“Cadernos de História da
Arte” - vol. 5 Ana Lídia Pinto, Fernanda Meireles, Manuela Cernadas Cambotas
ARTE MEDIEVAL
1
APRESENTAÇÃO
Nesta disciplina serão abordados os períodos e
os estilos artísticos durante a Idade Média, na área geográfica correspondente
ao ocidente e sul da Europa.
A Idade Média corresponde a um
grande período situado entre o Império Romano e o Renascimento, ou seja,
compreendido entre duas épocas clássicas.
Duas importantes datas servem de
referência aos historiadores da Idade Média. São elas 476, ano da queda do Império
Romano, e 1453, ano da queda do Império Bizantino.
Apesar da especificidade destas
datas, a Idade Média não se iniciou nem terminou de repente.
Pelo contrário, existiram longas
fases de transição no seu começo e no seu final.
Fruto de sucessivas invasões e de
disputas internas, a Europa vive um período muito conturbado (e pouco
documentado) até aos sécs. XI-XII.
A arte produzida em mais de
metade da Idade Média corresponde em grande parte à dos povos invasores, ou a
mesclas destas com algumas heranças clássicas.
A partir dos sécs. XI-XII, deu-se
um fortalecimento do Cristianismo e a definição de fronteiras das nações
emergentes, assim como das suas línguas.
Criaram-se, então, condições de
estabilidade suficientes para o aparecimento de importantes cidades,
desenvolvimento do comércio e das artes.
Em termos programáticos, nesta
disciplina vão ser estabelecidos quatro capítulos, compostos por alguns
subcapítulos:
1. A Arte da Alta Idade Média Arte Paleocristã
Arte Pré-românica Arte Muçulmana Arte Bizantina
2. A Arte Românica Arquitetura
Pintura Escultura
3. A Arte Gótica Arquitetura
Escultura Vitral Pintura
4. A Arte Medieval em Portugal
Arte Pré-românica Arte Muçulmana Arte Românica Arte Gótica
2
ARTE PALEOCRISTÃ
A Arte Paleocristã corresponde às
primeiras manifestações artísticas do Cristianismo, situando-se sensivelmente
entre os anos 200 e 650.
Divide-se em duas fases: uma de
clandestinidade, anterior a 313; outra posterior a essa data quando, quando se
torna a religião oficial do Império Romano, através do imperador Constantino.
No período de clandestinidade, as
catacumbas de Roma (conjuntos subterrâneos de corredores e salas) são locais da
maior relevância para o estudo da Arte Paleocristã.
São cerca de cinquenta essas
catacumbas, seis delas judaicas.
Nesses espaços recônditos,
praticavam as religiões perseguidas os seus rituais, incluindo cerimónias
fúnebres.
Na Arte Paleocristã encontram-se
influências das artes clássicas grega e romana.
Contudo, devido às perseguições e
à ausência de escola, apresentam limitações técnicas.
Do Velho Testamento são comuns as
representações de Adão e Eva, Noé e Moisés; do Novo Testamento passagens da
vida de Cristo, da Virgem Maria dos apóstolos e outros santos.
Da fase do Cristianismo como
religião legalizada destacam-se os mosaicos dos mausoléus de Santa Constança
(em Roma) e de Gala Placídia (em Ravena), assim como da Basílica de Santa Maria
Assunta (em Aquileia).
Ao contrário dos frescos, os
mosaicos paleocristãos apresentam rigor técnico e complexidade de composição.
Aos temas adotados nos frescos,
acrescentam-se nos mosaicos composições de caráter geométrico e cenas do mundo
do trabalho.
A arte móvel faz também parte da
produção artística paleocristã.
Consiste essencialmente em
pequenos altares de marfim, livros sagrados ilustrados e outros objetos.
Os povos vindos na primeira vaga
de invasões eram nómadas, mas acabaram por aderir ao Cristianismo.
Os objetos de arte de pequenas
dimensões são uma caraterística dos povos nómadas.
Alguns autores incluem os
primeiros séculos da Arte Copta, do Egito cristão, na Arte Paleocristã.
No que diz respeito à
arquitetura, já na fase em que a religião cristã se podia manifestar
livremente, destacam-se os mausoléus de algumas santas e as basílicas dedicadas
ao culto em geral.
Os mausoléus têm planta
centralizada; as basílicas cristãs começaram por ser adaptações das romanas,
originalmente de planta retangular dividida por naves.
Contudo, a pouco e pouco as
plantas das basílicas vão-se aproximando da forma da cruz, acrescentando-se uma
abside semicircular na área do altar-mor e dois espaço laterais.
Esta transformação leva a que, já
nos períodos românico e gótico, as naves formem o corpo principal da cruz e
surja o transepto, nave ou naves perpendiculares a essas.
3
ARTE PRÉ-ROMÂNICA
Nos séculos imediatamente após a queda do
Império Romano não existe na Europa um estilo dominante a nível internacional,
mas tendências com variantes e especificidades de cada povo.
As tendências e mesclas da arte
produzida por esses povos antecederam e influenciaram o estilo Românico, pelo
que se pode designar esse período por Pré-românico.
Enquanto povos nómadas, a sua
arte manifestou-se sobretudo em objetos facilmente transportáveis: peças de
ourivesaria, decoração de armas, proteções de guerra, pequenos oratórios,
imagens de santos, livros, etc.
Neste vasto período, os mosteiros
tiveram uma importância fundamental na conservação e produção de conhecimento.
A Arte Hiberno-Saxónica
Designa-se por Arte
Hiberno-saxónica a que se produziu nos sécs. VII e VIII na Ilhas Britânicas.
Trata-se de uma arte ao serviço da religião
cristã mas com influências celtas.
Dessa arte destacam-se as
ilustrações de livros, ou iluminuras, trabalhos em metal e gravações em pedra,
onde são feitas elaboradas e delicadas composições à base de formas
geométricas, linhas e entrançados.
A Arte Anglo-saxónica
Designa-se por Arte
Anglo-saxónica a que se produziu entre finais do séc. IX e finais do séc. XI.
Contudo, há quem recue alguns
séculos, fazendo desta uma expressão mais abrangente, ao ponto de nela incluir
a Arte Hiberno-saxónica.
Expressa-se essencialmente
através de ilustrações de livros, objetos decorativos de ouro e de marfim e
tapeçaria.
Arte Merovíngia
A dinastia merovíngia tem a sua
origem nos francos sálios, povo que se estabeleceu na atual Bélgica e norte de
França e posteriormente se expandiu para sul.
Perdurou de 481 a 754, nos
territórios que correspondem hoje a uma grande parte da França, Países Baixos,
Suíça e oeste da Alemanha.
A Arte Merovíngia revela-se
sobretudo em adornos, ourivesaria, pequenos objetos utilitários e arquitetura.
Da arquitetura destacam-se
pequenos batistérios ou o que deles resta, onde é utilizado o arco de volta perfeita.
Os capitéis das colunas são
ricamente decorados.
Arte Carolíngia
O território do Império
Carolíngio correspondente sensivelmente ao dos atuais Países Baixos, Alemanha,
França, Suíca, Áustria, República Checa, e centro e norte de Itália.
Perdurou entre 768 e 843, e teve
Carlos Magno, Luís I e Lotario I como monarcas.
A sua dissolução levou à criação
do reino da França e do Sacro Império Romano-germânico.
A Arte Carolíngia faz como que
uma mescla das tendências artísticas dos povos do Império Carolíngio com a
absorção de elementos clássicos romanos.
Ilustrações e capas de livros,
pequenos altares e peças de ourivesaria são bons exemplos da arte móvel
carolíngia.
Na arquitetura há preferência
pela planta centralizada, pela aplicação do arco de volta perfeita e por
ambientes de pouca luz.
Os poucos exemplares foram em
grande parte absorvidos ou modificados por edifícios dos períodos românico e
gótico.
O mosaico seria uma técnica
aplicada na decoração de alguns interiores.
Arte Otoniana
O território do Império Otoniano
correspondente sensivelmente ao dos atuais Países Baixos, Alemanha, leste de
França, Suíca, Áustria, República Checa e norte de Itália.
O Império Otoniano, que perdurou
entre 919 e 1024, teve os seguintes reis: Henrique I, Otão I, Otão II, Otão III
e Henrique II.
Estética e cronologicamente, a
Arte Otoniana situa-se entre a Arte Carolíngia e a Românica, com influências da
Arte Bizantina.
Das obras de arte móvel
salientam-se as ilustrações de livros, cruzes votivas, pequenos altares, peças
litúrgicas, objetos decorativos e ourivesaria.
Tal como na arquitetura
carolíngia, também na otoniana há preferência pela planta centralizada, o arco
de volta perfeita e ambientes de pouca luz.
Arte Visigótica
A origem dos godos está envolta
em controvérsia. Originalmente seriam um povo germânico instalado na zona das
Balcãs, um dos primeiros a invadir o Império Romano.
No seu avanço pelo sul da Europa,
os godos dividiram-se em dois ramos: ostrogodos na Península Itálica; visigodos
no sul de França e Península Ibérica.
Na sua maior extensão, o Reino
dos Visigodos teve capital em Toulouse, mas após perderam grande parte do
território além-Pirinéus, tornou-se Toledo a sua capital.
A Arte Visigótica perdurou entre
a chegada dos visigodos a esta região, do início do séc. V, e a ocupação
muçulmana da Península, em 711.
As ilustrações de livros
apresentam composições pouco arrojadas e com poucas cores; figuração humana é
simplificada, com representação essencialmente frontal.
A ourivesaria revela uma técnica
bastante apurada, atingindo algumas peças elevados níveis de requinte, tanto em
peças de caráter utilitário como votivo.
As igrejas têm pequenas dimensões
mas aspeto robusto, com poucas e pequenas aberturas, o que proporciona
interiores pouco iluminados.
As plantas variam entre o formato
retangular e o cruciforme.
É utilizado o arco em ferradura.
A decoração centra-se nos
capitéis e em frisos ricamente esculpidos com baixos-relevos, com motivos
geométricos e figurativos simplificados.
Pré-românico Asturiano
Numa faixa de território
no norte da Península Ibérica, protegida pelos Montes Cantábricos, que
corresponde sensivelmente aos atuais territórios das Astúrias e da Cantábria,
existiu o Reino das Astúrias.
Formou-se após a capitulação do
Reino Visigodo e foi o único território da Península nunca ocupada pelos
muçulmanos.
Na arquitetura, o sub-estilo
Pré-românico Asturiano é o que mais se aproxima do estilo Românico, parecendo
anunciar esse importante período artístico.
Desenvolveu-se entre finais do
séc. VIII a começos do séc. X, a partir de influências lombardas e carolíngias,
com alguma influência visigótica.
De entre as igrejas asturianas,
por norma austeras e pouco iluminadas, destacam-se algumas com uma elegância
surpreendente, iluminadas por janelas maiores e tendendo para uma certa
verticalidade.
O arco mais utilizado é o de
volta perfeita, surgindo por vezes na variante de peraltado, sendo que o de
ferradura também aparece.
Quando existem, os relevos
concentram-se sobretudo em capitéis, colunas e arcadas.
Da ourivesaria destacam-se as
cruzes votivas que eram propriedade de reis, sendo uma delas o símbolo das
Astúrias.
Das iluminuras há que referir as
do “Comentário ao Apocalipse”, obra dum monge do séc. VIII, de que se conhecem
ilustrações feitas por beatos do séc. X.
4
A ARTE MUÇULMANA
Num curto período de tempo, entre 711 e 718,
deu-se a conquista muçulmana da Península Ibérica, passando esta a ser uma
província do Califado Omíada, com capital em Damasco.
Contudo, após um conturbado
período de sucessão no seio do califado, forma-se na Península, em 756, o
independente Emirado de Córdova, com capital nessa cidade.
Dado o forte domínio muçulmano
instalado neste relevante território, o mesmo passou a Califado de Córdova, em
929.
Mas, em 1009, um golpe de estado
deu início a um período de sangrentos conflitos, com deposições dos sucessivos
califas.
No decorrer de tais conflitos, o
califado acabou por ser abolido, em 1031, ficando o território dividido em
vários reinos, as Taifas, que duraram até ao séc. XIII, chegando a ser trinta e
nove.
Contudo, eram também frequentes
as lutas de poder entre taifas e no interior das mesmas, a que não são alheias
as questões familiares e étnicas, já que os muçulmanos ibéricos eram de
diferentes origens: árabes, berberes, sírios, etc.
Em 1056, as taifas foram
assimiladas pelo Califado Almorávida, composto pelos atuais Marrocos, Saara
Ocidental e Mauritânia.
Voltaram a formar-se e de novo
foram assimiladas, em 1147, desta vez pelo Califado Almóada, estendendo-se por
territórios dos atuais Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
Fruto das conquistas cristãs, o Al-Andalus (designação
dada pelos historiadores árabes ao território muçulmano da Península) acabou
por ficar reduzido a uma pequena área geográfica situada a sul, na atual
Andaluzia.
Em 1238, aí se formou o Reino
Nazarí de Granada, com capital nessa cidade, que perdurou até 1492, ano em que
Castela conquistou esse último reduto muçulmano na Península Ibérica.
Durou quase oito séculos o
domínio dos muçulmanos no sul da Península.
A sua arte é estudada em função
dos diferentes períodos históricos: Califados, Emirado, Taifas, Almorávida,
Almóada e Nazarí.
A arquitetura é a grande arte do
mundo muçulmano, para ela convergindo as artes aplicadas e decorativas, como a
azulejaria, a cerâmica, o estuque, a tapeçaria, etc.
A representação figurativa é
proibida em contexto religioso, surgindo em peças cerâmicas e na ilustração de
livros que versem outras temáticas.
Algumas caraterísticas da
arquitetura são transversais a épocas, regiões e gostos:
- Utilização de arcos em ferradura (simples,
apontado e peraltado), polilobados e entrecruzados;
- Decoração com motivos essencialmente
geométricos, em azulejo e estuque, em torno de portas, janelas, arcadas,
cúpulas e mirabe (ou mihrab).
Pelas suas dimensões, beleza ou
estado de conservação, destacam-se as seguintes construções:
- Grande Mesquita, em Córdova: dos períodos do
Emirado e do Califado, que foi até ao século XVI a 2.ª maior mesquita do mundo,
e a 3.ª até finais do séc. XX; começou a ser construída em 786, no local onde
existia uma basílica visigótica; teve uma ampliação em meados do séc. IX e duas
no séc. X; no 2.º quartel do séc. XIII, após a reconquista, foi construída no
seu interior a Capela-Mor (atual Capela de Villaviciosa), em estilo
romano-gótico; um século depois foi construída a Capela Real, em estilo mudéjar;
no final do séc. XV e ao longo do séc. XVI foi aberta uma grande nave no seu
interior e construída uma catedral em estilo renascentista / maneirista, com
detalhes que anunciam o estilo barroco.
- Aljafería, em Saragoça: palácio real
fortificado, construído na 2.ª metade do séc. XI, durante um período Taifa;
trata-se de uma construção de recreio, então chamado “Palácio da Alegria”; no
interior duma cintura de muralhas, tem aposentos, espaços de lazer e uma
pequena mesquita; em finais do séc. XV, os Reis Católicos mandaram construir
nele um palácio, em estilo mudéjar, que foi acrescentado num 2.º piso; teve
importantes obras de restauro no séc. XIX; nela nasceu a infanta Isabel de
Aragão, futura rainha Santa Isabel, de Portugal.
- Giralda de Sevilha: torre-campanário da
Catedral de Sevilha, originalmente era o minarete da mesquita que existia no
mesmo local; foi construída em finais do séc. XII; o seu último terço foi
acrescentado após a reconquista, em estilo renascentista; tem 95 metros de
altura.
- Torre do Ouro, em Sevilha: era a
torre-albarrã das muralhas defensivas da cidade, no período Almóada; o seu
corpo principal, dodecagonal, foi construído em 1220-21; após a reconquista, no
séc. XIV, foi-lhe acrescentado um segundo corpo, em estilo gótico; por fim
foi-lhe acrescentado um corpo cilíndrico com cúpula, em 1760, cinco anos após o
grande terramoto.
- Reais Alcazares, em Sevilha: conjunto
fortificado de palácios, pátios e jardins, que começou a ser construído em 713;
o primeiro dos seus palácios serviu de residência de líderes muçulmanos, a
partir de 720; posteriormente, ao núcleo inicial foram acrescentados outros
palácios e residências; após a reconquista cristã, o conjunto sofreu
alterações, ficando também com exemplos de arte mudéjar, gótica, renascentista
e barroca; atualmente, além de ser um agradável espaço de lazer aberto ao
público, constitui uma das residências da família real e nele ficam hospedados
convidados ilustres.
- Alcazaba de Badajoz: grandioso conjunto de
muralhas em torno da antiga cidadela, ou alcáçova, do período Almóada; começou
a ser construída no séc. IX mas a sua configuração definitiva é do séc. XII;
nela residiram os monarcas da Taifa de Badajoz; com cerca de 400 x 200m, é a
maior alcáçova da Europa.
- Alhambra, em Granada: cidadela e palácios do
período Nazarí: cidadela fortificada, com palácios, pátios e jardins do período
Nazarí; construída entre meados do séc. XIII e meados do séc. XIV; servia de
residência do monarca do Reino de Granada; era também local de refúgio de artistas
e intelectuais; após a reconquista cristã sofreu algumas alterações, mas grande
parte do património muçulmano foi preservado; a sua beleza está sobretudo na
relação entre os interiores e exteriores, e nas sumptuosas decorações de
estuque; os espaços jardinados são intervenções mais recentes.
- Generalife, em Granada: palácio vizinho da
Alhambra, construído entre 1302 e 1324, no período Nazarí, como residência de
verão; a localização e a simplicidade das suas formas conferem-lhe uma
elegância muito peculiar; é também rico em estuques decorativos; os jardins
atuais são dos sécs. XIX e XX.
Para estudos mais específicos ou aprofundados,
convém saber que a Arte Muçulmana da Península (e suas derivações) não é,
contudo, tão estanque como possa aparentar. Vejamos as designações que se
seguem.
- Arte
Muçulmana (ou Islâmica): Produzida pelos povos praticantes dessa
religião; é também o termo que utilizamos para a arte por eles produzida na
Península Ibérica.
- Arte
Hispano-árabe (Hispano-muçulmana ou Mourisca): Produzida pelos árabes e
outros muçulmanos em território espanhol ou ibérico.
- Arte Árabe: Produzida pelo povo
árabe e outros sob sua influência direta.
- Arte Moçárabe: Produzida pelos
cristãos em território ibérico dominado pelos muçulmanos, com influência formal
e estética muçulmana.
- Arte Mudéjar: Produzida pelos
cristãos após a reconquista, também com influência formal e estética muçulmana.
- Arte Neo-árabe: Revivalismo
artístico de finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, integrado na fase
final do Romantismo, com influência formal e estética muçulmana.
5
A ARTE BIZANTINA
Na fase final do Império Romano,
Roma foi perdendo destaque como capital.
Ao invés, Bizâncio (que chegou a
ter o nome de Nova Roma) engrandeceu o seu poderio e conseguiu resistir às
vagas de invasões que fizeram tombar a metade ocidental do império, no ano 476.
No ano 313, Constantino autorizou
que o cristianismo fosse praticado livremente, tendo ordenado a construção das
basílicas de São Pedro, em Roma, do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e da
Natividade, em Belém.
Em 392, Teodósio I tornou o
cristianismo a religião oficial do Império, e combateu todo o tipo de
paganismos.
A partir de 330, Bizâncio
passaria a designar-se Constantinopla, contudo, o império manteve a designação
de Império Bizantino.
Sobretudo através de Justiniano houve
conquista de territórios a ocidente; mas o império sofreu diversas perdas sob a
pressão dos muçulmanos, que avançaram de leste, e de povos que avançavam do
norte.
Em 1453, data que marca o fim da
Idade Média, Constantinopla foi tomada pelos muçulmanos, passando a ser a
capital do Império Otomano, sob a designação de Istambul.
Entretanto, O Grande Cisma,
ocorrido em 1054, havia levado à criação da Igreja Ortodoxa, separando-se da
Igreja Católica.
A partir dessa data, a Arte
Bizantina tornou-se representante do cristianismo ortodoxo.
A Arte Bizantina é herdeira dum
passado rico, que vai juntar às heranças greco-romanas elementos estilísticos
do Egito e da Pérsia.
Nela, a técnica do mosaico atinge
o seu mais alto esplendor, com painéis cobrindo paredes, tetos, abóbadas e
arcadas, com coloridos intensos e composições surpreendentes.
A representação da figura humana
não é realista mas algo estilizada, obedecendo a rigorosos cânones.
Por norma, surge estática e
frontal, em poses algo rígidas e austeras.
As bocas são pequenas, os narizes
longos e os olhos grandes, com olhar fixo.
As pregas do vestuário são bem
vincadas, apesar de os volumes serem, em geral, pouco acentuados.
Existem também excelentes
exemplares de frescos, quer cobrindo paredes e abóbadas num contínuo, quer em
pequenas composições ou representações de santos.
Formalmente, os frescos
apresentam caraterísticas idênticas às dos mosaicos.
Na arte móvel destacam-se: os
ícones, pinturas sobre madeira onde os temas mais comuns são os de Cristo
Entronizado e da Virgem com o Menino; os relevos em marfim, quer em placas
votivas, quer aplicados a caixas ou pequenos cofres.
Os frescos e os ícones bizantinos
exerceram forte influência na pintura românica, assim como na fase inicial da
pintura gótica.
Na arquitetura, construídas de
raiz, destacam-se, pelas dimensões e complexidade formal, a grande basílica de
Santa Sofia, em Constantinopla, e a catedral de São Marcos, em Veneza.
A primeira, de planta retangular,
possui uma complexa estrutura de colunas, pilares, arcos e abóbadas; da
segunda, em planta de cruz grega, destacam-se as diversas abóbadas
semiesféricas.
As estruturas assentes em
sistemas de arcos de volta perfeita e de cúpulas semiesféricas, entre outras,
são como que uma imagem de marca da arquitetura bizantina, assim como os seus
interiores cobertos por mosaico.
6
A ARTE ROMÂNICA
Apresentação
Muitos crentes receavam que
acabasse o mundo no ano 1000.
Este fator contribuiu para que
aumentasse o fervor religioso e se intensificassem as peregrinações aos locais
sagrados mais importantes do mundo cristão.
A partir do séc. X surge na
Europa um grande número de mosteiros, situados sobretudo nas rotas para
Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela.
A construção de mosteiros a bom
ritmo perdurou pelos séculos XI, XII e XIII.
Nesse período, as ordens
religiosas já existentes ganharam influência e poder, e outras foram surgindo.
Com as suas regras e hábitos
específicos, algumas desempenharam um papel relevante na sociedade e no
preservação do conhecimento.
O feudalismo impõe-se como
sistema de organização da sociedade, onde camponeses e artesãos são servos de
um senhor nobre, proprietário do feudo.
Os servos, contudo, têm alguma
proteção do seu senhor, por viverem nas suas terras.
Entre 1096 e 1272 houve uma
dezena de Cruzadas.
Estas consistiram em guerras,
invasões ou movimentações militares com vista a conquistar a Terra Santa para o
domínio dos cristãos e a expulsar os muçulmanos do território europeu.
Nas Cruzadas participaram as
ordens religiosas que eram simultaneamente ordens militares, com os seus monges
cavaleiros: Ordem Cisterciense, Ordem dos Templários e Ordem de Malta (ou dos
Cavaleiros Hospitalários
Neste cenário surge e instala-se
o estilo Românico, que tem o seu apogeu entre 1050 e 1200.
É o primeiro estilo internacional
da Idade Média, espalhando-se por grande parte da Europa e estando representado
por diversas variantes regionais.
O estilo Românico recebeu esse
nome por alguns historiadores antigos terem visto na arquitetura semelhanças
com a romana, na utilização do arco de volta perfeita e das abóbadas que dele
derivam.
Além da influência romana, a arte
românica apresenta evidentes influências das artes pré-românica e bizantina;
nuns casos mais ao nível da arquitetura, noutros mais da escultura, da pintura,
da ilustração de livros ou da ourivesaria.
Neste período, os mosteiros são
importantíssimos centros de cultura e de produção de arte, sendo os monges os
detentores do saber.
Mas também os castelos e algumas
residências feudais tiveram um papel importante na divulgação e produção
artística.
No período românico há uma
fecunda produção literária, poética e musical.
Surgem os trovadores, poetas
líricos de cariz popular, cujos poemas eram musicados e cantados nas cortes e
em festividades.
Uma parte muito significativa da
arte românica tem a religião como tema e motivação.
A arte românica glorifica a
religião cristã, mas também o poder dos reis e dos nobres.
No mundo românico tudo gira em
torno da religião cristã.
7
ARTE ROMÂNICA
Arquitetura
Arquitetura religiosa
Da arquitetura religiosa destacam-se os
mosteiros e as igrejas.
Muitos dos mosteiros são
estrategicamente construídos em locais de refúgio, algo isolados, na natureza,
na presença de água e de terrenos férteis.
Os mosteiros são estruturas
complexas, apetrechadas de espaços de trabalho, oração e descanso: igreja,
sacristia, claustro, sala do capítulo, dormitório, cozinha, refeitório, adega,
granja, celeiro, despensas, oficinas, estábulos, enfermaria.
Alguns mosteiros de França
serviram de modelo a muitos outros que foram construídos pela Europa,
nomeadamente os de Fleury-sur-Loire e Saint-German-des-Prés, e Cluny, entre
outros.
Por norma, as igrejas e as
catedrais românicas têm planta em cruz latina.
O corpo principal é composto por
três ou cinco naves, por vezes muito longas.
O transepto pode ter uma ou três
naves.
Estes espaços intersetam-se no
cruzeiro, sobre o qual está a torre-lanterna, ou zimbório.
Algumas igrejas de grandes dimensões têm dois
transeptos.
Para lá do transepto situa-se a
cabeceira, no centro da qual está a abside, onde se situa o altar-mor.
No prolongamento das naves laterais
pode haver deambulatório, ou charola, que contorna a abside.
É frequente haver absidíoles, ou
capelas, no transepto e no deambulatório.
As naves estão separadas por
robustas pilastras, que são pilares cruciformes compostos por diversos
colunelos adossados.
Os tetos das naves laterais são
abóbadas de berço, ou de canhão; os das naves laterais são abóbadas de arestas.
O arco utilizado é o de volta
perfeita, ou semicircular, e surge em diversos locais da igreja: entre
pilastras (arcos formeiros), suportando abóbadas (arcos torais), em pórticos,
portas, janelas, janelas cegas, seteiras, torres sineiras, tribunas,
clerestórios e trifórios.
As tribunas são espaços de
circulação sobre as naves laterais, dando para a nave central.
Sobre as naves laterais,
eventualmente sobre as tribunas, pode também haver clerestórios, que são
conjuntos de janelas; ou trifórios, que são estreitas galerias ou arcadas cegas
dispostas em conjuntos de três.
Os claustros, de formato
quadrado, são contornados por uma galeria de circulação que comunica com o
pátio através de arcadas, apoiadas em finos colunelos, que se apresentam aos
pares.
As igrejas românicas são pouco
iluminadas, entrando a luz por janelas altas, pela rosácea (que nem sempre
existe) e pela torre-lanterna, que ilumina a zona do altarmor através das
janelas que nela existem.
Exteriormente, em igrejas de
grandes dimensões, a fachada principal é muitas vezes composta por um pórtico
encimado por um ou mais janelões ou por uma rosácea, sendo ladeada por duas
robustas torres sineiras.
Existem outras tipologias de
fachadas, sobretudo em igrejas de médias e pequenas dimensões.
Em Itália é frequente haver apenas uma torre
sineira, que pode estar afastada do corpo da igreja e ter formato cilíndrico.
No exterior, os contrafortes têm
uma presença muito evidente, estando visivelmente destacados da parede.
Parecem pilares exteriores, mas
na realidade são o prolongamento dos pilares para o exterior.
A sua função é suportar a enorme
pressão exercida lateralmente pelas abóbadas.
Algumas igrejas românicas são
igrejas-fortaleza.
Trata-se de construções
especialmente robustas com o propósito de defender, encimadas por ameias e
merlões, como sucede nas torres e muralhas dos castelos; possuem também
seteiras, frestas utilizadas para o disparo de setas.
Nalguns casos existem três
pórticos na fachada principal, comunicando os três com a nave central ou cada
um com uma nave.
É também comum haver um ou dois
pórticos nas fachadas laterais, por vezes nos topos do transepto.
Os pórticos são rematados por um
conjunto de arquivoltas em torno do tímpano, e assentam lateralmente numa série
de colunelos.
É comum nos pórticos mais largos
haver uma coluna a meio, designada por mainel.
Arquitetura civil e militar
A arquitetura civil e militar
românica tem um cariz marcadamente defensivo.
Parte das construções foi feita
em madeira e colmo, acabando muitas delas por desaparecer por ação de incêndios
e do tempo.
O que ficou foi a construção em
pedra. As casas dos nobres eram, muitas das vezes, torres de planta
quadrangular, nalguns casos circular, com três ou quatro pisos, com robustas
paredes exteriores de pedra.
Paredes interiores e chãos eram
de madeira.
O primeiro piso possuía loja ou
oficina, o segundo era composto por uma grande sala, no último estavam os
aposentos privados.
O acesso para o segundo piso era
feito por uma escada de madeira, que se retirava por razões de defesa.
Os castelos são as construções
fortificadas por excelência, por norma situados em pontos altos, protegidos
pela própria geografia dos terrenos.
Possuíam uma ou duas muralhas com
várias torres. No interior das muralhas existiam instalações militares ou
aposentos de nobres.
As muralhas são rematadas por
ameias e merlões, servindo para proteger quem está em ação de vigilância ou de
ataque.
A torre de menagem é a mais
central e de maiores dimensões.
Esses espaços protegidos deram
guarida aos cavaleiros das cruzadas. Foi também neles que se desenvolveram a
música e a literatura medievais, assim como a poesia trovadoresca.
As povoações medievais não
possuem uma malha urbana geométrica nem regular.
São protegidas por uma muralha,
que nuns casos se aproxima da forma retangular, noutros da circular.
A malha urbana é orgânica,
adaptando-se à presença de poços e irregularidades do terreno (colinas,
rochedos, etc.), assim como aos ventos dominantes e à incidência do Sol.
Das portas das muralhas partem as
ruas principais, de onde derivam as secundárias e um emaranhado de ruelas e
becos.
No centro da povoação situa-se a
igreja principal, ou a catedral.
Ao longo das vias de comunicação,
finalmente renovadas e criadas após a queda do Império Romano, são construídas
pontes para se encurtarem distâncias.
Essas pontes possuem arcos de
volta perfeita, assentes em robustos pilares.
8
ARTE ROMÂNICA
Escultura
O relevo tem um destaque especial
na escultura românica, apresentando influências algo remotas das esculturas
grega e romana, acrescidas de contribuições germânicas, escandinavas e
muçulmanas.
Essas influências, algo díspares
e aparentemente incompatíveis, fizeram ressurgir por toda a Europa um tipo de
escultura com uma grande coerência temática, formal e técnica, conduzindo a um
estilo próprio.
A escultura de cariz decorativo e
com pendor marcadamente religioso, vai ressurgir a partir de meados do séc. XII
no sudoeste de França e no norte de Espanha, ligada à ação das ordens
religiosas e ao espírito de peregrinação.
Num período de grande controlo
por parte da Igreja, os relevos apresentam relatos de histórias sagradas e de
cenas bíblicas, mas também de cenas da vida quotidiana, neste caso sobretudo
relacionadas com o trabalho rural.
A escultura em relevo,
essencialmente vinculada à arquitetura, tinha um papel pedagógico, já que
apresentava narrativas bíblicas acessíveis a quem não sabia ler, que era a
população em geral. Assim, os relevos, juntamente com os frescos, eram como que
a Bíblia dos analfabetos.
Os relevos apresentam-se como
“evangelhos de pedra”, muitas vezes talhados com alguma ingenuidade, mas também
pejados de fantasia.
Mais do que ilustrar cenas
bíblicas e o quotidiano, eles pretendem facilitar o diálogo entre os fiéis e o
pensamento religioso.
Fora dos universos paleocristão e
bizantino, com as suas igrejas cobertas de mosaicos (nalguns casos também de
frescos), a decoração arquitetónica do período préromânico foi muito austera,
cingindo-se a pouco mais do que à decoração de capitéis.
Embora as igrejas românicas sejam
sóbrias em termos de decoração, os relevos, originalmente pintados, podem
surgir em diversos locais: capitéis, fustes de colunas e de colunelos, arcadas
e arquivoltas, tímpanos, cornijas, mísulas, cachorradas, frisos, rosáceas e
pias batismais.
O capitel românico é redondo em
baixo, onde se apoia no fuste, e quadrado em cima. Adaptados a essa forma, os
capitéis contêm composições vegetalistas, animalistas e geométricas, assim como
cenas bíblicas, alegorias e detalhes do quotidiano.
O portal, no seu todo, simboliza
o acesso à casa de Deus, à proteção divina.
O tímpano é muitas vezes um
elemento ricamente decorado, sendo comum a representação de Cristo entronizado,
envolto pela mandorla, ou amêndoa mística.
É curioso observar que, apesar de
os relevos estarem subordinados aos elementos arquitetónicos já referidos,
existem engenhosos processos para o seu enquadramento.
Em tímpanos, frisos e até nos
capitéis conseguem-se elaboradas composições, inclusive com narrativas.
As formas e as figuras eram
muitas vezes inspirados ou copiados das ilustrações de livros, de padrões de
tecidos orientais, de marfins bizantinos e de referências dos vários povos
bárbaros que invadiram a Europa nos séculos anteriores.
As temáticas religiosas mais
frequentes são retiradas do “Apocalipse” e do “Juízo Final”.
A representação de Cristo surge
essencialmente em majestade, junto dos quatro apóstolos ou dos seus símbolos.
Também é frequente a
representação do Agnus Dei.
O medo do fim do mundo e dos
poderes demoníacos foi também muito explorado, sobretudo com base em lendas,
mitologia pagã e imaginário popular.
Daí surgiram autênticos
bestiários que incluíam figuras híbridas e grotescas, algumas em posições
obscenas.
Figuras humanas e outras são
comummente representadas dum modo hierático, em poses frontais e rígidas, sendo
frequentes as desproporções entre os diferentes elementos, assim como as
incorreções anatómicas.
Após a queda do Império Romano,
com a vinda dos povos invasores criou-se uma espiritualidade que recusava a estatuária
de vulto completo.
Só a partir do séc. X, a
estatuária foi ressurgindo, a partir do sul de França. Contudo, esteve longe de
ter a importância do relevo.
Da estatuária românica
destacam-se imagens da Virgem, entronizada ou com o Menino, por norma de cariz
popular e adoradas sobretudo no meio rural.
Também em poses rígidas e com
incorreções anatómicas, são feitas em metal, pedra, madeira e gesso, sempre
pintadas.
A partir de meados do séc. XII,
no sul de França e na Itália, as figuras libertam-se dos cânones rígidos e
adquirem um toque clássico, sendo mais naturalistas e apresentando algum
movimento.
Na transição para o período
gótico, as imagens começam a evidenciar sentimentos humanos.
Cristo no calvário ou na cruz
revela drama e sofrimento; a Virgem mostrase dorida.
Importa referir que a escultura
românica de vulto completo é concebida para ser vista de frente, sendo que o
lado de trás das figuras não apresenta qualquer motivo de interesse.
Nos túmulos românicos junta-se o
relevo e a estatuária; o primeiro nas paredes da urna, a segunda na tampa, com
a representação da figura jazente.
Num caso e noutro observam-se as
caraterísticas formais e técnicas já referidas.
Das artes do metal destacam-se
pequenas peças feitas em bronze fundido, e outras em metais preciosos, algumas
contendo esmaltes ou gemas.
Existem também os
cofres-relicário, com estrutura em madeira coberta por placas de ouro e prata
com pedras preciosas.
A escultura em marfim, tradição
vinda dos séculos anteriores, e de diferentes povos, tem também alguma
relevância, sobretudo em crucifixos.
9
ROMÂNICO
Pintura
Embora a pintura tenha tido uma grande
importância no período românico, não chegaram aos nossos dias tantas obras como
no caso da escultura, fruto da ação humana, do tempo e de alguns incidentes.
A pintura românica apresenta-se
sobretudo em duas modalidades: o fresco, na decoração de espaços arquitetónicos
interiores, principalmente igrejas; a iluminura, na ilustração de livros.
Em ambas, a temática dominante é
a religiosa.
Apesar das variantes estéticas e
formais, no essencial vamos encontrar na pintura caraterísticas idênticas às da
escultura, sendo nela evidentes as influências bizantina, carolíngia e
otoniana.
Embora pelos modos de fazer seja
possível identificar algumas escolas ou oficinas regionais ou locais, raramente
se conhecem os nomes dos autores dessas obras, tal como sucede com a escultura.
Aliás, sabe-se que muitas das
obras eram de execução coletiva.
Muitos dos pintores e escultores
eram artesãos e monges que se especializaram numa ou noutra área, devido a um
jeito especial ou a uma dedicação persistente.
A aprendizagem não era formal,
feita em escolas especializadas, mas adquiria-se na prática, sobretudo
copiando.
No caso da iluminura, sabe-se que
a aprendizagem era feita nas oficinas conventuais, entre os monges copistas.
No caso do fresco, era feita na
prática da decoração das igrejas, quando os edifícios eram dados por
concluídos.
No fresco, pouco ou nenhum espaço
de liberdade era deixado aos pintores, já que tanto os temas como as
composições eram definidas pelo patrono ou encomendador da obra.
Os pintores eram pouco mais do
que executantes de um plano estabelecido.
Muita da pintura românica conta
histórias do Velho e do Novo Testamento, destacando-se cenas apocalípticas,
passagens da vida de Cristo e de santos.
As principais caraterísticas da
pintura românica são:
- Uma forte presença do desenho, destacando-se
a linha como elemento estruturante;
- Falta de rigor anatómico, sendo frequentes
os corpos em posições algo desarticuladas;
- Tendência para a estilização e
geometrização; utilização quase exclusiva de cores planas;
- Cenários inexistentes, abstratos ou
simbólicos;
- Composições ora algo desordenadas, ora
assentes em esquemas repetitivos.
Comparativamente com os relevos,
existe na pintura uma maior dinâmica e algum sentido de ritmo.
Contuso, também a pintura assume um poder
simbólico, sobrenatural e doutrinário.
A nudez e a sobriedade que hoje existe em
muitas igrejas românicas era uma caraterística apenas das igrejas
cistercienses.
Nas restantes predominava uma
extensa policromia que revestia paredes, abóbadas, pilastras e relevos, numa
ambiência de encantamento e transcendência
Menos frequentes mas igualmente
significativos foram os retábulos pintados sobre madeira, usados principalmente
na decoração de altares.
Esses retábulos foram comuns na
Catalunha.
Também chegaram aos nossos dias
alguns tetos de madeira pintados com cenas ou figuras religiosas.
Na Itália, devido à tradição
romana e bizantina, continua a ser frequente a decoração das igrejas com
riquíssimos painéis de mosaicos, que tanto podem cobrir abóbadas como paredes,
o chão ou arcadas.
No início da Idade Média
enraizou-se o hábito de copiar manuscritos, nos scriptoriae das catedrais e dos
mosteiros.
Tal hábito deu origem a uma
tradição que se manteve até ao advento da imprensa.
Copiavam-se bíblias, manuais
litúrgicos, crónicas históricas, tratados filosóficos, etc.
Tais livros eram produtos raros e
preciosos, destinados a consumo interno ou a uma reduzida clientela de eruditos
que os valorizavam.
E mais preciosos se tornavam se
ricamente ilustrados com imagens fantasiosas e cheias de cor: as iluminuras.
Oscilando entre a figuração e os
ornamentos estilizados e geométricos, essas ilustrações tanto podiam ocupar uma
página inteira, como partilhá-la com a escrita, ou reduzirem-se à decoração das
iniciais de cada capítulo ou parágrafo.
Se bem que algumas iluminuras
apresentem desenhos e composições algo primárias, outras revelam uma enorme
destreza técnica e uma grande criatividade, levando a supor que provavelmente
haveria monges que se dedicavam em exclusividade a essa tarefa.
Executadas em ambiente pacato e
intimista, em geral as iluminuras apresentam um imaginário e uma diversidade
estética superiores às que se encontram nos frescos e nos relevos, sendo
provável que os seus motivos tivessem servido de referência a estas técnicas.
Consoante as regiões, as
iluminuras revelam influências específicas: na Alemanha, do período carolíngio;
nas Ilhas Britânicas, dos anglo-saxões e irlandeses; na Itália, da estética
bizantina; em Espanha, da arte muçulmana
10
A ARTE GÓTICA
Apresentação
A arte gótica surgiu na Íle-de-France, região
em torno de Paris, a partir de meados do séc. XII, tendo perdurando até finais
do séc. XV em França e na Península Ibérica, até mais tarde nos países mais a
norte.
O Gótico é o último estilo da Idade Média,
tendo surgido na sequência do desenvolvimento e da estabilidade que decorreram
durante o período românico.
É referido por alguns como a bela
Idade Média. Este foi um período de grande desenvolvimento económico, ligado à
atividade comercial, mercantil e agrícola.
A multiplicação das feiras foi um
dos fatores que permitiram a instalação de uma economia monetária.
Uma nova dinâmica produtiva,
sobretudo em Itália e na Flandres, associada ao comércio marítimo, levou à
desagregação do sistema feudal-senhorial e ao início de uma nova era.
Deu-se um crescimento e
enriquecimento das cidades, onde se instalavam os centros de negócios. E um
movimento comunal surgido a partir daí levou a uma emancipação administrativa
das cidades.
Perante uma série de condições
favoráveis, bispos e reis incrementaram a construção de grandes catedrais um
pouco por toda a Europa, como forma de marcar a sua religiosidade e de exibir o
seu poder
As mudanças sociais mais
relevantes tiveram a ver com o aparecimento da burguesia, classe impulsionadora
e dinamizadora da atividade económico-financeira.
Burgueses, mercadores e artesãos
formaram guildas e corporações, que garantiam o sucesso e a prosperidade da sua
atividade.
Estas organizações profissionais
eram reconhecidas pelos reis e tinham estatutos jurídicos próprios.
Além dos burgueses, os nobres e
os eclesiásticos tornaram-se também apreciadores de um estilo de vida mais
pacífico, urbano e cortesão.
Surgiu o gosto pelos romances de
cavalaria, livros de linhagens e sagas, assim como o mercantilismo artístico, e
mecenas das artes e das letras.
Empenhados numa centralização
político-administrativa, os monarcas afirmarem os seus reinos como estados.
Contudo, tais mudanças passaram
por crises, rivalidades, contrariedades e conflitos, como a Peste Negra
(1343-1353) e a Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
A partir do séc. XII surgem
universidades por toda a Europa.
Nelas se estudam os filósofos
racionalistas gregos e os místicos e naturalistas medievais, procurando a união
entre a razão e a fé.
São Tomás de Aquino escreveu O
domínio da Teologia é a inteligência (conhecimento) das coisas de Deus, que se
pode ter pelo bom uso das inteligíveis (coisas do mundo físico).
Esta postura humaniza a religião
e propõe a observação da natureza.
“A arte gótica, fruto de uma
notável evolução nos saberes e nas técnicas, foi a melhor expressão material da
religiosidade e da mística do final da Idade Média, uma ponte de ligação entre
a luz da razão natural e da revelação divina; entre os homens, na Terra, e
Deus, nos Céus.”
11
A ARTE GÓTICA
Arquitetura
Em grande medida, a arquitetura gótica vai
continuar os aperfeiçoamentos havidos com a arquitetura românica, já que as
plantas, as fachadas e as estruturas são basicamente as mesmas ou muito
parecidas.
Muitos são os edifícios que, por
terem sido construídos no período de transição ou por não apresentarem
diferenças significativas, são designados por romano-góticos.
Contudo, à medida que os
edifícios reduzem as áreas de parede e aumentam as de janela, ou se dá uma
predominância de linhas verticais em relação às horizontais, ou os espaços
ganham altura e se enchem de luz e de cor (através dos vitrais), estamos
perante algo extremamente inovador e surpreendente.
Além disso, a evolução da
arquitetura gótica vai revelar uma curiosa particularidade: afasta-se
notoriamente das influências greco-romanas e bizantinas, presentes no românico
e antes dele.
No entanto, antes dessa evolução,
a arquitetura gótica havia surgido com uma inovação técnica que passou a
constituir um dos seus principais distintivos: o arco em ogiva (também
designado por ogival, quebrado ou apontado).
Tal arco foi utilizado
pontualmente a partir de 1100, no contexto do românico cisterciense da
Borgonha, em França. Surgiu da necessidade de elevar os quatro arcos dum tramo
retangular à mesma altura
Mais tarde, quando generalizada a
sua aplicação, o arco em ogiva permite dinâmicas espaciais e estéticas nunca
antes vistas, dada a diversidade formal que surge nas novas aberturas e
abóbadas.
Antes, do cruzamento de dois
tramos circulares surgia a abóbada de arestas, com quatro panos que pouco
destaque tinham num teto.
Agora, do cruzamento de tramos
ogivais surge a abóbada de cruzaria (ou cruzata de ogivas), cujos oito panos,
muitas vezes rematados por nervuras, marcam uma forte presença.
Com o passar do tempo, as tetos
enchem-se de nervuras, com uma função simultaneamente estrutural e decorativa.
São as abóbadas de terceletes,
com as variantes reticulada, estrelada, em leque ou com pingentes, consoante as
formas que as nervuras apresentam.
Os novos arcos e abóbadas dirigem
a pressão de forma mais eficaz para as pilastras e os contrafortes.
Este aspeto vai permitir que se construam
espaços mais amplos e, sobretudo, mais altos.
No entanto, com abóbadas
construídas em níveis mais altos e com menos volume de parede, para sustentar a
pressão exercida para o exterior, surge um novo contraforte, formado por
botaréus e arcobotantes.
Botaréus são contrafortes
destacados das paredes, mas a estas adossados parcialmente.
Arcobotantes são como que meios-arcos que
transferem a pressão das abóbadas para os botaréus.
Existem botaréus sem
arcobotantes, mas outros há com um ou dois níveis de arcobotantes.
Contudo, em enormes catedrais,
chega a haver uma segunda fila de botaréus e arcobotantes que reforça a
primeira, num elaborado conjunto de muletas de apoio.
Construir um esqueleto tão
complexo só foi possível com técnicas que envolviam sofisticados sistemas de
guindastes e roldanas.
Isso, juntamente com dinheiro,
rigorosas logísticas e planificações, foram a chave do sucesso destas
construções.
Arquitetura religiosa
Entre os edifícios da arquitetura
religiosa gótica destacam-se as catedrais, igrejas da sede de uma diocese.
Estas ostentam orgulho, pela
capacidade que as suas formas e dimensões têm de se afirmar e surpreender.
O orgulho era de todos: dos mais
pobres, por nelas trabalharem; dos mais ricos, porque para elas contribuíam com
donativos; dos religiosos, por verem as casas de Deus plenas de
espiritualidade; do rei, por ver o seu reino engrandecido com estes edifícios.
As catedrais eram erguidas nos
centros urbanos, sendo que as suas dimensões se sobrepunham às das restantes
construções.
Em torno desse centro religioso
posicionavam-se os edifícios de cariz político e económico que, no seu
conjunto, eram responsáveis pela dinâmica social da cidade.
A ideia inicial, ou projeto
genérico, partia do bispo ou do rei, que logo se fazia rodear de experientes
mestres-pedreiros, que eram simultaneamente arquitetos e engenheiros da obra.
De tal modo esses
mestres-pedreiros foram relevantes, que os nomes de muitos deles ficaram para a
história.
Esse aspeto mostra o
reconhecimento do mérito que, gradualmente, se começa a dar a indivíduos
exteriores ao clero e à nobreza.
A construção de uma catedral
gótica obedecia a rigorosos cálculos matemáticos e geométricos, passados de
forma exemplar para a pedra, sendo que tal trabalho só era possível por
indivíduos cultos e muito bem preparados.
Tal como sucede com as grandes
igrejas românicas, as catedrais góticas apresentam uma planta basilical em cruz
latina, com a entrada virada para poente e a cabeceira para nascente.
Formada por três ou cinco naves,
apresenta um transepto normalmente pouco extenso.
Por norma, a abside é longa,
dando continuidade às naves, podendo apresentar duplo deambulatório.
As pilastras tornaram-se mais
finas e mais altas, dando a ideia de continuidade entre as naves.
A proporção entre a largura e a
altura destas foi-se acentuando em favor da altura, o que acentuou a
verticalidade dos espaços.
Também a altura da nave central
se tornou bem maior do que a das laterais, de modo a permitir a abertura de
janelas mais altas. Os interiores ganharam espaço e luz, mas também cor,
através dos vitrais.
No exterior, é evidente a
presença das muitas e grandes janelas e enormes rosáceas, na fachada principal
e nos topos do transepto.
Mais evidente é a presença de
torres sineiras pontiagudas, assim como dos botaréus e arcobotantes.
Entre as muitas linhas verticais
e as formas ascendentes, outras particularidades se encontram, como os remates
com pináculos, sobre os contrafortes ou nos cantos das torres sineiras, e as
gárgulas esculpidas com animais fantásticos.
As caraterísticas atrás descritas
são mais notórias em França, onde o gótico nasceu, sendo estas as que mais
influenciaram a Península Ibérica.
Contudo, algumas curiosas
caraterísticas surgem noutras paragens.
Em Inglaterra (onde o gótico se
prolonga até ao séc. XIX) surge no séc. XIV o chamado estilo perpendicular,
dado o equilíbrio entre linhas verticais e horizontais.
As catedrais têm plantas mais
alongadas, cabeceiras quadradas, por vezes um duplo transepto.
Esse é o formato da cruz de
Lorena.
Na Alemanha o estilo gótico
impôs-se tardiamente mas apresenta algumas novidades.
Uma delas, surgida também no séc.
XIV, consiste nas hallenkierchen, ou igrejas-salão, que possuem naves da mesma
altura e colunas esguias em vez de pilastras; outra novidade é a fachada de
torre única
Em Itália o gótico também chegou
tarde, e em geral também não apresentando tendência para a verticalidade nem
espaços muito iluminados.
O estilo não se prolongou por
muito tempo já que o Renascimento, surgido no princípio do séc. XIV, se impõe.
Outras construções, como igrejas de menores dimensões ou abadias conventuais,
também não apresentam uma acentuada verticalidade.
Mais sóbrias, não mostram
diferenças tão significativas em relação às suas congéneres românicas.
Tendo novamente a França como
referência, a evolução da arquitetura gótica deu-se de forma progressiva ao
longo da sua duração de três séculos.
No início mal se diferenciando da
românica, depois ganhando notórias caraterísticas próprias.
O gótico primitivo era despido de
decoração, expressando-se apenas pelos seus arcos e abóbadas ogivais.
Numa segunda fase, designada por
gótico lanceolado, surgem aberturas tri, tetra e polilobadas como decoração em
janelas e rosáceas.
Um período intermédio chama-se
gótico radiante, pelas formas que lembram raios de roda, presentes em rosáceas
e janelas.
O último período designa-se por
gótico flamejante, por apresentar elementos decorativos com formas semelhantes
a chamas.
Arquitetura civil e militar No
séc. XIII, nobres e aristocratas habitam em castelos senhoriais em espaços
rurais.
São fortalezas de planta
irregular que se adaptam aos desníveis do terreno e possuem torres redondas,
rematadas por telhados cónicos.
Têm amplas salas abobadadas, onde
se comia e convivia, assim como aposentos recatados para se dormir.
Tinham também dependências
próprias para o castelão e sua família, assim como para a criadagem.
Por fora, as aberturas são poucas
e pequenas.
A maior parte das aberturas,
assim como balcões, dão para um pátio interior.
Neste conjunto existe uma área
destinada a jardim, pomar e horta, o que aligeira o ar algo austero da
construção.
Devido ao crescimento e
prosperidade das cidades, a partir do séc. XIV os nobres vão preferir habitar
nelas, onde se instalara já a bem sucedida burguesia mercantil em palácios
urbanos.
Tais palácios, de dois ou três
pisos, são como casas-fortes, mas menos austeros do que as fortalezas de meio
rural.
E à medida que se instala uma
sociedade mais cortês e pacífica, ganham requinte, elegância e conforto.
De planta retangular, estes
palácios contornam um pátio interior semelhante aos claustros duma catedral ou
abadia, o que constituiu um espaço de lazer e convívio, agradável em qualquer
altura do ano.
Outras construções apalaçadas, e
por norma de maiores dimensões, são dignas de referência, como as casas
comunais e as casas das corporações ou ofícios.
Nas primeiras, com altas torres
de vigia, funcionam as administrações das cidades; as segundas (raras na
atualidade) são sedes de gestão e espaços de negócios.
Os maiores palácios, e também
mais requintados e elegantes deste período, situamse nas cidades flamengas e
italianas que mais prosperaram com o comércio, como Bruges, Ypres, Veneza e
Florença.
Das construções militares
destaca-se o castelo-fortaleza, que devido à sua função de defesa, poucas
diferenças tem dos românicos, além dos arcos ogivais e respetivas abóbadas, e
da presença de ameias e merlões.
12
A ARTE GÓTICA
Escultura
No final do período românico, a
escultura já se havia afirmado em convivência com a arquitetura, por norma
colocada em espaços a ela reservada.
Contudo, no período gótico, a escultura surge
justaposta à arquitetura, ganhando outra proeminência.
Neste período, a escultura continua a cumprir
o seu papel pedagógico, como Bíblia de pedra, com a representação de santos e
de cenas do Antigo e do Novo Testamento.
A escultura, antes tosca e pejada de falhas
anatómicas, ganha realismo formal e enriquece o seu lado espiritual. Da
anatomia às roupagens e objetos, tudo passa a ser tratado ao pormenor, com mais
sensibilidade e delicadeza.
As poses e os gestos ganham
alguma dinâmica. As expressões do rosto humanizam-se e frequentemente
apresentam leves sorrisos e revelam ternura.
As figuras, antes tantas vezes de aspeto
castigador, dão lugar a outras com papel evangelizador.
À medida que o tempo passa, o realismo, o
idealismo e até uma certa teatralidade, que advém das peças de teatro
religiosas, refletem uma mudança de pensamento que anuncia o Renascimento.
A condizer com esse espírito está o facto de
se conhecer os nomes de alguns artistas, e de as suas obras terem
caraterísticas de tal modo próprias que se tornam reconhecíveis.
Algumas regras básicas se podem observar nas
representações escultóricas: anjos e apóstolos estão sempre descalços, outras
figuras não; a presença da auréola simboliza santidade; uma torre com uma porta
designa uma cidade, se sobre esta estiver um anjo refere-se a Jerusalém.
Nas igrejas, a maior incidência de escultura
continua a ser nos pórticos.
Contudo, surge em vários outros
locais: balaustradas, nichos, gabletes, janelas, rosáceas, medalhões, mísulas,
pináculos, flechas, arcobotantes, gárgulas e quimeras.
Situadas sobretudo em catedrais, representando
animais grotescos ou fantásticos e de aspeto assustador, as gárgulas e as
quimeras são uma novidade do estilo gótico.
Pelas primeiras é expelida a água
dos telhados; as segundas servem para vigiar os demónios à distância, impedindo
a sua aproximação.
Enquanto no exterior a escultura vai ganhando
cada vez mais destaque, a sua presença no interior é discreta, resumindo-se a
capitéis, púlpitos, consolas, medalhões e rosetas (os dois últimos situados no
cruzamento das nervuras das abóbadas).
Em França e em Espanha a escultura tende para
uma certa monumentalidade, sendo comum espalhar-se por grande parte da fachada
principal.
Na Alemanha é particularmente expressiva,
dramática e teatral. Na Inglaterra destacam-se os efeitos decorativos
geométricos trabalhados em intrincadas abóbadas.
Devido às influências greco-romana e
bizantina, na Itália preserva-se um espírito clássico na escultura gótica. Esse
mesmo espírito faz sobressair nomes sonantes, como Nicola Pisano, Giovanni
Pisano, Andrea Pisano e Jacopo della Quercia.
A partir do séc. XIV, a escultura
de vulto redondo torna-se mais abundante, sobretudo em imagens de devoção separadas
dum contexto arquitetónico.
Colocadas em igrejas, capelas e casas
particulares, serviam o culto individual e a oração privada.
Trata-se de imagens da Virgem, de
santos, pietás e crucifixos de dimensões variadas, feitas em madeira, marfim,
bronze ou pedra, muitas vezes impregnadas de realismo e contagiante emoção.
Era comum o enterro de nobres e eclesiásticos
ser feito no interior das igrejas.
Mas a partir de 1200 tornou-se frequente fazer
túmulos com estátua jacente, sobretudo quando se tratava de reis, príncipes,
nobres e elementos do clero.
De início, essas estátuas evocam o falecido
sem rigor nos traços físicos.
A partir de meados do séc. XIII, esses traços
tornam-se realistas e até idealizados. E a partir de meados do séc. XIV muitas
dessas estátuas passam a ser feitas em vida.