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04/12/16

História de Roma 21: A SOCIEDADE ROMANA NO APOGEU DA REPÚBLICA





21 - A Sociedade
Em matéria de política externa Roma adoptou uma atitude cada vez mais dura e autoritária. No princípio do século II a.C. a autoridade do Senado sobre a política era total, não obstante as intervenções periódicas das assembleias. O governo era praticamente assunto de um círculo fechado de cerca de 2.000 homens, pertencentes a menos de vinte famílias. Eleições de «homens novos», (i.e. pertencentes a famílias sem antepassado «cônsul»), eram extremamente raros.
Guiado por estes homens e na ausência dum contra-poder eficaz, o Senado conservou uma supremacia que roçava a impunidade, tornando-se um órgão cada vez mais conservador.
 No plano interno, os nobres e o Senado mostravam-se cada vez mais intolerantes face aquilo que consideravam tentativas que visavam minar a sua supremacia. Entre aqueles que foram alvo da sua cólera, podemos citar o poeta Névio (270-201 a.C.), autor de obras patrióticas, entre as quais algumas tragédias e uma epopeia que é uma obra de vanguarda que tem como tema a 1ª Guerra Púnica, na qual o autor havia participado. Cerca de 204 a.C., Névio cometeu uma falta que lhe valeu a prisão e, depois, o exílio. A razão da severidade da sua pena remontava, provavelmente, a uma ofensa com cerca de trinta anos: tinha ousado criticar uma das mais poderosas famílias nobres plebeias.

A arte
Nas artes, Plauto (254-184 a.C.) é o grande mestre no domínio das peças cómicas. Com ele a comédia latina em verso atinge o apogeu. Inspirou-se nas refinadas comédias gregas do século IV a.C., mas, em vez da subtileza destas, deu largas ao seu génio na farsa bufa, de ritmo rápido. Utilizou o grotesco para a crítica social indirecta mas reveladora, tendo o cuidado de apresentar as suas personagens não como romanos, mas como gregos ou bárbaros. Outro grande poeta, Quinto Énio (239-169 a.C.), nasceu na Calábria onde recebeu as influências culturais que lá convergiam, gregas, latinas e italianas. Recebeu a cidadania romana como recompensa da participação na 2ª Guerra Púnica e foi trazido para Roma por Catão, em 204 a.C. Foi o primeiro profissional de letras em Roma e foi considerado o pai da poesia latina. A sua obra «Anais» - um poema épico no qual utilizou, como meio de expressão, uma adaptação do verso heróico grego - constitui uma crónica de toda a história romana, das origens até à sua época.
Catão, "o antigo" (234-149 a.C.) era um «homem novo». Raros textos da sua autoria chegaram até nós mas, apesar disso, o seu prestígio, como erudito, foi enorme. A sua obra maior, uma história de Roma em sete volumes, intitulada «Origens» ou «Histórias», redigida em latim, que não nos chegou, constitui a primeira obra de referência neste campo e o protótipo da prosa latina na qualidade de instrumento literário. Foi um excelente orador. Embora não contasse com qualquer cônsul entre os antepassados, tornou-se um dos políticos mais famosos na sua época e durante muitos anos uma personagem de primeira importância. Foi um inimigo figadal dos Cipiões. Apoiado na tradição e, protegido pelos numerosos proprietários fundiários conservadores, mostrou-se profundamente hostil ao culto da personalidade, nomeadamente a prestado a Cipião. Conseguiu expulsar os Cipiões da vida pública, obrigando-os à reforma em 184 a.C. e nesse ano foi eleito censor, o que era excepcional para um «homem novo». Esse cargo permitiu-lhe intensificar os ataques contra o helenismo, mas também a adoptar muitas medidas tendentes a renovar a economia e a moral da sua pátria. Foi hostil às tendências da sua época que visavam a emancipação das mulheres. Era do campo, chicaneiro e vingativo, de olhar penetrante, foi um modelo de puritanismo reaccionário, mas todos os seus esforços foram em vão pois o seu programa mostrou-se, a longo prazo, impraticável.
Com o tempo, os Romanos voltaram-se cada vez mais para Cipião Emiliano, bom orador, um dos mais novos generais romanos que participou na campanha da Macedónia, neto adoptivo de Cipião, o Africano, cultivando o gosto da época pelo individualismo tão criticado por Catão, veio a substituí-lo e, durante mais de 20 anos, foi um dos homens de Estado mais marcantes de Roma. Revelou-se um organizador enérgico e caracterizava-o uma reputação, totalmente merecida, de integridade. Com grande atracção intelectual pelo helenismo, interessou-se pela filosofia e literatura gregas e muitos do que lhe eram próximos, como Terêncio (185-159 a.C.), dramaturgo latino cuja obra extraordinária exerceu uma influência duradoura sobre o teatro europeu. vieram a ser responsáveis pelo progresso que a cultura helénica conheceu em Roma.

A riqueza e os novos monumentos
Durante todos estes anos, um afluxo crescente de moeda e lingotes de proveniência ultramarina foi-se acumulando no tesouro romano.
Roma era já, pelo tamanho, a primeira cidade do Ocidente e o afluxo de riquezas permitiu a construção de monumentos sumptuosos. A influência grega evidenciava-se no novo gosto pelos pórticos e pelas basílicas. No século I a.C. estas vastas salas públicas foram reconstruídas com abóbadas em arco - uma conquista arquitectónica romana (que implicava uma outra inovação tipicamente romana, o arco monumental, que surgiu em Roma a partir de 196 a.C.). Estes monumentos anunciavam já os sumptuosos arcos do triunfo imperiais que ainda hoje se podem admirar em muitas cidades. Os progressos atingidos na construção de arcos, arcadas, absides semicirculares, nichos e abóbadas foram possíveis devido à descoberta de uma matéria revolucionária: a argamassa. Em 144 a.C. um pretor mandou construir, para fornecer água à cidade, o primeiro aqueduto de Roma, o Acqua Marcia, com 58 Km de comprimento. Esta iniciativa deu origem a um vasto processo de construções de aquedutos, no final do qual Roma passou a usufruir de uma abundância de água corrente única no mundo. Ao mesmo tempo os romanos construíram estradas por toda a Itália. Em Roma as ruas permaneceram estreitas, mas foram pavimentadas com ladrilhos de lava endurecida do monte Albino. A população da capital aumentou e a maior parte dos habitantes residia em edifícios frágeis, construídos com madeira e materiais baratos, sem aquecimento nem água corrente, regularmente devastados por incêndios e inundações mas, pelo contrário, as habitações dos ricos começaram a ser construídas com pedra de cantaria. As casas tinham uma fachada cega que dava para a rua, distribuindo-se os quartos em redor de um átrio que desempenhava as funções de corredor interior e de sala de recepção; no átrio ficava o altar e as estátuas da família; os quartos de dormir e o alojamento do pessoal doméstico situavam-se na zona mais afastada e muitas destas casas tinham uma sala de jantar de Inverno e outra de Verão.

Os escravos
Os escravos constituíam uma enorme reserva de mão de obra.
Na sequência das campanhas vitoriosas dos séculos III e II a.C., Roma foi inundada de escravos. Esta mercadoria era vendida nos grandes mercados da Cápua e de Delos. Nestes espaços chegavam a negociar-se 20.000 escravos por dia.
Os escravos não tinham quaisquer direitos mas os domésticos eram tratados com relativa benevolência. Foi em grande parte devido a eles que a cultura grega penetrou em Roma pois forneciam à cidade professores, médicos e pessoal administrativo. No campo, a sorte dos escravos foi sempre menos sorridente. Segundo Catão deviam ser tratados da mesma forma que os animais domésticos e quando já não tinham idade para ganhar o pão, Catão achava que se podiam deixar morrer, contudo, ainda segundo ele, uma boa gestão obrigava a que os animais e os escravos fossem tratados com cuidado, de maneira a que trabalhassem o maior tempo possível. Era frequente que estes escravos, chamados rústicos, usassem grilhetas permanentemente  Nas grandes explorações agrícolas, alguns proprietários de escravos muito severos e pouco cuidadosos, submetiam a sua mão-de-obra a tratamentos terríveis. Os escravos que trabalhavam nas minas viviam uma existência ainda pior. Muitos desertavam para viverem na clandestinidade e esta foi uma das razões porque, em alguns períodos do século II a.C., a estrutura social romana estremeceu e esteve à beira da desintegração.



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