Da queda da “Quarta República” Francesa ao advento da "Quinta República"
De meados de 1954 a meados de 1958, foram quatro anos de decadência da Quarta República, aberta com uma grande crise de confiança e fechada com outra. Entre elas houve duas tentativas de reanimação.
A queda de Dien Bien Phu e o colapso do domínio francês na Indochina inauguraram os templos conturbados.
Mas também trouxe para o poder Pierre Mendes France, um estadista que teve a coragem de enfrentar o problema e acabar com a guerra na Ásia e iniciar o processo de conciliação com os protectorados do Norte de África. Mas a sua grande tarefa era modernizar a economia francesa e elevar os sectores retrógrados da agricultura e pequena indústria para o nível atingido pelas empresas mais avançadas do pós-guerra. A ironia é que só teve sete meses de governo até que foi derrubado por uma vasta coligação dos seus inimigos, que o odiavam por ser judeu, reformador e o “sepultor” do Império.
Com a queda de Mendes France, em Fevereiro de 1955, a política francesa voltou ao velho jogo dos compromissos e adiamentos, que a revolta muçulmana na Argélia alastrou o efeito.
As eleições parlamentares seriam no ano seguinte, contudo, e isso constituía uma segunda oportunidade de revigoramento das energias do país, a ala esquerda do Partido Radical, que apoiara Mendes France, aliou-se ao partido socialista, que viu nessa aliança uma oportunidade de recuperar as perdas sofridas 5 anos atrás.
Esta coligação centro-esquerda ganhou as eleições em Janeiro de 1956 e era lógico que fosse convidada a formar governo sob a chefia de Guy Mollet, líder do partido socialista, o maior partido e com Mendes France como seu vice-primeiro-ministro. Mas este ministério mostrou-se incapaz de revigorar a esquerda democrática e de atingir os objectivos a que se propôs. Mal se instalou logo foi ultrapassada pela pressão reaccionária. Por outro lado, um novo partido de tendências autoritárias – um partido de protesto dos pequenos industriais e agricultores , conduzido pelo demagogo Pierre Poujade, que surpreendentemente elegera mais de 50 deputados – manteve a Assembleia em incessante tumulto e obstrução. Ao mesmo tempo, a França Argelina resolveu bloquear todos os planos de reconciliação com os rebeldes. Quando o primeiro-ministro visitou a Argélia em Fevereiro, foi recebido com apupos e fruta podre por por parte de uma multidão enfurecida. Mollet rapidamente abandonou a intenção de um novo arranque para a política Argelina.
Nos quinze meses seguintes a França presenciou o espectáculo extraordinário dum primeiro- ministro socialista conduzindo uma guerra colonial de repressão. A direita estava satisfeita com o governo de Mollet pois era-lhe muito mais conveniente ter a esquerda democrática a ficar com o ónus da política reaccionária do que ter de a aplicar por si mesmo. Mas Mendes France não teve estômago para suportar as acções dos seus colegas e em Maio resignou. No Outono veio a crise da Expedição ao Suez e aqui Mollet uma vez mais satisfez-se a seguir o caminho do imperialismo. Este socialismo travestisado com o apoio da esquerda democrática e a tolerância da direita foi o mais longo dos da quarta república pois tinha poucos inimigos para além mdos comunistas. Mas na primavera de 1957 os conservadores decidiram que o seu tempo tinha terminado e derrubaram Mollet e o último governo da quarta república merecedor desse nome. Os últimos anos do regime foram meramente uma longa agonia. Os dois sucessores de Mollet eram jovens de mais e sem estatuto que ocuparam o poder que os mais experientes não aceitaram. Em Abril de 1958 os nacionalistas e conservadores derrubaram o último governo da Quarta República. Em 13 de Maio uma frouxa coligação de grupos semi-fascistas actuando com o conhecimento do comandante local do exército, tomaram controlo da administração argelina derrubando a Quarta República.
A revolução de 13 de Maio instalou no poder, na Argélia, uma nova e revolucionária autoridade em competição com o governo legal em Paris. No Norte de África, o “Comité da Segurança Pública” consistia num grupo de homens resolutos e desesperados, militares e civis, que estavam determinados a impor os seus próprios pontos de vista à pátria mãe. Eles queriam um regime autoritário que impusesse uma política de domínio estável sobre os territórios ultramarinos. Os revoltosos de Argélia tinham apoio nas forças armadas aí estacionadas e muitos apoios de forças conservadoras e nacionalistas em França, incluindo os simpatizantes de De Gaulle. Em contraste o governo de Paris estava a perder terreno. Em Maio de 1958, tornou-se conhecido que o general De Gaulle, ele próprio, estava pronto para formar um governo alternativo.
A candidatura do general De Gaulle não era o que os insurgentes inicialmente pretendiam. Desejavam alguém mais fascista e menos conciliador com as aspirações de liberdade das colónias, mas não tinham ninguém em particular em mente. Os gaulistas, pelo contrário, sabiam aquilo que queriam. Logo que o nome de De Gaulle foi lançado, por um pequenoi grupo de seguidores que se lhe tinham mantido fiel depoios da dissolução do seu movimento, 5 anos antes, a ideia começou a tomar forma rapidamente e em breve se verificou que um governo do general era a única solução possível. De Gaulle, o libertador do país, era ainda “o primeiro cidadão de França”. O seu passado militar e os seus tiquer autoritários era bem aceites pela direita e o seu passado de resistência a golpes de estado eram bem aceites pela esquerda democrática.
Entretanto a revolta tinha-se alastrado à Córsega e estava a cercar a França. Tornava-se evidente que o exército e a polícia nada fariam para a deter.
A 1 de Junho, na iminência de um ataque de paraquedistas à indefesa Paris, a Assembleia Nacional Francesa rendeu-se ao inevitável e investiu de Gaulle como primeiro-ministro.
O general voltava ao poder após 12 anos de afastamento num formal procedimento completamente constitucional – mas de facto era uma mudança revolucionária imposta por uma determinada minoria a uma dividida e irresoluta maioria e assim foi interpretado quer pelo povo francês quer pelos seus representantes eleitos. Como sinal da gravidade da mudança, estes últimos, antes de se dissolverem, votaram plenos poderes para o governo De Gaulle liderar a França e estabelecer, num período de seis meses, uma nova constituição para a “Quinta República”.