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11/12/11

Caracterologia -2ª Parte


Caracterologia clínica e correlacional
O problema central que anima toda a caracterologia correlacionl é se existem ou não tipos humanos.
Existem de facto séries morfológicas que correspondem a disposições ou constituições psicopatológicas determinadas.
A psicologia patológica é o estudo das funções psíquicas através da observação das anomalias que apresentam, (essencialmente trata-se de observação de doentes e de isolar um determinado número de doenças ou formas patológicas típicas (grupos de sintomas que se apresentam geralmente ligados).
A psicolopatologia é o estudo das doenças mentais.
Na psicologia patológica devem ser retidas as doenças mentais que se apresentam como um exagero de tendências normais e que permitem por isso uma verdadeira continuidade entre o normal e o patológico.
Classificação caracterológica derivada da psicologia patológica:
O estudo de Delmas e Boll admite a existência de cinco psicoses – paranoia, loucura, mitomania, mania-melancolia e psicose híperemotiva.
A cada uma destas psicoses corresponde uma disposição psíquica, respetivamente: Avidez, Bondade, Sociabilidade, Atividade e Emotividade. As constituições psicopatológicas paranóica, perversa, mitomaníaca, ciclotímica e hiperemotiva correspondem a cada psicose, enquanto as disposições descritas são relacionadas a funções biológicas fundamentais: nutrição, reprodução e mobilidade.
A personalidade do indivíduo seria determinada por uma união das cinco disposições em proporção variável e o estado patológico seria apenas uma atrofia ou hipertrofia.
As tendências esquizoides:
A esquizofrenia - é uma psicose que se caracteriza por uma atitude autista do doente. A vida psicológica dos sujeitos esquizofrénicos é muito mais fortemente dominada por elementos da vida interior que pelos acontecimentos e exigências do mundo exterior. Mostram perda de contacto com a realidade, com o mundo exterior. Para alguns autores a catatonia, a hebefrenia, a demência precoce e a demência paranoica seriam todas elas variedades desta mesma afeção mental.
A esquizotimia - é um tipo de sujeitos que, apesar de serem ainda indivíduos normais, se aparentam nitidamente, na sua maneira de ser geral, à psicose esquizofrénica.
A esquizoidia – é uma das duas tendências psicológicas normais mais características. A outra é a cicloidia. A esquizofrenia poderia ser considerada uma acentuação da esquizoidia, exagerando a doença o autismo do indivíduo.
As tendências cicloides:
A psicose maníaco-depressiva – caracteriza-se por uma atitude bipolar, com acessos periódicos (sucessivos) que não alteram a personalidade nos intervalos lúcidos e não evoluem no sentido de uma desorganização específica. Nesta psicose apesar da natureza das relações com o mundo exterior se encontrarem modificadas, os doentes continuam em contato com esse mundo exterior. O cicloide permanece de acordo com o seu ambiente. O ciclofrénico oscila efetivamente entre a alegria e a tristeza, passa de estados eufóricos, acompanhados de uma necessidade de expansão, a estados de tristeza que o inibem de maneira profunda.
A ciclotimia – é um tipo de sujeitos que, apesar de serem indivíduos normais, se aparentam nitidamente, na sua maneira de ser geral, à psicose maníaco-depressiva. No ser normal, as duas tendências existem necessariamente uma ao lado da outra em um grau mais ou menos elevado: a ciclotimia e a esquizotimia, parecendo comportar-se como contrárias, têm cada uma o seu papel na vida e devem completar-se.
A cicloidia – é uma das duas tendências psicológicas normais mais características.
Pareceu, a alguns cientistas que a repartição da humanidade em duas categorias deixava de fora numerosos casos:
As tendências histeróides – é uma terceira classe, a classe dos histeróides, cujo protótipo patológico é a histeria. Os indivíduos histeróides mantêm um certo grau de infantilismo, a sua actividade não se encontraria voltada nem para motivos interiores (como nos esquizotímicos), nem para motivos exteriores (como nos ciclotímicos), mas estaria, em vez disso, voltada para si próprio.
As tendências epileptoides – a epileptoidia compreende dois polos afetivos, o da viscosidade e da lentidão e o das reações explosivas. A lentidão das emoções conduziria a uma latência emocional, que se resolveria em descargas bruscas.
As tendências para os desvios sexuais
Também aqui as formas patológicas podem ser consideradas como acentuações excessivas ou monstruosas de tendências normais. As psicopatologias do instinto sexual são:
O onanismo – Considera-se atualmente que o prazer solitário é um fenómeno normal da pré-sexualidade, que se encontra em aproximadamente sete oitavos das crianças. São as representações que acompanham a masturbação, ou a sua frequência e a sua exclusividade numa certa idade, que lhe conferem um sentido patológico.
O sadismo e o masochismo – Designam a voluptuosidade de impor a outrem sofrimentos e humilhações ou de, por outro lado, sofrer essas mesmas coisas. Para a psicanálise, as perversões sádicas e masochistas provêm de uma paragem do desenvolvimento da líbido no estado anal. As formas patológicas são apenas exageros monstruosos de pulsões que também se encontram nos casos normais. Quando o masochismo e o sadismo se manifestam simultaneamente de maneira muito evidente trata-se então do sadomasochismo em que se satisfazem as duas formas de ambivalência: sofrer e fazer sofrer.
A necrofilia – Desvio monstruoso em que o cadáver é tomado como objeto do desejo erótico. A necrofilia apresenta um parentesco evidente com o sadismo - queles que matam ou querem matar no ato sexual não são raros.
O canibalismo – Desvio monstruoso em que o doente não se contenta em infligir sofrimentos ou em matar, chupa o sangue ou come a carne da sua vítima.
O fetichismo – limita a possibilidade da plena atividade sexual à presença de um detalhe.
O voyeurismo – os voyeuristas excita-se eroticamente ao observar as relações sexuais de um par.
O exibicionismo – os exibicionistas só são capazes de se excitar quando se mostram a outrem ao copular, ou exibindo os órgãos genitais.
Impotência – Trata-se de uma espécie de extinção do desejo sexual no homem, ou então, juntamente com um desejo normal ou maior que o normal, de uma impossibilidade de obter a ereção; nas formas mais atenuadas trata-se de uma rapidez demasiadamente grande ou um grande atraso da ejaculação.
Frigidez –  considera-se frígida uma mulher que não consegue ter um prazer completo nas relações sexuais normais com um parceiro sexual normal. Pode apresentar várias formas: ausência total de desejo ou total impossibilidade de chegar ao orgasmo apesar de existir desejo.
Homossexualidade – consiste fundamentalmente numa atração física por indivíduos do mesmo sexo. De maneira geral comporta um forte grau de ambivalência, isto é, manifesta-se ao mesmo tempo pela submissão e pela hostilidade.
Séries caracterológicas das perversões sexuais
A cada uma destas perversões da sexualidade correspondem séries caracterológicas contínuas de estados que permitem chegar ao normal. Pode então reunir-se na mesma classe o sadismo, o masochismo, o canibalismo e a necrofilia, pois, todos eles têm um significado agressivo. A outra classe engloba a homossexualidade, a frigidez, a impotência, o fetichismo, o voyeurismo e o exibicionismo, como formas patológicas caraterizadas pelo desaparecimento das relações sexuais normais, sem que a agressividade se manifeste de maneira dominante ou anormal. Note-se contudo que as associações são muito frequentes entre as tendências dos dois grupos.
As constituições na psicologia patológica
Do ponto de vista da morfologia somática, Kretschmer conseguiu distinguir os seguintes tipos puros: pícnico, leptossómico e asténico e atlético ou muscular. Há ainda os tipos mistos, os atípicos e os displásticos. Efetuaram-se vários trabalhos a fim de conhecer as ligações entre os tipos psicopatológicos e caracterológicos e os tipos morfológicos, tendo-se concluído que há uma grande concentração de ciclotímicos pícnicos e de esquizotímicos leptossómicos. Admite-se pois que a ciclotimia se encontra habitualmente ligada à constituição pícnica (brevilínea) e a esquizotimia à constituição leptossómica (longilínea).
Caracterologia correlacional
Correlação entre as aptidões – As aptidões são uma espécie de ferramentas ou instrumentos que permitem ao homem fazer determinadas operações. O carácter pode ser definido como aquilo que explica que, em presença das mesmas circunstâncias, dois indivíduos que disponham das mesmas capacidades intelectuais e técnicas reajam de maneira diferente. O estudo das aptidões permite assim a criação de métodos de análise de correlações. Existe uma ligação funcional entre dois fenómenos quando, sendo cada um deles mensurável, o conhecimento de uma das variáveis assim definida permite determinar o outro sem ambiguidades. Para medir a intensidade dessa ligação utilizam-se medidas chamadas coeficientes de correlação. As correlações passam a ser tratadas pelos métodos de análise fatorial . O problema da subjetividade dos avaliadores conduz à introdução de métodos estatísticos no ato através do qual se atribui um determinado carácter a alguém. Utilizam-se os métodos de análise da variância, as avaliações agrupam-se à volta de um valor padrão e a distribuição em torno de médias características (o acaso explica efetivamente um quarto da variância). A análise fatorial deve ter lugar após se ter purificado suficientemente os fatores e efetuado um estudo prévio dos instrumentos de medida.
Morfologia e temperamento (segundo o estudo de Sheldon):
As três componentes morfológicas de Sheldon são endomórfica (dominam as vísceras), mesomórfica (dominam as estruturas somáticas – ossos, músculos e tecidos conjuntivos) e ectomórfica (predominância da superfície do corpo, com os seus aparelhos sensoriais, e do sistema nervoso em geral).
Os três tipos temperamentais de Sheldon são Viscerotonia (atitudes e movimentos relaxados, reacções lentas, gosto pelo conforto físico, pela alimentação, pela socialização da alimentação, prazer em digerir, gosto por cerimónias corteses, sociofilia, amabilidade indiscriminada, avidez por afeição e apropriação, orientação para outrem, igualdade do fluxo emocional, tolerância, contentamento consigo próprio, sono profundo, falta de carácter, comunicação fácil e livre dos sentimentos, extroversão, relaxamento e sociofilia sob a influência do álcool, necessidade dos outros em caso de aflição e orientação para as relações de infância e de família), Somatotonia (Firmeza de atitude e de movimento, gosto pelas ações físicas, caraterística enérgica, Necessidade e prazer no exercício, gosto pelo domínio e vontade de poder, gosto pelo risco, maneiras diretas de pessoa intrépida, coragem física no combate, agressividade competitiva, dureza psicológica, claustrofobia, ausência de piedade e de delicadeza, débito vocal estrondoso, indiferença pela dor, gosto geral por bater, hipermaturidade da aparência, clivagem mental horizontal, extroversão somatónica, corte entre a vida consciente e a vida inconsciente, autossuficiência e agressão sob a influência do álcool, necessidade de ação em caso de aflição, orientação para objetivos e atividades próprias da juventude) e Cerebrotonia (retenção da atitude e do movimento, constrangimento, reações fisiológicas excessivas, reações rápidas de mais, gosto pela privação, ascetismo, atividade mental interna, hiperatenção, prontidão de perceção, segredo sentimental, mobilidade controlada dos olhos e da cara, sociofobia, falta de à-vontade em sociedade, resistência aos hábitos, fraca automatização, agorofobia, imprevisibilidade de atitude, débito vocal retido, medo de fazer barulho, hipersensibilidade à dor, sono ligeiro, fadiga crónica, juvenilidade das maneiras e da aparência, clivagem mental vertical, introversão, falta de resistência ao álcool e a todas as drogas deprimentes, necessidade de solidão em caso de aflição, orientação para objetivos do último período da vida).
Correlação entre os tipos morfológicos e os componentes temperamentais (caracterologia):
Viscerotonia / Endomorfismo: +0,79      Viscerotonia/ Mesomorfismo: -0,23      Viscerotonia/Ectomorfismo: -0,40
Somatotonia/ Endomorfismo: -0,29       Somatotonia/ Mesomorfismo: -0,82      Somatotonia/Ectomorfismo: -0,53
Cerebrotonia/ Endomorfismo: -0,32      Cerebrotonia/ Mesomorfismo: -0,58     Cerebrotonia/Ectomorfismo:+0,83
(os coeficientes de correlação têm como valores extremos +1 e -1. O seu valor é 0 quando não existe relação entre os dois fenómenos. Encontram-se tanto mais perto de 1 em valor absoluto quanto mais forte é a relação. Quando são positivos significa que as duas variáveis se deslocam no mesmo sentido e, quando são negativos, significa que se deslocam em sentido contrário).

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