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10/12/11

Caracterologia - 1ª Parte


Como conhecer o íntimo de cada um?
É na caracterologia, um dos capítulos mais fascinantes da psicologia, que se vê a chave secreta para tal.
A caracterologia é uma ciência. A ciência do carácter.
Significado caracterológico
Viver é ser um significado que dá significado aos outros. Ser, é ser para outrem. Ser é ser caracterialmente. Ser é também fazer caracteres. O desvendar caracterológico efetua-se por uma unificação significativa.
O carácter que um homem mostra, depende da realidade constituída por esse homem, da realidade constituída pelas pessoas que vivem com ele, da civilização em que vive e da natureza das relações que eles têm entre si.
Os métodos da caracterologia  
Pretende-se estudar as condutas das pessoas e os juízos que emitem umas relativamente às outras.
Par a tal, existem essencialmente 3 métodos: as investigações causais (constitucionais – os tipos físicos humanos e psicanalíticos – estudo da formação psicológica dos caracteres desde a infância), o estudo clínico e correlacional (com base na psicologia patológica) e busca das propriedades caracterológicas gerais.
Na teoria, os três métodos não são contraditórios e deveriam até ser utilizados concorrentemente.
Os sistemas caracterológicos  
Podem-se, em certa medida, classificar os sistemas segundo o método que foi principalmente utilizado para os constituir. Assim temos:
Caracterologia causal – as causas determinantes do carácter podem ser de natureza biológica ou psicológica.
Caracterologia clínica – deriva da observação direta dos caracteres patológicos: esquizofrenia, ciclofrenia, histeria, epilepsia e desvios sexuais.
Caracterologia das propriedades – Com as 3 propriedades fundamentais (emotividade, atividade e repercussão das representações) e suas combinações, Heymans e Wiessma definem 8 tipos caracterológicos: nervosos, sentimentais, coléricos, apaixonados, sanguíneos, fleumáticos, amorfos e apáticos.
Caracterologia causal morfológico-somática
Segundo estas teorias, o carácter e a morfologia somática dependem das mesmas causas orgânicas profundas.
Conhecendo o importante papel desempenhado pelas glândulas endócrinas na organização do corpo e do carácter, numerosos estudos levam a definir tipos endócrinos.
Os 4 temperamentos clássicos - O bilioso, o linfático, o sanguíneo e o nervoso.
O temperamento delineia a maneira de ser global do indivíduo em reação ao seu meio. Na prática clínica encontram-se muito mais frequentemente tipos mistos que tipos puros. A arte do diagnóstico consiste então em estabelecer a hierarquia.
A medicina antiga relacionava o corpo humano com as realidades fundamentais da natureza – a água, a terra, o fogo e o ar. Assim vemos corresponder à medicina humoral os quatro temperamentos de Hipócrates.
A escola de morfologia (francesa)
Às quatro grandes estruturas morfológicas determinadas pela predominância de um aparelho orgânico (muscular, respiratória, digestiva e cerebral) correspondem os quatro tipos caracterológicos, que podem ser francos ou irregulares: tipo muscular, tipo respiratório, tipo digestivo e tipo cerebral. Os irregulares podem ainda ser redondos ou planos (tipo redondo uniforme, tipo redondo ondulado, tipo redondo cúbico, tipo plano uniforme, tipo plano ondulado, tipo plano amolgado e tipo plano adiposo).
A escola constitucionalista (italiana)
Para esta escola, a constituição humana é formada por 2 sistemas: o sistema de vida vegetativa e o sistema de vida de relação. Quando os 2 sistemas se encontram igualmente desenvolvidos está-se perante o “normotipo”, quando o sistema vegetativo é dominante, está-se perante o “branquitipo megalospânico” (ou brevilíneo) e no caso de dominar o sistema voluntário está-se perante o “longitipo microsplâncnico” (ou longilíneo)
A Pirâmide biotipológica
Pende quis definir os tipos individuais considerando todos os aspetos da personalidade, a fim de atingir verdadeiros tipos somatopsíquicos. Ele resume-a naquilo a que chamou a “Pirâmide biotipológica”. Pirâmide, com 4 faces, cuja base representa os determinantes hereditários do indivíduo, enquanto as 4 faces dizem respeito ao tipo morfológico, à fisiologia, à inteligência e ao carácter.
O estudo do carácter deve partir de observações e permitir determinar tipos apáticos ou emotivos, estáveis ou instáveis, introvertidos ou extrovertidos, abúlicos ou volitivos. O estudo da inteligência comporta a aplicação de numerosos testes e a observação do sujeito e permite definir as inteligências concreta, fantástica, abstrata, intuitiva, lógica, analítica e sintética.  
Pende elaborou uma classificação quadripartida: O longilíneo esténico, O longilíneo hiposténico, o brevilíneo esténico e os brevilíneos hiposténicos.
A Caracterologia causal psicanalítica
As 4 leis fundamentais nas quais a psicanálise, como ciência e como técnica, se pode resumir:
·         A evolução sexual da criança é determinante quanto à natureza das condutas do adulto.
·         Os acontecimentos ocorridos durante a infância do indivíduo, assim como a natureza das relações que unem a criança aos pais, desempenham um papel fundamental na determinação da estrutura psicológica do adulto.
·         As neuroses e as inadaptações sociais não são geralmente fenómenos de astenia e de abrandamento da vida psicológica, mas sim traduções das oposições dinâmicas entre tendências contraditórias.
·         O antagonismo das tendências, os acontecimentos, as situações psicológicas, as fixações do desenvolvimento sexual que se encontram na origem da orientação das nossas condutas, assim como, frequentemente, a própria natureza real desta orientação psicológica, não são geralmente conhecidos pelos sujeitos, mas antes inconscientes.
As fases da primeira evolução sexual: 1- fase oral, 2 – fase anal, 3 – fase genital
Os complexos
Os complexos são grupos organizados de tendências que orientam as nossas condutas e cuja formação remonta ao período de desenvolvimento infantil. Eles não são claramente conhecidos na sua especificidade pelos sujeitos nos quais existem.
A evolução das primeiras relações afetivas:
Narcisismo - fase atravessada pela criança em que ama o seu corpo, gosta de olhar para o seu corpo, à volta do qual se organiza então um conjunto de emoções e sentimentos complexos
Complexo de Édipo – fase de duas tendências conexas. De amor pelo progenitor do sexo oposto e de hostilidade pelo progenitor do mesmo sexo.
Complexo de Caim – Trata-se da rivalidade entre irmãos. A criança, quando lhe aparece um irmão ou uma irmã, reage em primeiro lugar com um ciúme intenso que subsiste, de forma mais ou menos latente e recalcada. Inversamente, a hostilidade do irmão mais novo relativamente ao mais velho aparece como resposta a essa hostilidade.
Homossexualidade – A não resolução do complexo de Édipo pode despertar atitudes sexuais primitivas que, no caso do rapaz se traduz na impossibilidade de evoluir para relações normais e fixá-lo num estado narcísico com componentes homossexuais e na rapariga pode aparecer uma fixação castradora mais ou menos evidente. Por outro lado a criança que não quer abandonar inteiramente nem o modo de vinculação nem a vinculação ao progenitor do sexo oposto transformar-se-á à imagem deste, de maneira a poder continuar a amar o seu pai ou a sua mãe em si. Produz-se uma introjeção. A criança é levada a recusar o seu sexo.
Complexo de Diana – A rapariga, devido a ter sido levada a recusar o seu sexo, pela introjeção referida, manifesta comportamentos arrapazados e posteriormente encontrar-se-á com o menor número de homens possível.
O «id» - é constituído pelas tendências secretas, reprimidas, que, apesar de se manterem inconscientes, orientam as condutas.
O «ego» - representa a personalidade consciente. Se as tendências do «in» não chegam ao «ego» deve-se à existência do superego, que atua como verdadeira instância moral inconsciente.
O superego – é, primeiro, constituído pela organização do controlo das tendências primitivas, que é realizado pelos primeiros educadores. Trata-se de inibições. O superego é também o herdeiro do complexo de Édipo, pois no momento em que este se resolve, o superego organiza-se segundo a imagem do pai, que é simultaneamente temido e admirado. Aparece portanto como uma verdadeira instância moral inconsciente.
Os tipos psicossexuais de Freud – erótico, obsessivo, narcísico, erotonarcísico, narcísico-obsessivo e erótico-obsessivo.
Caracterologia das relações voluntárias 
Estudando mais particularmente a força e a fraqueza do superego, assim como as relações que ele mantém com o ego, Boutonier chegou a uma verdadeira caracterologia das relações voluntárias. Tem um carácter concreto. É uma tentativa de unificar e explicar, a partir das teorias psicanalíticas, caracteres tomados na experiência comum.
Distingue: Dependentes (Submetido, Revoltado, Alternante entre obediente e revoltado, Revoltado verbal e Forçado do querer), Inibidos (Idealista, Lógico, Pessimista, Prisioneiro voluntário, Ironista e Inimigo do tempo) e Desregrados (Apaixonado do querer, Quimérico, Inconstante e Incorruptível).
Trata-se pois de tipos de inadaptação, da descrição de alguns tipos pitorescos mais do que de um verdadeiro recenseamento de tipos homogéneos.

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