ROMA NOS PRIMÓRDIOS
DA REPÙBLIA
Após a queda dos Tarquínios, a
ameaça etrusca esfumou-se mas a cidade continuou a ser alvo do ataque de outros
inimigos. Durante dois séculos Roma envolveu-se em confrontos com cidades mais
fortes e por várias ocasiões a sua existência esteve em perigo.
Vizinhos Hostis
Inicialmente
foram os vizinhos mais próximos, os Latinos. Em 496 a.C. os romanos venceram
uma batalha decisiva junto ao lago Regilo. A batalha do lago Regilo traduziu-se
na incorporação no panteão romano dos deuses gémeos, Castor e Pólux, cujo
atributo é o cavalo, que se tornaram protectores dos cavaleiros romanos (a
prática de integrar entre as suas divindades as divindades dos vencidos era
comum na época e assentava na crença de que assim se incorporava o poder das
divindades dos Estados vencidos), e na assinatura dum tratado com as cidades
latinas, unindo forças contra os Volscos, os Équos e os Sabinos, povos que os
atacavam há mais de um século. A sorte e a habilidade diplomática fez com que
Roma e o Lácio sobrevivessem a estes inimigos. Para suster os primeiros
criaram-se as primeiras colónias, povoações fundadas por soldados-colonos aos quais
eram cedidas as terras recém-conquistadas. Aos Sabinos, Roma infligiu, em 449
a.C. uma pesada derrota e no fim deu-se a fusão progressiva dos dois povos
devido à transumância de carneiros entre as pastagens de Verão (em território
Sabino) e as pastagens de Inverno (em território latino). Antes, alguns anos
após o advento da república Romana, um dos chefes dos Sabinos, Ápio Cláudio,
desejoso de usufruir das vantagens de Roma, emigrou e estabeleceu-se em
território romano com todo o seu clã que contava cerca de 4000 famíliares e
apoiantes; foi assim fundada a gens Cláudia, cerca de 505 a.C.
Vitória sobre Veios
Dominados Volscos, Équos e
Sabinos, Roma voltou a estar ameaçada, desta vez pelos Etruscos. Veios era uma
poderosa cidade-Estado etrusca perigosamente próxima de Roma, da qual distava
apenas 20 Km. Como Roma, Veios fora outrora um conjunto de povoações de cabanas
que, na Idade do Ferro, se haviam reunido num único aglomerado. Veios, ao
contrário de Roma, não era uma cidade onde viviam, lado a lado, Etruscos e
Latinos, mas uma cidade puramente etrusca, de grande riqueza e cultura. A
proximidade entre Roma e Veios era de tal ordem que as duas cidades estavam em
concorrência permanente. O confronto era inevitável. Em 476 a.C. travou-se uma
batalha em Cremera entre o exército da gens Fábia, que dominava a jovem
República Romana, e as forças de Veios. A batalha foi desastrosa para os
Fabianos. Toda a margem direita do Tibre ficou nas mãos de Veios. Porém, em 474
a.C., os Etruscos sofreram uma pesada derrota com os gregos e Veios assinou,
então, uma trégua com os seus vizinhos Romanos que ocupavam a outra margem do
rio, o que permitiu a estes prepararem-se para a prova de fogo decisiva, que
aconteceu meio século depois. Em 425 a.C. os Romanos ocuparam a cidade de
Fidénes, na margem esquerda do Tibre, ponto estratégico na Via Salaria (caminho
do sal). Tal equivaleu a uma declaração de guerra a Veios. Esta era a guerra
mais importante de todas as que Roma já travara, pois a sua própria existência
estava em causa. Os combates sucederam-se durante seis ou sete anos e o
equilíbrio de forças inclinou-se em favor de Roma. Por fim os Romanos chegaram
junto da muralha , do lado Norte, onde terminava um dos túneis de drenagem que irrigavam
toda a região; abriram a entrada do túnel e conseguiram, desta forma, infiltrar
um pequeno destacamento militar que passou sob as muralhas e penetrou na cidade:
foi assim que Veios caiu nas mãos de Roma. O herói desta vitória foi Camilo
que, não obstante a origem lendária dos seus feitos militares, não desmerece
ser considerada a primeira figura histórica da República Romana. Os Romanos desmantelaram a
praça-forte, arrasaram as suas defesas e expulsaram a maior parte da população.
A eliminação do mapa, duma cidade-Estado constitui uma novidade sinistra na
história militar de Roma. Como noutras ocasiões, os Romanos adoptaram a deusa
protectora dos vencidos e estabeleceram-lhe culto. Tratava-se de Juno que, em
Veios, era alvo de um culto particular pleno de magnificência. A partir daí,
Juno tornou-se uma deusa protectora de Roma. A queda da primeira grande
cidade-Estado etrusca nas mãos dos Romanos marca uma viragem na História. Roma
tinha-se desembaraçado de um enorme obstáculo à sua expansão e duplicou a sua
superfície territorial.
A invasão gaulesa
Ao mesmo tempo um importante
revés estava em preparação. Populações celtas, vindas da Europa Central,
atravessaram progressivamente os Alpes e expulsaram os colonizadores Etruscos
do Norte da Itália, a Gália Cisalpina e espalharam-se pelo Vale do Pó e em 387
a.C. 30.000 guerreiros, comandados pelo chefe Brennus, avançaram em direcção a
Roma. Estes gauleses eram excelentes guerreiros, montavam cavalos ferrados (é a
primeira vez de que há conhecimento do emprego de ferraduras nos cavalos) e os
seus homens de infantaria usavam gládios fabricados em bom metal temperado. A
17 quilómetros da cidade, em Allia, um exército de 10 a 15.000 romanos fortemente
armada, esperava-os. Os Romanos foram desbaratados. Brennus e os seus homens
entraram em Roma e incendiaram-na. (Nos oito séculos seguintes não mais Roma
voltaria a cair nas mãos dos bárbaros). Os Gauleses retiraram-se, pouco depois,
contra o pagamento de um pesado resgate e porque as suas terras, no Norte, estavam
a ser ameaçadas por inimigos externos.
Neste mau momento Roma beneficiou
do apoio da cidade-estado de Ceare, situada a 32 quilómetros, junto ao mar,
que, por seu lado, necessitava do apoio de Roma para fazer face aos ataques dos
Gregos ao longo da sua costa. Para recompensar Caere, Roma concedeu-lhe um estatuto
novo e privilegiado: o "hospicium publicum", que permitia aos seus
cidadãos terem o privilégio de serem tratados da mesma maneira que os cidadãos
romanos em todos os assuntos do domínio privado. Este privilégio foi
posteriormente alargado por Roma a muitas outras cidades.
Os Romanos no Lácio e na Campânia
Em seguida Roma estendeu a sua
influência ao Lácio. Inicialmente Roma tinha constituído uma parceria com
várias cidades latinas, a Liga Latina. As maiores dessas cidades, desconfortáveis
com o poderio crescente de Roma, decidiram afastar-se. Os cidadãos de Túsculo
resolveram mesmo passar ao ataque. Em 381 a.C. Roma pacificou-os
oferecendo-lhes a incorporação no próprio Estado Romano, com todos os
privilégios da cidadania romana. A nobreza local aderiu de tal maneira que a
maior parte dos cônsules romanos irão, mais tarde, ser originários de Túsculo. Esta
prática inovadora teve um futuro promissor transformando cidades latinas em
cidades romanas.
Os Romanos decidiram ainda
estender a sua influência à Campânia, quando cerca de 343 a.C., a confederação
das cidades campanienses, ameaçadas pela invasão dos Samnitas, tomou a difícil
decisão de pedir auxílio aos Romanos. Roma respondeu ao apelo e fez a sua
entrada nesta vasta e rica região. Esta foi a Primeira Guerra Samnita.
Inicialmente os Romanos
confrontaram-se com grandes dificuldades: o exército amotinou-se pois nunca
tinha combatido tão longe; por outro lado, os Latinos viram na intervenção
Romana na Campânia uma tentativa de os cercar e exigiram ao governo Romano a
restituição do seu antigo estatuto de igualdade, que obteve uma recusa
categórica, eclodindo a guerra entre Roma e os Latinos. O conflito foi terrível
mas Roma, recorrendo a uma estratégia planificada a longo prazo venceu, terminando
de forma catastrófica para os Latinos e os seus aliados Campanienses cuja
cavalaria, medíocre no combate, foi esmagada em Trifanum. Os Campinenses
assinaram uma paz separada com Roma e as cidades latinas foram obrigadas à
submissão, mas os Romanos adoptaram com estes uma atitude conciliatória, não se
comportando de forma severa mas assinando com cada cidade um acordo específico
tendo em conta cada caso particular. Isto era de um requinte político admirável
e nunca visto, nem aos Gregos e permitiu, num equilíbrio difícil, assegurar o
domínio sobre estas populações sem ferir o nacionalismo local.
A invenção das colónias
Outro instrumento do poder
inventado pelos Romanos foi a colónia. Eram fundadas em locais estratégicos,
servindo primeiro como estâncias guarda-costas. As primeiras criaram-se junto
ao litoral, como Óstia, na foz do Tibre, que defendia Roma dos piratas e outros
inimigos vindos do mar. Em 218 a.C. fundaram-se 12 colónias romanas no litoral.
Também se fundaram colónias , nas encruzilhadas dos rios, nos acessos aos
desfiladeiros dos Apeninos e em cruzamento terrestres. De 343 a.C. a 264 a.C.
Roma colonizou 130.000 quilómetros quadrados repartidos em 60.000 lotes
fundiários.