9- A mulher na arte na Idade Média
A situação da mulher artista não diferia da situação da mulher em geral.
A Idade Média abrange um período vastíssimo de cerca de mil anos, no decorrer do qual houve várias expressões artísticas, nomeadamente: Arte Carolíngia, Arte Bizantina, Arte Islâmica, Arte Germânica, Arte Românica e Arte Gótica.
A grande maioria dos artistas, até ao período do “Gótico Final”, era anónima, e por isso tem sido difícil identificar obras de autoria feminina.
De facto, em contraste com a Antiguidade Clássica ou com o Renascimento, a impessoalidade do trabalho de arte e a modéstia dos artistas na Idade Média não oferecem dúvidas, assim como a ideia do individual e do particular ser estranha para eles e para os seus contemporâneos.
A mulher teve um papel activo na sociedade medieval e uma produção artística significativa.
A Idade Média herdara da Antiguidade o desprezo a que fora relegada a condição de qualquer homem ou mulher que trabalhasse com as suas próprias mãos, ainda que fosse um artista.
O Cristianismo, por outro lado, fixava a ideia de que o indivíduo singular não era agente da história, o homem não tinha importância como criador, visto que era considerado um instrumento divino.
Assim a grande maioria dos artistas desse período era anónima.
Por essas razões os renascentistas menosprezaram e depreciaram as contribuições medievais, não as mencionando na História da Arte.
De facto a abordagem renascentista a respeito da Arte da Idade Média conduziria a que esta ficasse envolta num senso pejorativo e até mesmo relegada ao esquecimento e tornou-se um período intermediário, situado incomodamente entre a brilhante Antiguidade e o seu Renascimento.
Foi necessário esperar pela historiografia contemporânea para que houvesse o despertar do interesse pela arte medieval, com a superação da conotação negativa do termo gótico.
A nova historiografia divide a Arte na alta Idade Média em 2 períodos distintos: o Românico (de início do séc. XI a finais do XII) e Gótico (Meados do séc. XII a XVI).
9.1- A mulher artista no Período Românico
O período Românico é a 1ª afirmação cultural do Ocidente, quando o Cristianismo triunfa em toda a Europa, fortalecendo as instituições monásticas, tanto as masculinas como as femininas. A cultura e a arte eram monásticas.
As oportunidades para as mulheres em matéria de educação estavam mais disponíveis àquelas que quisessem abraçar uma vida celibatária. As monjas dispunham de tempo e espaço para se dedicarem à leitura, à escrita, à composição, à tecelagem, à gravura, à pintura, etc., dentre as muitas funções que exerciam, trabalhando ainda como bibliotecárias, professoras, copistas e artistas.
Mulheres célebres pela sua cultura foram Herrada de Landsberg (séc. XII), Heloísa (séc. XII) e Cristina de Pisan (séc. XIV).
O mosteiro era um dos poucos lugares em que a mulher podia ter visibilidade e encontrar uma saída para os seus talentos artísticos. Muitas mulheres religiosas dedicaram-se à arte da cópia e ilustração de manuscritos e a outras artes consideradas menores (pintura sobre vidro, ourivesaria, miniatura e tecelagem).
Mas as artes maiores (arquitectura, escultura e pintura) também interessaram os mosteiros.
Houve também mulheres copistas profissionais não religiosas, algumas nobres, esposas de escrivães, filhas de poetas, etc.
Muitas, entre religiosas ou leigas, deixaram no fim dos manuscritos o registo da sua participação, podendo assim ser identificadas.
São os casos de trabalhos em manuscritos ilustrados das monjas Ende (finais do séc. X) e Guda, da abadessa Hildegarda de Bingen (que deixou-nos inúmeras obras com ricas iluminuras) e da laica Clarícia, miniaturista do séc. XIII.
9.2- A mulher artista no Período Gótico
O 2º período da arte medieval, o período gótico, caracteriza-se por ser o período das corporações e da burguesia.
O centro de gravidade da vida social desloca-se do campo para a cidade.
A mudança, do ponto de vista cultural, reside em dois grupos activos, o dos artífices e artistas e dos mercadores.
Os ofícios organizam-se em corporações e a poderosa classe burguesa obtém o controlo dos governos municipais.
Em meio a essa reestruturação social, o trabalho feminino, enquanto mão-de-obra, teve forte significação na vida económica das cidades.
A grande maioria das mulheres trabalhadoras empregava-se nas oficinas artesanais e artísticas, executando tarefas ao lado dos homens.
Raro é o artífice de alguma importância que não tenha ao seu lado algum aprendiz, colaborador ou familiar, muitas vezes mulher, que aprenda as técnicas da profissão e que o ajude em alguns dos múltiplos processos de execução de uma obra.
Assim, em algumas corporações, mulheres podiam tornar-se mestres independentes.
Como membro das corporações, as mestres artesãs mulheres estavam sujeitas aos mesmos regulamentos, controles e obrigações tributárias dos mestres homens. Mas a maioria das mulheres trabalhava numa situação de dependência, como aprendiz, assalariada ou por jornadas.
Muitas mulheres estiveram activas em inúmeras profissões, mesmo as consideradas habitualmente masculinas.
Foi o caso de, por exemplo, Sabina von Steinbach, que executou trabalhos de escultura na construção da Catedral de Estrasburgo.
Ainda que as mulheres tivessem alcançado algum espaço como artífices, tendo mesmo ampliada a sua actividade como artistas, não foi fácil a sua manutenção. De facto, no final da idade média, verifica-se uma crescente hostilidade ao trabalho feminino, particularmente nos regulamentos corporativos.
Fontes fundamentais para conhecer nomes e trabalhos de mulheres artistas medievais, são:
Registos fiscais, como, por exemplo, as contas da talha, em Paris, onde o nome dos contribuintes é acompanhado da indicação do seu ofício.
Recibos de pagamentos e Contratos revelam o nome de muitas mulheres artistas, como, por exemplo, em Bolonha, nos séc. XIII e XIV: Donella Miniatrix esposa de um miniaturista, a calígrafa Montanaria mulher de Onesto, Allegra esposa de Ivano, que promete a uma carmelita, copiar uma bíblia completa, Flandina de Tebaldino, calígrafa, etc. Também de Colónia, dos séc. XIII e XIV, podemos mencionar alguns nomes: a viúva Tula Rubeatrix, Hilda ou Hilla, pintora.
Quanto mais nos aproximamos do fim da Idade Média, mais frequentemente os artistas assinam as suas próprias obras.
A partir dessas fontes documentais é possível levantar alguns nomes de artistas, saber das actividades desenvolvidas, estabelecer algumas categorias de encomendas e consequentemente de obras de arte, como as encomendas da corte, da nobreza, da burguesia ou da igreja.
Quanto ao merecimento, embora alguns artistas do período gótico tenham alcançado elevados níveis sociais como artistas, casos de Giotto e Jan van Eyck, estes não representam a realidade artística da maioria e menos ainda se tratando de mulheres artistas.
Durante o séc. XV o número de mulheres artistas em actividade aumentou significativamente, mas não há ainda nenhuma mulher que individualmente tenha conseguido alcançar reputação artística comparável com as de vários seus contemporâneos masculinos.
A situação da mulher artista não diferia da situação da mulher em geral.
A Idade Média abrange um período vastíssimo de cerca de mil anos, no decorrer do qual houve várias expressões artísticas, nomeadamente: Arte Carolíngia, Arte Bizantina, Arte Islâmica, Arte Germânica, Arte Românica e Arte Gótica.
A grande maioria dos artistas, até ao período do “Gótico Final”, era anónima, e por isso tem sido difícil identificar obras de autoria feminina.
De facto, em contraste com a Antiguidade Clássica ou com o Renascimento, a impessoalidade do trabalho de arte e a modéstia dos artistas na Idade Média não oferecem dúvidas, assim como a ideia do individual e do particular ser estranha para eles e para os seus contemporâneos.
A mulher teve um papel activo na sociedade medieval e uma produção artística significativa.
A Idade Média herdara da Antiguidade o desprezo a que fora relegada a condição de qualquer homem ou mulher que trabalhasse com as suas próprias mãos, ainda que fosse um artista.
O Cristianismo, por outro lado, fixava a ideia de que o indivíduo singular não era agente da história, o homem não tinha importância como criador, visto que era considerado um instrumento divino.
Assim a grande maioria dos artistas desse período era anónima.
Por essas razões os renascentistas menosprezaram e depreciaram as contribuições medievais, não as mencionando na História da Arte.
De facto a abordagem renascentista a respeito da Arte da Idade Média conduziria a que esta ficasse envolta num senso pejorativo e até mesmo relegada ao esquecimento e tornou-se um período intermediário, situado incomodamente entre a brilhante Antiguidade e o seu Renascimento.
Foi necessário esperar pela historiografia contemporânea para que houvesse o despertar do interesse pela arte medieval, com a superação da conotação negativa do termo gótico.
A nova historiografia divide a Arte na alta Idade Média em 2 períodos distintos: o Românico (de início do séc. XI a finais do XII) e Gótico (Meados do séc. XII a XVI).
9.1- A mulher artista no Período Românico
O período Românico é a 1ª afirmação cultural do Ocidente, quando o Cristianismo triunfa em toda a Europa, fortalecendo as instituições monásticas, tanto as masculinas como as femininas. A cultura e a arte eram monásticas.
As oportunidades para as mulheres em matéria de educação estavam mais disponíveis àquelas que quisessem abraçar uma vida celibatária. As monjas dispunham de tempo e espaço para se dedicarem à leitura, à escrita, à composição, à tecelagem, à gravura, à pintura, etc., dentre as muitas funções que exerciam, trabalhando ainda como bibliotecárias, professoras, copistas e artistas.
Mulheres célebres pela sua cultura foram Herrada de Landsberg (séc. XII), Heloísa (séc. XII) e Cristina de Pisan (séc. XIV).
O mosteiro era um dos poucos lugares em que a mulher podia ter visibilidade e encontrar uma saída para os seus talentos artísticos. Muitas mulheres religiosas dedicaram-se à arte da cópia e ilustração de manuscritos e a outras artes consideradas menores (pintura sobre vidro, ourivesaria, miniatura e tecelagem).
Mas as artes maiores (arquitectura, escultura e pintura) também interessaram os mosteiros.
Houve também mulheres copistas profissionais não religiosas, algumas nobres, esposas de escrivães, filhas de poetas, etc.
Muitas, entre religiosas ou leigas, deixaram no fim dos manuscritos o registo da sua participação, podendo assim ser identificadas.
São os casos de trabalhos em manuscritos ilustrados das monjas Ende (finais do séc. X) e Guda, da abadessa Hildegarda de Bingen (que deixou-nos inúmeras obras com ricas iluminuras) e da laica Clarícia, miniaturista do séc. XIII.
9.2- A mulher artista no Período Gótico
O 2º período da arte medieval, o período gótico, caracteriza-se por ser o período das corporações e da burguesia.
O centro de gravidade da vida social desloca-se do campo para a cidade.
A mudança, do ponto de vista cultural, reside em dois grupos activos, o dos artífices e artistas e dos mercadores.
Os ofícios organizam-se em corporações e a poderosa classe burguesa obtém o controlo dos governos municipais.
Em meio a essa reestruturação social, o trabalho feminino, enquanto mão-de-obra, teve forte significação na vida económica das cidades.
A grande maioria das mulheres trabalhadoras empregava-se nas oficinas artesanais e artísticas, executando tarefas ao lado dos homens.
Raro é o artífice de alguma importância que não tenha ao seu lado algum aprendiz, colaborador ou familiar, muitas vezes mulher, que aprenda as técnicas da profissão e que o ajude em alguns dos múltiplos processos de execução de uma obra.
Assim, em algumas corporações, mulheres podiam tornar-se mestres independentes.
Como membro das corporações, as mestres artesãs mulheres estavam sujeitas aos mesmos regulamentos, controles e obrigações tributárias dos mestres homens. Mas a maioria das mulheres trabalhava numa situação de dependência, como aprendiz, assalariada ou por jornadas.
Muitas mulheres estiveram activas em inúmeras profissões, mesmo as consideradas habitualmente masculinas.
Foi o caso de, por exemplo, Sabina von Steinbach, que executou trabalhos de escultura na construção da Catedral de Estrasburgo.
Ainda que as mulheres tivessem alcançado algum espaço como artífices, tendo mesmo ampliada a sua actividade como artistas, não foi fácil a sua manutenção. De facto, no final da idade média, verifica-se uma crescente hostilidade ao trabalho feminino, particularmente nos regulamentos corporativos.
Fontes fundamentais para conhecer nomes e trabalhos de mulheres artistas medievais, são:
Registos fiscais, como, por exemplo, as contas da talha, em Paris, onde o nome dos contribuintes é acompanhado da indicação do seu ofício.
Recibos de pagamentos e Contratos revelam o nome de muitas mulheres artistas, como, por exemplo, em Bolonha, nos séc. XIII e XIV: Donella Miniatrix esposa de um miniaturista, a calígrafa Montanaria mulher de Onesto, Allegra esposa de Ivano, que promete a uma carmelita, copiar uma bíblia completa, Flandina de Tebaldino, calígrafa, etc. Também de Colónia, dos séc. XIII e XIV, podemos mencionar alguns nomes: a viúva Tula Rubeatrix, Hilda ou Hilla, pintora.
Quanto mais nos aproximamos do fim da Idade Média, mais frequentemente os artistas assinam as suas próprias obras.
A partir dessas fontes documentais é possível levantar alguns nomes de artistas, saber das actividades desenvolvidas, estabelecer algumas categorias de encomendas e consequentemente de obras de arte, como as encomendas da corte, da nobreza, da burguesia ou da igreja.
Quanto ao merecimento, embora alguns artistas do período gótico tenham alcançado elevados níveis sociais como artistas, casos de Giotto e Jan van Eyck, estes não representam a realidade artística da maioria e menos ainda se tratando de mulheres artistas.
Durante o séc. XV o número de mulheres artistas em actividade aumentou significativamente, mas não há ainda nenhuma mulher que individualmente tenha conseguido alcançar reputação artística comparável com as de vários seus contemporâneos masculinos.
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