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13/10/14

História de Roma -17 - 2ª GUERRA PÚNICA

2ª Guerra Púnica


A Segunda Guerra Púnica (218-201a.C.) foi a mais terrível guerra travada por Roma e teve consequências consideráveis.
Preliminares:
Em 241 a.C. Cartago fora vencida no fim da Primeira Guerra Púnica, mas não desaparecera do mapa. Roma interditou as águas italianas aos seus navios e obrigou os Cartagineses a evacuarem da Sicília. No ano seguinte Cartago foi atormentada pela revolta de 20.000 mercenários que se amotinaram devido aos atrasos no pagamento dos soldos e puseram a cidade a ferro e fogo durante 3 anos e só após encarniçados combates os mercenários foram aniquilados. Também os companheiros de armas destes rebeldes, na Sardenha, se revoltaram contra Cartago e pediram, em 283 a.C., auxílio a Roma, que enviou um corpo expedicionário e assim se apossou das fortalezas cartaginesas e anexou a Sardenha e a Córsega a Roma. Cartago perdeu igualmente a quase totalidade das suas possessões espanholas.
Mas uma vez esmagadas as violentas insurreições dos mercenários, os Cartagineses recuperaram de forma espectacular e reconstituíram o seu império espanhol. Este facto resultou da acção da mais ilustre família de Cartago, os Bárcidas, estabelecidos em Espanha há vários decénios e fundadora de uma linhagem hereditária de governantes semi-independentes. O primeiro a tornar-se famoso foi Amílcar Barca, que teve um papel importante na Primeira Guerra Púnica e também se distinguiu na vitória sobre os mercenários amotinados que lhe valeu a autorização para reconquistar os seus territórios em Espanha. Os seus sucessos foram espectaculares. As terras espanholas por ele ocupadas eram mais vastas e ricas que todas as outras anteriores dependências de Cartago. Os Espanhóis, entre cujos antepassados se contavam os Celtas e os Iberos, eram guerreiros famosos pela sua resistência física, constituindo o melhor exército que Cartago jamais teve. Amílcar morreu afogado em 229 a.C.. Sucedeu-lhe o seu genro Asdrúbal, que elegeu como capital Nova Cartago (Cartagena), construída sobre uma península que abrigava um dos melhores portos do mundo, e alargou significativamente o território para o interior. Asdrúbal foi assassinado em 221 a.C., e o comando passou para o seu cunhado Aníbal. Este estendeu as suas fronteiras ainda mais, mas uma cidade costeira, Sagunto, resistiu-lhe e pediu auxílio a Roma, que respondeu à solicitação e exigiu que Sagunto fosse respeitada. Aníbal rejeitou o ultimato e sitiou a cidade. Os Romanos furiosos intimaram Cartago a entregar-lhe Aníbal. O pedido foi recusado. A recusa de Cartago em entregar Aníbal desencadeou as hostilidades e assim começou a Segunda Guerra Púnica. Segundo a lenda o pai de Aníbal obrigara-o a jurar ódio eterno aos Romanos e Aníbal desejava vingar a sua pátria, convencido que o poder do seu novo território ibérico lhe dava a oportunidade única para tal.
A Guerra:
Os Romanos, seguros do seu poder, declararam guerra a Aníbal e começaram a reunir forças militares para a empresa espanhola. No entanto, os seus planos foram ultrapassados pela audácia de Aníbal que decidiu invadir a Itália a partir das vias acidentadas do interior do país. Conduzindo uma força de 40.000 homens, entre os quais soldados espanhóis bem treinados, a sua excelente cavalaria númida e 37 elefantes, Aníbal tinha ainda intenção de, ao passar no Norte da Itália, engrossar os efectivos com a incorporação de gauleses hostis aos Romanos e Italianos.
Em Abril de 218 a.C., Aníbal atravessa o Ródano e, no início do Outono, atinge os Alpes. O trajecto foi penoso devido aos nevões precoces, mas Roma enganou-se ao pensar que as intempéries travariam os seus inimigos. No entanto, quando Aníbal atingiu o vale do Pó, restavam-lhe apenas 26.000 homens. Os generais enviados pelo Senado esperavam vencê-lo pelo desgaste, mas foram derrotados em duas batalhas consecutivas, uma a norte, junto ao Tessino, outra a sul, junto ao Trébia, ambos afluentes do rio Pó. Assim, em apenas dois meses, Aníbal apoderou-se de praticamente todo o Norte de Itália e, embora tivesse perdido a maior parte dos elefantes, graças às suas vitórias, o seu exército contava agora com quase 50.000 homens.
Enquanto isso, em Roma os plebeus vilipendiaram os incapazes que perderam o Norte de Itália e, em 217 a.C., elegeram como cônsul um «homem novo», Gaio Flamínio, para mostrarem aos senadores até que ponto desaprovavam a estratégia militar.
Flamínio tentou estancar a progressão do exército cartaginês em direcção a sul mas, durante os primeiros meses do ano, este conseguiu esquivar-se atravessando regiões pantanosas, em condições tão adversas e rigorosas que Aníbal, montado no único elefante sobrevivente, acabou por perder um olho devido ao frio. Aníbal colocou Flamínio na sua peugada e, numa b5rumosa manhã de Abril, preparou uma emboscada às tropas romanas, num desfiladeiro entre colinas  e o lago Trasímeno. Duas legiões romanas foram massacradas e o próprio Flamínio morreu.
Esta vitória abriu a Aníbal o caminho para Roma mas não podia sitiá-la pois, para ultrapassar as defesas da cidade, eram necessárias máquinas de guerra que ele não possuía. Daí que tenha contornado a capital e descido para o Sul da península em busca de aliados. O exército romano estava agora sob o comando dum veterano, o general Fábio Máximo, na altura ditador. Fábio, um romano da velha guarda, paciente e astuto, optou por uma estratégia que reduzia ao mínimo as perdas em novas batalhas campais das suas tropas, recentemente recrutadas, tendo-se aplicado a cortar os víveres ao inimigo, destruindo as colheitas à sua volta. Esta estratégia valeu-lhe a alcunha de O Contemporizador.
 No ano seguinte, os Romanos nomearam generais dois cônsules sem experiência que tomaram o comando do mais forte exército jamais lançado por Roma num teatro de operações. Esperando ganhar a guerra numa única batalha, acertaram o ajuste numa planície aberta, perto de Canas, pequena fortaleza situada nas proximidades do salto da bota italiana. Confiantes na sua superioridade numérica passaram ao ataque mas Aníbal ordenou às suas tropas, dispostas numa frente convexa que recuassem ao centro, de maneira a formarem uma frente côncava. Entretanto, começou a soprar o siroco, um vento  quente que levantou nuvens de areia que atingiram os romanos nos olhos. Estes, privados de visão, foram atacados em tenaz pela infantaria cartaginesa e na retaguarda pela cavalaria. O exército romano desagregou-se. Esta foi a derrota mais sangrenta alguma vez sofrida por Roma. Um exemplo sem precedentes de um exército numericamente inferior que consegue cercar por completo uma força mais importante. Esta táctica exigiu uma coordenação perfeita.
Um dos cônsules romanos pereceu no combate e o outro regressou a Roma, onde foi recebido com benevolência pelos seus colegas senadores que o felicitaram por não ter deixado de confiar na República. Em Roma, e apesar da catástrofe, a esperança permanecia intacta. Com efeito, antes do fim do ano as terríveis perdas sofridas por Roma foram compensadas por novos alistamentos; a vitória de Aníbal não lhe permitiu, assim, adquirir superioridade numérica.
Em 212 a.C., Roma afirmou-se como uma grande potência ao cunhar, pela primeira vez, uma moeda de prata, o denário, emissão que chegou em boa altura para acorrer às necessidades financeiras do Estado.
Em 211 a.C., Aníbal avançou até aos arredores de Roma. Acompanhado pela cavalaria, cercou as protecções da cidade. Ao mesmo tempo, por uma coincidência histórica, o terreno sobre o qual Aníbal instalou o seu acampamento, a 5 km da cidade, foi colocado à venda em hasta pública e comprado. Nada podia provar de maneira mais categórica que, apesar das derrotas, os Romanos estavam decididos a sobreviver e a vencer.
Os Romanos não conseguiram impedir Aníbal de ultrapassar os Pirinéus, nem de invadir a Itália. No entanto impediram o seu jovem irmão, Asdrúbal Barca, que Aníbal deixara no governo do império ibérico de Cartago, de lhe enviar reforços. Apesar do perigo eminente em que a pátria se encontrava, os Romanos decidiram tomar a iniciativa em Espanha, enviando tropas para lá. Estas estiveram durante sete anos sob o comando de dois homens chamados Cipião, respectivamente tio e pai do grande Cipião, O Africano. Os Cipiões apoderaram-se de todo o litoral mediterrânico da Península Ibérica, descendo progressivamente em direcção ao Sul e, em 211 a.C. conquistaram o objectivo inicial do conflito, a cidade de Sagunto. No entanto, nesse ano, os dois irmãos morreram em combate. Em 210 a.C., o Senado confia o comando dos exércitos de Espanha a um novo general: Púbio Cornélio Cipião, mais conhecido por O Africano, filho e sobrinho dos generais mortos no ano anterior.
Uma vez em Espanha, Cipião escolheu como alvo, a capital inimiga, Cartagena, que tomou em 209 a.C.
Em 209 a.C., com magnífica destreza militar, atacou e venceu o exército de Asdrúbal Barca, em Bécula. No entanto, Asdrúbal conseguiu escapar e abandonou Espanha em direcção a Itália com o intuito de reunir-se ao seu irmão Aníbal. A partida do seu exército significou para os Romanos o sucesso definitivo da campanha em Espanha. Cartago perdera, irremediavelmente, as suas possessões ibéricas para os Romanos, que as anexou e aí fundou novas províncias (Terragona no litoral e Bética no interior). Os Romanos desenvolveram e aumentaram as explorações mineiras dos Cartagineses que já eram gigantes (só em Cartagena as minas de prata empregavam 40.000 trabalhadores).
Após ter atravessado os Alpes sem ter encontrado qualquer obstáculo, Asdrúbal começou a descer o vale do Pó, onde novos recrutas gauleses elevaram o número dos seus efectivos para 30.000 homens. Em seguida os dois irmãos convergiram, com a intenção de juntar as suas forças.
Quanto aos romanos tinham um exército no Norte de Itália e outro no Sul. Entretanto os Romanos tiveram a sorte de interceptar um estafeta de Asdrúbal que lhes revelou o local, na Úmbria, onde a reunião das tropas dos dois irmãos teria lugar. Perante esta informação, o general romano que comandava o exército do Sul, subiu, durante 6 dias de marcha forçada, ao longo da costa adriática, até ao Metauro, rio da Úmbria. No dia seguinte pela manhã, Asdrúbal ouviu no acampamento romano um duplo toque, o que o levou a acreditar que os dois exércitos romanos se haviam juntado. Isto significava que ele se encontrava em inferioridade numérica de 10.000 homens. Num esforço desesperado para passar entre as duas linhas do exército romano e juntar-se ao irmão, atravessou o vale do Metauro depois do anoitecer, mas na obscuridade perdeu-se entre gargantas e ravinas escorregadias. Esta estratégia revelou-se um autêntico massacre: Asdrúbal e a quase totalidade dos seus homens pereceram.
Pela primeira vez desde o início desta longa guerra, os Romanos ganharam uma verdadeira batalha em casa. A derrota de Aníbal agora mais não era que uma questão de tempo. O general cartaginês soube da morte de seu irmão quando a cabeça deste foi lançada para o seu acampamento. Aníbal retirou-se para as montanhas do Bruttium (a ponta da bota italiana), onde permaneceu durante quatro anos.
Em 205 a.C., Cipião, coroado de glória pelas vitórias em Espanha foi eleito cônsul. Pediu então ao Senado autorização para invadir África e cercar Cartago. Os Senadores hesitaram temendo Aníbal que ainda se encontrava em Itália, mas acabaram por concordar. Cipião desembarcou no Norte de África com um exército de 30.000 homens, ao qual se juntou ainda  um monarca vizinho, o príncipe Masinissa, que reinava numa parte da Numídia e possuía uma  excelente cavalaria.
No ano seguinte, Aníbal regressa de Itália, onde combatera durante 15 anos. Cartago começara a negociar a paz com Roma mas Aníbal convence o governo cartaginês a interromper as negociações.
Cipião deslocou-se para o interior do país e, em 202 a.C., travou a batalha decisiva, perto de Zama, a 120 km de Cartago. A sua vitória era previsível e não espantou ninguém. No entanto, tendo em conta a grandeza dos generais que se confrontaram, este episódio ficará célebre. Quando a batalha começou nenhum dos protagonistas tinha clara vantagem sobre o outro. O desfecho acabou por estar ligado à acção dos cavaleiros Númidias, aliados de Roma, que conseguiram atingir os flancos da cavalaria inimiga e tomá-la pela retaguarda. A vitória romana foi total. Poucos cartagineses sobreviveram, mas Aníbal foi um deles. Aconselhou então o governo cartaginês a assinar a paz sem mais demoras, o que foi feito de imediato.
Os cartagineses que já tinham perdido Espanha, com esta derrota perderam também o seu lugar de primeira potência. Os Romanos tinham chegado à segunda fase da expansão: o resultado da Segunda Guerra Púnica garantiu-lhes, popr vários séculos, o domínio do Mediterrâneo Ocidental. Para a Europa Ocidental, este conflito foi a guerra mais importante da sua história, até ao Séc. XX.
Cipião teve um papel fundamental em todas as fases destes acontecimentos. A sua carreira provou que a época em que os dirigentes romanos não passavam de representantes mais ou menos anónimos, de um corpo tinha terminado. Cipião era um fenómeno. Ao contrário da maior parte dos romanos, era individualista e tinha espírito aventureiro. Foi o primeiro general romano designado pelo nome do país que havia vencido: Africanus. O seu triunfo deu-lhe um poder que até aí nenhum general romano tinha alcançado.
Quanto a Aníbal, foi melhor general que seu pai e o próprio Cipião. Será recordado como um dos maiores chefes militares da História. Não foi só o seu talento militar de guerreiro excepcional mas também a sua personalidade que seduziu os historiadores ao longo das épocas.
Roma saiu reforçada da batalha suprema mas, paradoxalmente, é a Aníbal que Roma deve o crescimento da sua confiança e do seu poder.





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