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17/12/13

GNOSIS DIGESTUS: História de Roma -8


A RELIGIÃO NA CIVILIZAÇÃO ROMANA
Os Romanos viviam rodeados de deuses. Cada uma das suas acções, cada momento da sua vida, estavam ligados a uma divindade.
A religião romana, politeísta, não se fechou. Pelo contrário, foi recebendo as divindades dos outros povos.
O elemento central do culto público era o sacrifício. Celebrado frente ao templo, próximo do altar, o sacrifício era oferecido pelos magistrados, os sacerdotes, ou o imperador, coadjuvados pelos escravos. Após a procissão, a oferta de incenso e vinho e a invocação da divindade honrada, a vítima, (uma ave, um bovino ou um porco) era imolada e, depois, dividida entre os deuses e os homens, que consumiam a carne durante o banquete sacrificial.
Na adivinhação, os vaticínios não visavam predizer o futuro mas interpretar os sinais enviados pelos deuses. O áugure adivinhava os auspícios observando o comportamento das aves. Com um bastão curvo traçava no céu um espaço sagrado e, se as aves penetrassem nesse espaço pela direita, o presságio era favorável, um voo vindo da esquerda manifestava o desacordo divino. O arúspice examinava as entranhas das vítimas sacrificiais e, se não estivessem bem, era necessário repetir o sacrifício. Durante as deslocações do exército observava-se o apetite das aves sagradas. Durante algum tempo o pullarius não alimentava o galinheiro, depois abria a gaiola e dava milho aos animais. Se as galinhas comessem, os deuses estavam satisfeitos. Para casos graves (catástrofes naturais, epidemias, derrota militar), um colégio de quinze homens consultava os livros sibilinos, escritos em grego e em versos obscuros, a fim de aí encontrar a forma de apaziguar os deuses.
A par do culto público, existia em Roma uma religião privada, dependente em cada gens (família) do chefe de família. O culto doméstico tinha um papel importante na vida quotidiana. Cada família prestava diariamente culto aos deuses do lar, sob a direcção do pater família. Qualquer acontecimento familiar (nascimento, casamento, aniversário) era acompanhado de orações e de um sacrifício às divindades protectoras do lar: os lares, os penates e o espírito do senhor da casa. O pater famílias (chefe de família) podia ser qualquer cidadão do sexo masculino, com a condição, única, de não ter ascendente masculino em linha recta, o pater famílias gozava de poder absoluto, sem equivalentes noutras civilizações. Literalmente, ele fazia a lei na sua casa.
O primeiro rei etrusco que governou Roma, encontrou em Roma acima de tudo uma comunidade religiosa. Desde cedo os Romanos mostraram-se apegados à sua religião, poderosa e omnipresente. Ela tinha o seu fundamento na fides (confiança mútua) entre os deuses e os homens. A confiança na benevolência divina, ou pax deorum (paz dos deuses), garantia um equilíbrio natural no seio do qual as forças divinas e os seres humanos colaboravam de modo harmonioso. O favor dos deuses era determinado sobretudo pelo cumprimento de um ritual minucioso e não por um comportamento moral. Não obstante, o conceito de paz divina exercia uma influência moral indirecta, uma vez que o respeito pelo cumprimento das promessas feitas aos deuses se estendia ao aos juramentos feitos aos homens. Na religião romana o indivíduo tinha pouca importância, a religião era um assunto colectivo e não individual. Este aspecto manifestava-se em toda a vida romana: a individualidade dissolvia-se na família, no clã, no Estado.
A deusa Vesta, venerada pelas suas sacerdotizas, as vestais, ao lado do Fórum, numa cabana redonda mais tarde transformada em templo, era a deusa do lar no Estado Romano. Mas estava igualmente presente nos cultos familiares, representando tanto a solidariedade familiar como a solidariedade nacional.
Nos templos antigos, os Romanos, ao contrário dos Gregos, não representavam as suas divindades sob a forma humana: o templo de Vesta, por exemplo, não tinha qualquer imagem. No entanto Vesta foi identificada com a deusa grega Hestia. Marte, primeiro deus reconhecido pelos Romanos (e por outros povos latinos) como chefe de todas as divindades, foi identificado com o deus grego Ares.    
A civilização etrusca influenciou muito a cultura romana no domínio religioso. Os Etruscos dotaram a cidade dos primeiros templos de pedra, de planta quadrada (entre os quais, o templo de Júpiter, no Capitólio) e ornados com motivos de terracota e legaram também as suas representações divinas. Roma beneficiou também das trocas culturais entre os Etruscos e as cidades gregas do Sul de Itália, que introduziu deuses gregos, como Apolo, em Roma.
A prática da observação das entranhas de um animal, vítima sacrificial, pelo arúspice, é uma das mais comuns da religião romana. Esta técnica de adivinhação, que visava confirmar o assentimento dos deuses, foi herdada dos Etruscos e mais tarde, durante a República, continuou confiada a sacerdotes de origem etrusca.
Acompanhando as conquistas, o panteão romano não cessou de ser enriquecido com novas divindades. As divindades gregas e orientais (Dionísio, deus grego do vinho; Cibele, divindade da Anatólia, símbolo da fecundidade; Ísis, deusa-mãe egípcia; Mitra, deusa solar persa), gozavam de grande popularidade.
No topo da hierarquia reinava um grupo de três deuses instalados sobre o Capitólio: Júpiter, deus soberano, Minerva, deusa associada à guerra e Juno, protectora das mulheres e garante da prosperidade.
No fim do império, novas aspirações religiosas voltadas para a salvação pessoal favoreceram o desenvolvimento do cristianismo e de movimentos filosóficos.

Os sacerdotes de Roma não formavam uma casta. Eram cidadãos eleitos pelos seus pares, ou pelo povo, agrupados em colégios ou confrarias. No topo da hierarquia, os pontífices (nove em 300 a.C., dezasseis a partir de César) aconselhavam os magistrados ou o Senado sobre as tradições culturais e o direito sagrado, estabeleciam o calendário, tutelavam os lugares sagrados e as necrópoles. O rex sacrorum celebrava os ritos que remontavam à monarquia.  Os quinze flâmines (dos quais faziam parte os três flâmines maiores: os de Júpiter, Marte e Quirino) celebravam o culto da divindade do seu nome. Já sob o império, o imperador fez-se nomear grande pontífice e controlava todos os assuntos religiosos. 

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