Mensagem de boas vindas

Bem Vindo ao blog Campo da Forca. Apontamentos pessoais também abertos a quem os quiser ver.

26/02/21

A GRANDE GUERRA

A Grande Guerra, também conhecida como a 1ª Guerra Mundial, deflagrou na Europa nos primeiros dias de Agosto de 1914 e só terminou com a assinatura do Armistício, em 11 de Novembro de 1918.

A sua causa determinante profunda foi a rivalidade económica entre as grandes potências, em especial da Inglaterra e da Alemanha.

Iniciada com a invasão da Bélgica pelas tropas alemãs, na convicção de uma campanha curta, a guerra só viria a parar mais de quatro anos depois, com o esgotamento dos recursos, a destruição das cidades, a desolação nos campos e um imenso sofrimento.

Causou 65 milhões de mobilizados, 8milhões e meio de mortos, 20 milhões de feridos, milhares e milhares de prisioneiros e desaparecidos. Portugal deixou nos campos de batalha mais de 8 mil mortos e mobilizou mais de 100 mil homens.

24/02/21

A República e o exército

As forças armadas não participaram como instituição, nem sequer de forma parcial, no 5 de Outubro de 1910.

A participação de alguns militares no 5 de Outubro obedeceu a uma lógica organizacional externa, assumida pela Carbonária.

Não sendo um golpe militar ele veio a ser atribuído quase exclusivamente à Força Armada. E esta não podendo recusar a paternidade que lhe é atribuída, vai assumir institucionalmente o derrube da Monarquia e a implantação da República.

O «Outubro burguês» sobrepunha-se ao «Outubro popular», com Machado Santos a constatar o descaminho do projecto inicial, esboçando-se o divórcio entre a república e o seu «fundador».

O Governo Provisório, em saudação assinada por Teófilo Braga, dirigiu-se ao Exército e à Marinha, convidando os oficiais não participantes a aderirem ao novo regime. Só no quartel-general de Lisboa, são assinadas 1216 declarações de adesão de oficiais no activo e 847 de oficiais na reserva ou reforma.

 

A reforma republicana do exército

A grande reforma republicana do exército, impulsionada pelo ministro da Guerra, general Correia Barreto, baseou-se numa grande sofreguidão de mudar, com o objectivo de transformar rapidamente a realidade pré-existente.

Contudo , o princípio da milicianização (recrutamento geral dos cidadãos) de um exército sem recursos, analfabeto, contra a vontade do seu núcleo profissional, estava inevitavelmente votada ao fracasso.

As incursões monárquicas primeiro e a Guerra logo a seguir aniquilaram a reforma.


20/02/21

Portugal no quadro europeu antes da Grande Guerra

A política internacional portuguesa estava condicionada por três componentes principais – relações com a Espanha, aliança com a Inglaterra e questão colonial.

No respeitante à questão colonial, tão intimamente ligada à aliança inglesa, a República, implantada em 5 de Outubro de 1910, não teve tempo para solucionar os problemas principais que se lhe depararam e muito menos preparar o país para a guerra. Quando, por toda a Europa, se caminhava para o reforço do potencial militar, para a preparação das capacidades de resistência e para a preparação global das nações para os tempos de guerra, em Portugal, as mudanças políticas e institucionais, a consolidação interna e externa do novo regime e o seu reconhecimento internacional absorveram os melhores esforços dos novos dirigentes portugueses.

A questão espanhola esteve sempre presente nas opções políticas portuguesas. As inquietações foram mútuas, tanto pelas consequências da implantação da República em Portugal, que perturbou imenso as relações com a Espanha, como pelo jogo dos dois estados peninsulares com a Inglaterra, em consequência da guerra e do equilíbrio das alternativas diplomáticas face à participação no conflito. O enquadramento deste problema deve ter em conta a vontade de intervenção do governo português, a persistente posição de neutralidade da Espanha, a relação da Espanha com a segurança do Mediterrâneo, as pretensões de hegemonia peninsular de Afonso XIII e o prudente adiamento de uma posição radical por parte da Inglaterra em relação ao apoio à pretensão espanhola de intervir em Portugal.

A partilha das colónias portuguesas antes da Grande Guerra

Depois da Conferência de Berlim, em 1885,a Alemanha esforçou-se por constituir um império colonial. A Alemanha explorava a possibilidade de se estabelecer em territórios pertencentes aos países europeus de menor dimensão – a Bélgica e Portugal.

No caso de Portugal, a circunstância de Portugal e a Inglaterra estarem ligados, que fazia deste último país o verdadeiro guardião da integridade do império colonial português, conduziu a acordos secretos no fim do século XIX: a convenção anglo-alemã de 1898 sob a partilha das colónias portuguesas e, de imediato, o Acordo de Windsor, de 1899, entre a Inglaterra e Portugal, reafirmando a obrigação inglesa na protecção e defesa de todas as colónias pertencentes à coroa de Portugal.

As necessidades coloniais da Alemanha não se detiveram perante a vitória diplomática de Portugal. Logo na primeira oportunidade, surgida a partir de Dezembro de 1911, tanto a Alemanha, como a Inglaterra, se mostraram dispostas a reiniciar os contactos diplomáticos acerca da partilha das colónias portuguesas. As negociações prosseguiram, levando à rubrica do novo acordo em 13 de Agosto de 1913, mas ainda então se levantou a questão da sua publicação, juntamente com a dos seus antecedentes de 1898 e 1989, questão com que a Alemanha não chegou a concordar até ao início da guerra. Portugal dificilmente teria tido qualquer hipótese de evitar a efectiva realização dos intentos alemães, se o tratado não tivesse sido excluído pela deflagração da guerra. 

As colónias portuguesas antes da Grande Guerra

Portugal, ao aproximar-se a Guerra, possuía extensos territórios coloniais, cuja soberania preservara, apesar das dificuldades crescentes e das cobiças de várias origens.

As fronteiras territoriais encontravam-se geralmente bem aceites e a soberania portuguesa era reconhecida internacionalmente embora se exercesse com muitas dificuldades.

A regra das colónias portuguesas era: crise económica e financeira regular e orçamentos com défices constantes.

ANGOLA, apesar da sua extensão, da sua riqueza e mesmo do esforço colocado na sua administração não fugia à regra. Tanto o volume e importância das acções militares, praticamente contínuas, como a crise que atingiu o comércio dos principais produtos de exportação – café, algodão, álcool e borracha, constituíam as suas razões. A República definiu como seus principais objectivos coloniais, para além da integridade, a descentralização e a autonomia. Norton de Matos, governador-geral de 1912 a 1915, cuja obra não deixou de suscitar oposições e críticas, assentou a sua política em algumas regras básicas – ocupação administrativa com base nas circunscrições, com a substituição da administração militar pela civil; remodelação da organização militar, regulamentação do trabalho indígena e desenvolvimento dum plano de fomento e colonização com emigração portuguesa. A fixação de portugueses, que era fundamental estimular (em 1910 existiam somente 3000 brancos na colónia), constituía, para o novo governador-geral, a mais eficaz forma de manter o “direito absoluto de regular e fiscalizar” a imigração estrangeira. Mas a guerra e a concretização da ameaça alemã, bem como a necessidade de mobilização de importantes expedições militares, quebraram o projecto de Norton de Matos.

MOÇAMBIQUE era centro de várias cobiças resultantes da sua posição geográfica, da importância dos seus portos e também das suas riquezas. A administração portuguesa tinha desenvolvido a partir dos últimos anos do século XIX um grande esforço financeiro para suporte dos trabalhos públicos, em especial das linhas férreas. As dificuldades resultavam da necessidade de contínuas operações militares contra as revoltas internas e da difícil obtenção de capitais, dependente da relação estreita com os territórios vizinhos, tanto na circulação de mercadorias, como na exportação de mão-de-obra para as minas sul-africanas. As concessões de imensas extensões territoriais feitas a companhias especialmente constituídas para esse efeito, quase sempre de capitais estrangeiros, fizeram de Moçambique um caso único, no conjunto das colónias portuguesas, experiência nem sempre bem sucedida.

CABO VERDE, apesar da sua excepcional posição e da relativa proximidade da metrópole, não conheceu administrações capazes de lhe imprimirem um desenvolvimento que estaria ao seu alcance, apesar da pobreza dos solos e da irregularidade das chuvas.

A GUINÉ, com um solo muito rico e condições hidrográficas de grande valor, acusava as mesmas deficiências e atrasos das vizinhas ilhas de Cabo Verde.

As ilhas de S. TOMÉ E PRÍNCIPE eram, para os portugueses, as “pérolas do oceano”, as “jóias das colónias lusitanas”, o “paraíso terrestre” com orçamentos consideravelmente excedentários, movimentava cerca de dois milhões de toneladas de carga, quase exclusivamente constituída por cacau, 95% das exportações. Mas ainda aqui a administração não pode considerar-se exemplar – na mão-de-obra os abusos no cumprimento dos contratos com trabalhadores vindos de Angola viriam a ser habilmente exploradas pela Alemanha junto da opinião pública inglesa; nas vias de comunicação deficientes a que os excedentes comerciais não puderam dar solução devido aos desvios para equilíbrio das balanças deficitárias das outras colónias.

O Estado da Índia, constituído por GOA, DAMÃO e DIU, o resto da extensa presença portuguesa na costa da Índia nos séculos anteriores, tinha na dependência relativamente à Índia Britânica a justificação para a insuficiência do seu desenvolvimento; dependência que não se modificou, apesar do esforço do governo de Lisboa.

MACAU, gozava de uma situação desafogada, com orçamentos excedentários pelas receitas do jogo e o comércio do ópio cru. A sua prosperidade não deixou de suscitar cobiças, mas a soberania portuguesa conseguiu ultrapassar as dificuldades, apesar da distância e do isolamento relativamente à metrópole.

TIMOR, apesar de possuir um solo extremamente rico, o seu desenvolvimento foi diminuto.