A RELIGIÃO NA CIVILIZAÇÃO ROMANA
Os Romanos viviam rodeados de
deuses. Cada uma das suas acções, cada momento da sua vida, estavam ligados a
uma divindade.
A religião romana, politeísta,
não se fechou. Pelo contrário, foi recebendo as divindades dos outros povos.
O elemento central do culto
público era o sacrifício. Celebrado frente ao templo, próximo do altar, o
sacrifício era oferecido pelos magistrados, os sacerdotes, ou o imperador,
coadjuvados pelos escravos. Após a procissão, a oferta de incenso e vinho e a
invocação da divindade honrada, a vítima, (uma ave, um bovino ou um porco) era
imolada e, depois, dividida entre os deuses e os homens, que consumiam a carne
durante o banquete sacrificial.
Na adivinhação, os vaticínios não
visavam predizer o futuro mas interpretar os sinais enviados pelos deuses. O
áugure adivinhava os auspícios observando o comportamento das aves. Com um
bastão curvo traçava no céu um espaço sagrado e, se as aves penetrassem nesse
espaço pela direita, o presságio era favorável, um voo vindo da esquerda
manifestava o desacordo divino. O arúspice examinava as entranhas das vítimas
sacrificiais e, se não estivessem bem, era necessário repetir o sacrifício.
Durante as deslocações do exército observava-se o apetite das aves sagradas.
Durante algum tempo o pullarius não alimentava o galinheiro, depois abria a
gaiola e dava milho aos animais. Se as galinhas comessem, os deuses estavam
satisfeitos. Para casos graves (catástrofes naturais, epidemias, derrota
militar), um colégio de quinze homens consultava os livros sibilinos, escritos
em grego e em versos obscuros, a fim de aí encontrar a forma de apaziguar os
deuses.
A par do culto público, existia
em Roma uma religião privada, dependente em cada gens (família) do chefe de
família. O culto doméstico tinha um papel importante na vida quotidiana. Cada família
prestava diariamente culto aos deuses do lar, sob a direcção do pater família.
Qualquer acontecimento familiar (nascimento, casamento, aniversário) era
acompanhado de orações e de um sacrifício às divindades protectoras do lar: os
lares, os penates e o espírito do senhor da casa. O pater famílias (chefe de
família) podia ser qualquer cidadão do sexo masculino, com a condição, única,
de não ter ascendente masculino em linha recta, o pater famílias gozava de
poder absoluto, sem equivalentes noutras civilizações. Literalmente, ele fazia
a lei na sua casa.
O primeiro rei etrusco que
governou Roma, encontrou em Roma acima de tudo uma comunidade religiosa. Desde
cedo os Romanos mostraram-se apegados à sua religião, poderosa e omnipresente.
Ela tinha o seu fundamento na fides (confiança mútua) entre os deuses e os
homens. A confiança na benevolência divina, ou pax deorum (paz dos deuses),
garantia um equilíbrio natural no seio do qual as forças divinas e os seres
humanos colaboravam de modo harmonioso. O favor dos deuses era determinado
sobretudo pelo cumprimento de um ritual minucioso e não por um comportamento
moral. Não obstante, o conceito de paz divina exercia uma influência moral
indirecta, uma vez que o respeito pelo cumprimento das promessas feitas aos
deuses se estendia ao aos juramentos feitos aos homens. Na religião romana o
indivíduo tinha pouca importância, a religião era um assunto colectivo e não
individual. Este aspecto manifestava-se em toda a vida romana: a individualidade
dissolvia-se na família, no clã, no Estado.
A deusa Vesta, venerada pelas
suas sacerdotizas, as vestais, ao lado do Fórum, numa cabana redonda mais tarde
transformada em templo, era a deusa do lar no Estado Romano. Mas estava
igualmente presente nos cultos familiares, representando tanto a solidariedade
familiar como a solidariedade nacional.
Nos templos antigos, os Romanos,
ao contrário dos Gregos, não representavam as suas divindades sob a forma
humana: o templo de Vesta, por exemplo, não tinha qualquer imagem. No entanto
Vesta foi identificada com a deusa grega Hestia. Marte, primeiro deus
reconhecido pelos Romanos (e por outros povos latinos) como chefe de todas as
divindades, foi identificado com o deus grego Ares.
A civilização etrusca influenciou
muito a cultura romana no domínio religioso. Os Etruscos dotaram a cidade dos
primeiros templos de pedra, de planta quadrada (entre os quais, o templo de
Júpiter, no Capitólio) e ornados com motivos de terracota e legaram também as
suas representações divinas. Roma beneficiou também das trocas culturais entre
os Etruscos e as cidades gregas do Sul de Itália, que introduziu deuses gregos,
como Apolo, em Roma.
A prática da observação das
entranhas de um animal, vítima sacrificial, pelo arúspice, é uma das mais
comuns da religião romana. Esta técnica de adivinhação, que visava confirmar o
assentimento dos deuses, foi herdada dos Etruscos e mais tarde, durante a
República, continuou confiada a sacerdotes de origem etrusca.
Acompanhando as conquistas, o
panteão romano não cessou de ser enriquecido com novas divindades. As divindades
gregas e orientais (Dionísio, deus grego do vinho; Cibele, divindade da
Anatólia, símbolo da fecundidade; Ísis, deusa-mãe egípcia; Mitra, deusa solar
persa), gozavam de grande popularidade.
No topo da hierarquia reinava um
grupo de três deuses instalados sobre o Capitólio: Júpiter, deus soberano,
Minerva, deusa associada à guerra e Juno, protectora das mulheres e garante da
prosperidade.
No fim do império, novas
aspirações religiosas voltadas para a salvação pessoal favoreceram o
desenvolvimento do cristianismo e de movimentos filosóficos.
Os sacerdotes de Roma não
formavam uma casta. Eram cidadãos eleitos pelos seus pares, ou pelo povo,
agrupados em colégios ou confrarias. No topo da hierarquia, os pontífices (nove
em 300 a.C., dezasseis a partir de César) aconselhavam os magistrados ou o
Senado sobre as tradições culturais e o direito sagrado, estabeleciam o
calendário, tutelavam os lugares sagrados e as necrópoles. O rex sacrorum
celebrava os ritos que remontavam à monarquia.
Os quinze flâmines (dos quais faziam parte os três flâmines maiores: os
de Júpiter, Marte e Quirino) celebravam o culto da divindade do seu nome. Já
sob o império, o imperador fez-se nomear grande pontífice e controlava todos os
assuntos religiosos.
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