Portugal, ao aproximar-se a
Guerra, possuía extensos territórios coloniais, cuja soberania preservara,
apesar das dificuldades crescentes e das cobiças de várias origens.
As fronteiras territoriais
encontravam-se geralmente bem aceites e a soberania portuguesa era reconhecida
internacionalmente embora se exercesse com muitas dificuldades.
A regra das colónias portuguesas
era: crise económica e financeira regular e orçamentos com défices constantes.
ANGOLA, apesar da sua extensão,
da sua riqueza e mesmo do esforço colocado na sua administração não fugia à
regra. Tanto o volume e importância das acções militares, praticamente
contínuas, como a crise que atingiu o comércio dos principais produtos de
exportação – café, algodão, álcool e borracha, constituíam as suas razões. A República
definiu como seus principais objectivos coloniais, para além da integridade, a
descentralização e a autonomia. Norton de Matos, governador-geral de 1912 a
1915, cuja obra não deixou de suscitar oposições e críticas, assentou a sua
política em algumas regras básicas – ocupação administrativa com base nas
circunscrições, com a substituição da administração militar pela civil;
remodelação da organização militar, regulamentação do trabalho indígena e
desenvolvimento dum plano de fomento e colonização com emigração portuguesa. A
fixação de portugueses, que era fundamental estimular (em 1910 existiam somente
3000 brancos na colónia), constituía, para o novo governador-geral, a mais
eficaz forma de manter o “direito absoluto de regular e fiscalizar” a imigração
estrangeira. Mas a guerra e a concretização da ameaça alemã, bem como a
necessidade de mobilização de importantes expedições militares, quebraram o
projecto de Norton de Matos.
MOÇAMBIQUE era centro de várias
cobiças resultantes da sua posição geográfica, da importância dos seus portos e
também das suas riquezas. A administração portuguesa tinha desenvolvido a
partir dos últimos anos do século XIX um grande esforço financeiro para suporte
dos trabalhos públicos, em especial das linhas férreas. As dificuldades
resultavam da necessidade de contínuas operações militares contra as revoltas
internas e da difícil obtenção de capitais, dependente da relação estreita com
os territórios vizinhos, tanto na circulação de mercadorias, como na exportação
de mão-de-obra para as minas sul-africanas. As concessões de imensas extensões
territoriais feitas a companhias especialmente constituídas para esse efeito,
quase sempre de capitais estrangeiros, fizeram de Moçambique um caso único, no
conjunto das colónias portuguesas, experiência nem sempre bem sucedida.
CABO VERDE, apesar da sua excepcional
posição e da relativa proximidade da metrópole, não conheceu administrações
capazes de lhe imprimirem um desenvolvimento que estaria ao seu alcance, apesar
da pobreza dos solos e da irregularidade das chuvas.
A GUINÉ, com um solo muito rico e
condições hidrográficas de grande valor, acusava as mesmas deficiências e
atrasos das vizinhas ilhas de Cabo Verde.
As ilhas de S. TOMÉ E PRÍNCIPE
eram, para os portugueses, as “pérolas do oceano”, as “jóias das colónias
lusitanas”, o “paraíso terrestre” com orçamentos consideravelmente
excedentários, movimentava cerca de dois milhões de toneladas de carga, quase
exclusivamente constituída por cacau, 95% das exportações. Mas ainda aqui a
administração não pode considerar-se exemplar – na mão-de-obra os abusos no
cumprimento dos contratos com trabalhadores vindos de Angola viriam a ser
habilmente exploradas pela Alemanha junto da opinião pública inglesa; nas vias
de comunicação deficientes a que os excedentes comerciais não puderam dar
solução devido aos desvios para equilíbrio das balanças deficitárias das outras
colónias.
O Estado da Índia, constituído
por GOA, DAMÃO e DIU, o resto da extensa presença portuguesa na costa da Índia
nos séculos anteriores, tinha na dependência relativamente à Índia Britânica a
justificação para a insuficiência do seu desenvolvimento; dependência que não
se modificou, apesar do esforço do governo de Lisboa.
MACAU, gozava de uma situação desafogada,
com orçamentos excedentários pelas receitas do jogo e o comércio do ópio cru. A
sua prosperidade não deixou de suscitar cobiças, mas a soberania portuguesa
conseguiu ultrapassar as dificuldades, apesar da distância e do isolamento
relativamente à metrópole.
TIMOR, apesar de possuir um solo
extremamente rico, o seu desenvolvimento foi diminuto.