunca visto, nem aos Gregos e permitiu, num equilíbrio difícil, assegurar o domínio sobre estas populações sem ferir o nacionalismo local.
A invenção das colónias
Outro instrumento do poder inventado pelos Romanos foi a colónia. Eram fundadas em locais estratégicos, servindo primeiro como estâncias guarda-costas. As primeiras criaram-se junto ao litoral, como Óstia, na foz do Tibre, que defendia Roma dos piratas e outros inimigos vindos do mar. Em 218 a.C. fundaram-se 12 colónias romanas no litoral. Também se fundaram colónias , nas encruzilhadas dos rios, nos acessos aos desfiladeiros dos Apeninos e em cruzamento terrestres. De 343 a.C. a 264 a.C. Roma colonizou 130.000 quilómetros quadrados repartidos em 60.000 lotes fundiários.


19/01/14

História de Roma -10

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ROMANO NOS PRIMÓRDIOS DA REPÚBLICA
Por volta do ano 500 a.C., com a queda da dinastia dos Tarquínios, a autoridade suprema do Estado passou das mãos de um monarca vitalício, para as mãos de dois cônsules, eleitos por um ano, e submetidos um ao veto do outro.
Os cônsules eram eleitos, por proposta do Senado e entre os senadores, pela assembleia dos cidadãos – o comício das centúrias. 
O Senado que, desde há mais de 500 anos era constituído por 300 membros das melhores famílias, teve então a sua influência aumentada, apesar de não ter poder executivo.
O Senado, órgão consultivo, aconselhava os magistrados eleitos em matéria de política, finanças e religião. Os senadores gozavam de um prestígio enorme.
A autoridade dos cônsules era suprema mas limitada. Tinham o poder do comando do exército e o poder da interpretação e execução das leis.
O poder executivo tinha total preponderância sobre todos os outros. Os cônsules tinham total liberdade de acção, mas os cônsules não hesitavam em solicitar o conselho do Senado, pois a curta duração do seu mandato deixava-os muito veneráveis no fim do mesmo.
História Social dos primórdios da República Romana
A sociedade romana dividia-se, no início da república, em patrícios (originários dos patre-familia) e plebeus. Os escravos não contavam.
Os patrícios eram cerca de 10% dos cidadãos e exerciam o poder civil e religioso.
No século V a.C., existiam 53 gens patrícias. Estes clãs constituíam um grupo fechado que não compreendia mais que um milhar de famílias.
Os outros 90%, os plebeus, estavam separados dos patrícios por uma distinção radical nos planos político e social mas viviam felizes por beneficiarem da clientela.
O cliente era um homem livre que se submetia à protecção de um patrono com o acordo deste último.
O cliente ajudava o patrono a triunfar na vida pública e favorecia os seus interesses por todos os meios ao seu alcance; em contrapartida, o patrono defendia o cliente nos seus assuntos privados e dava-lhe apoio jurídico e financeiro.
A clientela era hereditária e estava imbuída de uma forte carga afectiva e sentimental; para um patrono, os clientes eram mais importantes que a sua família por afinidade e.os laços criados tinham um carácter sagrado, sendo o elemento dominante na relação a fides, a confiança recíproca; nenhum patrono se podia subtrair ás obrigações que o ligavam aos clientes e estes ganhavam uma segurança e certeza na vida que noutras civilizações os desfavorecidos nunca experimentaram; em compensação a clientela constituía um travão poderoso ao desenvolvimento da democracia.
Mas se todos os clientes eram plebeus, nem todos os plebeus eram clientes. Por outro lado, o patrono, por mais que fizesse, nunca conseguia agradar a todos os clientes por igual. Houve movimentos de contestação da plebe e conflitos internos.
O século V a.C. foi para Roma, no plano económico, um mau período, marcado por miséria, fome e epidemias. Devido às guerras constantes as propriedades agrárias ficavam improdutivas. A penúria levou ao endividamento de um grande número de plebeus, com empréstimos e juros extremamente altos e quando um homem esgotava todos os seus recursos sem que conseguisse saldar as suas dívidas, não lhes restava outra alternativa senão reembolsar o credor com a sua própria pessoa, tornando-se, assim, se não um escravo, pelo menos um nexus (homem cativo), o que na prática era quase a mesma coisa.
Com receio de ver desintegrar-se o exército e a nação, os patrícios acederam à principal reivindicação dos plebeus, a criação dos tribunos da plebe, funcionários que tinham o dever de interceder em favor do povo em todos os actos oficiais realizados por sua causa (condenações, prisão, maus tratos, incluindo dívidas abusivas).
A contestação dos plebeus tornou-se tão violenta e forte que, em 451 a.C., o governo normal dos cônsules foi provisoriamente suspenso  e uma comissão de dez patrícios (o decemviri) ficou encarregue de redigir um corpo de leis. O resultado do seu trabalho foi oficialmente promulgado nos comícios e gravado em doze tábuas que passaram a estar expostas no Fórum - a Lei das Doze Tábuas.
O impacto da Lei das Doze Tábuas nas gerações futuras foi considerável.
Ao exigirem esta medida, os plebeus inspiraram-se nas ideias gregas, que circulavam à volta do Aventino, (onde se localizava o fórum onde os Gregos vinham comerciar). A redacção de um código civil era-lhes, efectivamente, familiar.

02/01/14

História de Roma -9

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ROMANO – OS REIS
Os historiadores são unânimes: no início, Roma foi governada por reis.
A tradição afirma que, antes dos reis etruscos, Roma foi governada por quatro monarcas não etruscos (Rómulo, Numa Pompílio, Tulo Hostílio e Anco Márcio). Estes reis eram personagens lendárias. É provável que a maioria, senão todos, nunca tenham existido. Segundo a lenda, Rómulo foi o fundador de Roma em 753 a.C., Numa Pompílio deu aos Romanos os fundamentos da sua religião, instituiu os colégios de sacerdotes, fixou as festas e o calendário e construiu templos e fez do seu povo um modelo de virtudes em relação aos deuses. No reinado de Tulo Hostílio teve lugar o famoso combate dos Horácios e dos Curiácios.
Segundo a tradição, o quinto rei de Roma, Tarquínio, o Velho, era etrusco e proporcionou um grande desenvolvimento urbanístico à cidade. Antes do governo do outro Tarquínio, o Soberbo, terá reinado o misterioso Sérvio Túlio, um conquistador, latino para uns, etrusco para outros, que continuou o desenvolvimento e expansão de Roma segundo o modelo do seu predecessor, rodeou com uma muralha – a muralha sérvia – uma parte da cidade e também lhe é atribuída uma reforma profunda das instituições do Estado e todo o aparelho militar foi reorganizado (os efectivos militares duplicaram, atingindo os 6000 homens repartidos em 60 centúrias. Este novo exército sobre o qual foi estabelecida a Assembleia das Centúrias, que tinha uma palavra a dizer nos assuntos do Estado, era composto por proprietários fundiários.Roma assistiu depois à queda dos seus governantes etruscos quando algumas das cidades-estado etruscas se lançaram em conquistas para norte, para a Gália Cisalpina.