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05/07/10

Peça Luís Vaz de Camões - Festa de fim de ano de Literatura Portuguesa

Os descobrimentos constituíram simultaneamente uma das causas e consequências do Renascimento e incutiram no Homem uma confiança maior em si próprio, contribuindo para a sua valorização pessoal e para o seu saber baseado na experiência.

Apesar de instituída a inquisição em Portugal e da censura aplicada pelo tribunal do Santo Ofício, Homens gravaram o seu nome e a sua obra na História Literária Portuguesa.

Um deles, poeta do séc. XVI, de todos o maior, viajante, letrado, humanista, trovador e fidalgo esfomeado, tendo numa mão a pena e noutra a espada, resumiu toda uma civilização do seu tempo com vibração emotiva e permanente lucidez.

Melhor que ninguém, descreveu com angustiada reflexão os desencontros e a dramaticidade dos sentimentos humanos.

Eis Luís Vaz de Camões!!!

(Camões está sentado como que escrevendo...)

(Chega alguém...)

(Amigo)
-Como tendes passado Luís Vaz? Pareceis abatido... Desgostos de Amor?

(Camões lê:)
De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro;
Belo rosto por quem morro
Onde mereci eu tal pensamento
Nunca de ser humano merecido?

(Amigo)
-Ora, Ora, Luis Vaz, tudo passa...
Amanhã é outro dia!

(Camões)
- É verdade, amigo, contudo

Amor não se rege por razão;
Não posso perder a esperança
Forçado é que eu espere e viva

(Camões continua suspirando e diz:)
Os suspiros que em vão entrego ao vento,
Paga-mos quem mos causa em desenganos;

(Amigo)
- Vá lá, coragem, um homem com a tua visão e o teu humor... o tempo tudo cura!

(Camões)
Tem o tempo sua ordem já sabida.
O mundo, não; mas anda tão confuso
Que parece que dele Deus se esquece

Quando a suprema dor muito me aperta,
A vontade livre desconcerta
Mostrando que é engano ou fingimento
Dizer que em tal descanso mais se acerta.

(Pausa, suspirando...)
Já tempo foi que meus olhos folgavam
De ver os verdes campos graciosos;
Foi tempo que nos bosques me alegravam
Os cantares das aves saudosos.

(Amigo)
-Dedica-te à tua arte! Ninguém te iguala, Luís Vaz... Conta as tuas aventuras, as tuas descobertas...Um Homem de tanto saber e tamanha experiência como tu não se pode abater!

(Camões)
No Mundo, poucos anos e cansados
Vivi, cheios de vil miséria dura;
Corri terras e mares apartados, Buscando à vida algum remédio ou cura.

Esforço grande, igual ao pensamento;
E desfeitos depois em chuva e vento

(Amigo)
Mas escuta Luís Vaz, quem produz uma obra-prima com 10 cantos, 1.102 oitavas e 8.816 versos, onde tu retratas maravilhosamente o mundo e pedaços da História de Portugal... Tu Luís Vaz serás lembrado como o maior humanista do renascimento. Tempos virão em que o teu nome e a tua obra serão honrados.

(Camões)
- Ah, sim? Achas? Se os meus humildes versos podem tanto...

Estranha ousadia! Estranho feito!
Quanta incerta esperança, quanto engano!
Quando viver de falsos pensamentos,
Não haja em aparência confianças.

(Camões pergunta)
-Eu? Camões? Nome e Obra honrados?! Talvez...

Não me falta na vida honesto estudo
Com longa experiência misturado
Nem engenho que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente...

2009, Dr.ª Ana Paula Domingues

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