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14/10/13

RESUMO COMPACTO DA SÍNTESE INTERPRETATIVA DA HISTÓRIA DE PORTUGAL -3

A visão rectangular de Portugal é o resultado da História e da readaptação do Estado português ao mundo da descolonização europeia da segunda metade do século XX.
A imposição da unidade de crença data do século XVI, mas os últimos vestígios da antiga pluralidade religiosa foram apagados só no século XVIII e alguns traços sobreviveram mesmo até ao século XX, nas comunidades de «marranos» (judeus forçados à conversão).
Mas no princípio do século XX, a população do estado português, apesar de viver em meios sociais e ecológicos diversos, deverá ter sido, do ponto de vista do Estado, das mais homogéneas de qualquer Estado europeu, grande ou pequeno, no sentido em que não havia identidades concorrentes – étnicas, religiosas, regionais – que pusessem em causa a comum identidade nacional, cultivada pelo poder político.
O Estado português nunca foi uma grande potência, a não ser localmente, mesmo nas épocas de maior expansão ultramarina. Esta, a partir do século XV, assentou quase sempre numa utilização económica dos recursos pelo Estado e por muitos particulares, e investiu mais no controlo das vias de comunicação do que na ocupação territorial – as excepções mais relevantes foram o Brasil e as ilhas atlânticas. O entanto, os portugueses conseguiram, especialmente no século XVII, enfrentar várias potências europeias aproveitando o antagonismo entre elas.
Globalmente, Portugal deve ter sido dos Estados com menos anos de guerra com outras potências europeias a partir do século XVIII. Enquanto os confrontos na Europa estiveram centrados na rivalidade entre a Inglaterra e a França, Portugal viu-se por vezes directamente envolvido nos conflitos continentais, o que aconteceu até ao princípio do século XIX, e ocasionou várias ofensivas sobre o território metropolitano português a partir de Espanha, a última das quais pelos exércitos de Napoleão Bonaparte em 1807-1812. Mas depois do terceiro quartel do século XIX, quando a competição pelo predomínio da Europa passou a ter, como principal protagonista, a Alemanha, Portugal tendeu a ficar à margem. A participação na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi desejada e forçada pelo Governo português de então, ao contrário do que acontecera geralmente com as guerras europeias do século XVIII. Mesmo assim a guerra não atingiu directamente o território metropolitano. Durante a Segunda Guerra mundial (1939-1945), o Governo fez todos os esforços para conservar a neutralidade e explorar as suas vantagens.
Portugal foi assim um dos países poupados à terrível experiência de guerra generalizada que marcou as populações europeias em meados do século XX. Mas na segunda metade do século XX houve um esforço continuado para inserir Portugal nos esquemas de segurança colectiva da Europa Ocidental sob a égide dos Estados Unidos da América, como o representado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (1949) e no processo de integração europeia, primeiro num plano apenas económico , durante o Estado Novo (1933-1974), e depois também político, com a consolidação do regime democrático que emergiu da revolução do 25 de Abril de 1974. A partir da adesão de Portugal à CEE (1986), o país foi «europeizado» e aproximou-se dos modelos sociais e dos níveis de bem-estar do resto da Europa Ocidental – graças, aliás, a uma transformação social e económica que se acelerou a partir da década de 1950 e fez dos portugueses durante algum tempo um exemplo feliz de prosperidade através da integração nos mercados globais desenvolvidos depois da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, houve o cuidado de manter laços com Estados de língua portuguesa constituídos nos territórios de antiga expansão ultramarina, nomeadamente através da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, fundada em 17 de Julho de 1996.

Os movimentos de população propiciados pela globalização no fim do século XX constituíram também em Portugal importantes comunidades de imigrantes originários desses países, reforçando assim os contactos entre os Estados de língua portuguesa. Até por aí, a memória da antiga expansão ultramarina não se reduzirá tão cedo a uma simples questão de erudição ou evocação livresca.

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