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14/05/17

A Renascença

A Renascença foi um novo despertar da civilização ocidental, após o interregno obscurantista medieval fomentado pela Igreja. Foi um período no qual o mundo viveu alterações profundas e sem precedentes, embora as grilhetas do medievalismo persistissem, sobretudo em lugares onde a Igreja era estimada, mas a acção de milhares de indivíduos dinâmicos e entusiastas que lutaram durante cerca de dois séculos, acabaria por tornar civilizada uma dinâmica que se revelou imparável, caracterizada por uma impaciente ânsia de aventura, inovação e novos horizontes.
Nessa época, a vida quotidiana era angustiante e a sociedade encontrava-se praticamente estagnada. Os médicos sangravam e acalmavam os doentes com sanguessugas e os alquimistas, nos seus variados sonhos alimentados pela avareza, tentavam transformar o metal vil em ouro. O mundo dos vivos era controlado tanto pelas bactérias transportado por ratazanas que repetidamente dizimavam enormes quantidades da população da Europa, como pelas guerras feitas pelos homens que matavam grande parte da população campesina. Entretanto o poder da fantasia e do medo alimentava pesadelos nos quais os demónios de um mundo subterrâneo perseguiam e matavam os incautos. A média de esperança de vida era para a mulher de 24 anos e talvez chegasse aos 27 para o homem. A maior parte das pessoas tinha fome e padecia de doenças e os ricos sofriam da maioria dos horrores dos pobres; a peste, a guerra e as epidemias eram efectivamente democráticas. Quase todos eram iletrados e passavam a maior parte do seu tempo embriagados. Ao longo da vida a maioria não se afastava além de dezasseis quilómetros de casa, e alimentava suspeitas patológicas em relação aos estrangeiros; poucos tinham uma ideia vaga do ano em que se encontravam, e não tinham o mínimo conhecimento do mundo que se estendia para além da sua vila ou cidade. A sua religião, apesar de na aparência ser católica, era constituída em noventa por cento de superstição e artes mágicas; a forma de cristianismo a que estavam ligados era pouco compreensível e imbuída de uma terminologia quase mítica. A populaça recebia a doutrinação religiosa numa língua antiga e praticamente incompreensível, o latim; as obras sagradas ortodoxas eram em geral textos sem sentido. As coisas só se alteraram em definitivo com o advento da Revolução Industrial, por volta de 1780.
No século XIV, o esforço secular, humanista e intelectual da Renascença, teve origem num pequeno grupo de europeus que ambicionando o prestígio e renome social e com sólidos conhecimentos, buscaram a novidade e o saber e procuraram activamente os tesouros literários e filosóficos dos antigos, financiados por nobres endinheirados de Florença e conseguindo angariar, de castelos árabes e turcos, dos seus mosteiros sombrios e de antigas bibliotecas em decadência manuscritos perdidos e originais escritos pelas figuras semi-míticas do período clássico, tesouros desenterrados por historiadores e linguistas pagos a soldo e cuidadosamente seleccionados. Alguns dos textos latinos clássicos mais antigos foram encontrados por Boccaccio, Salutati e Conversini, tendo todos eles trazido para Florença, uma enorme quantidade de importantes obras. Pouco depois, por influência de Petrarca e outros, a procura estendeu-se aos antigos manuscritos originais gregos que foram sendo encontrados e trazidos para Itália, em especial Florença. Deste modo, os ensinamentos de Aristóteles, Platão, Pitágoras, Euclides, Hipócrates e Galeno, na sua forma original, deram início a uma nova era de humanismo e reforma, juntamente com o ressurgimento do interesse pela ciência, pela medicina e pela filosofia.
Contudo a Renascença não foi impulsionada apenas pelo passado mas também e em grande medida pelo facto de na «Alta Renascença» se passar a viver num mundo repleto na mais fabulosa criação da Humanidade, a prensa móvel e a impressão, de que Guttenberg foi pioneiro. Em 1455 foi produzida a famosa Bíblia de Guttenberg; três anos mais tarde, abria uma tipografia em Estrasburgo e vinte cinco anos depois, em 1480, havia mais de uma dezena de tipografias a trabalhar em Roma e no final do século XV, estima-se que cem tipografias estivessem a trabalhar só em Veneza. Por essa altura, cerca de quarenta mil livros tinham sido impressos. Antes de 1450 existiam menos de trinta mil livros, todos eles escritos à mão. Nos finais do século XVI, havia já um inventário de cerca de cinquenta milhões de livros impressos.
Os historiadores têm alguma dificuldade em chegar a um consenso relativamente às datas que marcaram o início e o fim deste período. Se os meados do século XVI é frequentemente identificado com o fim da Renascença, outros situam-no durante os últimos anos do século XVII, menos de um século antes das primeiras manifestações do Iluminismo, que germinou com as ideias de Newton, Descartes e Locke.
Os filósofos da Renascença eram quase todos católicos leais, que na sua maioria conservavam as suas ideias mais radicais para si próprios. A igreja Romana amordaçava com determinação a expressão pública de ideias radicais e perseguia energicamente os autores de qualquer filosofia divergente. Os chefes da igreja eram instintivamente anti-intelectuais e deliberadamente obscurantistas, para que os cardeais continuassem a preservar acerrimamente os seus privilégios, quanto menos os leigos soubessem, melhor. No final do Renascimento os que eram intelectualmente curiosos, acharam difícil reconciliar o que era claramente observável e quantificável com a teologia antiga apresentada pela Igreja.

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